A Universidade Goethe de Frankfurt apresentou nesta segunda (10/7) uma queixa criminal contra os 22 ativistas que desde o dia 29 ocupavam o prédio da antiga Tipografia Dondorf, no bairro Bockenheim em Frankfurt, na Alemanha.
Moradores do bairro, ativistas e estudantes ocuparam o local em protesto à demolição do prédio público segundo os planos do Instituto Max-Planck para dar lugar ao Instituto de Estética Empírica. A partir de novembro, a propriedade do prédio da tipografia deverá ser transferida da universidade para o instituto.
Durante a desocupação, formou-se uma manifestação espontânea com cerca de 100 pessoas, e após o ocorrido e atendendo a convocações este número aumentou para cerca de 500 simpatizantes e apoiadores do movimento.
O movimento deixa claro o desinteresse da administração pública com os interesses e as necessidades da população também e em especial nesta cidade alemã, sítio da segunda maior bolsa de valores da Europa, sede do Banco Central Europeu, e um dos principais centros financeiro e comercial da Europa. O bairro de Bockenheim é central e nasceu do desenvolvimento industrial do séx. XIX, sendo o prédio da tipografia Dondorf um dos últimos representantes dessa fase da história e muitas outras que vieram posteriormente. A partir da década de 70 passou a ser utilizado pela Universidade Goethe para o curso de Pedagogia da Arte, ficando então ocioso com a transferência de cursos do Campus Bockenheim para o Campus Westend.
Segundo Gianna, membro do grupo “Die Druckerei”, o movimento reivindica o espaço para fins sócio-culturais e não-comerciais. Ela denuncia que as pessoas em Frankfurt sofrem pressão devido aos aluguéis altos e ameaças de despejo. Outros ativistas reivindicam o espaço para um centro cultural com administração própria, para aqueles que sentem a necessidade de se expressar livremente e não têm condições financeiras de fazê-lo e outros reivindicam até mesmo, pasmem, um espaço aberto como um ponto de encontro para os moradores da vizinhança.
Para a maioria da imprensa alemã a polícia esteve no local e a desocupação teria ocorrido de maneira pacífica, sendo poucos os ocupantes que tiveram que ser carregados.
Mas não é isso que verificamos nos depoimentos e imagens encontrados.
Outro membro do “Die Druckerei“ denuncia tratar-se de um despejo dentro de uma universidade cuja direção não respeitou suas próprias resoluções mais básicas, de que a universidade seria um local de discurso não violento. A violação começa por aí, quando se quer valer os interesses de sua atual administração com o uso da repressão policial.
A violência também se mostra com a intimidação pelo número de policiais e como eles estavam equipados, e com a coleta dos dados dos ativistas. Chegaram às 6h45 da manhã de quarta-feira, e no perfil Protestfotografie.Frankfurt do Twitter são feitas várias denúncias mal mencionadas na imprensa tradicional alemã: portas foram arrombadas, ocupantes foram arrastados para fora da cama sob a mira de uma arma, um deles denuncia ter sido detido também com a arma apontada. “Não me deixaram beber nem ir ao banheiro“, denuncia.
O caso da ocupação da tipografia Dondorf denuncia o que acontece em qualquer lugar do mundo: a repressão e criminalização tem como função proteger e fazer valer os interesses da burguesia, mesmo que em detrimento de suas próprias regulamentações, mesmo que em detrimento dos interesses mais elementares da população.
Resta saber agora quais intimidações a justiça burguesa poderá, de maneira mais „discreta“ e mais sigilosa que a que a truculência policial, impor para os membros da ocupação.