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Foro de S. Paulo

“Exigimos a retirada dos EUA de nosso país”, diz delegado da JUCO

"Os Estados Unidos pretendiam instalar uma nova base militar na Colômbia, algo que foi rejeitado", diz representante da juventude comunista da Colômbia

Secretário-Geral da Juventude Comunista Colombiana (JUCO), Kevin Siza Iglesias representou sua organização no Foro de S. Paulo, ocorrido entre os dias 29 de junho e 2 de julho, evento para o qual também foi convidado o Partido da Causa Operária e este Diário Causa Operária (DCO). Aproveitando a realização do evento, os jornalistas do DCO conversaram com o dirigente da juventude comunista da Colômbia.

DCO: Qual é a importância do Foro para a juventude colombiana?

Kevin Siza Iglesias: O Foro de São Paulo representa para as organizações de esquerda, para os setores democráticos e revolucionários do continente, um exemplo de unidade, articulação e coordenação na diversidade em prol do que nos une. Todo o trabalho realizado pelo Foro desde a sua fundação até hoje tem nos permitido avançar na consolidação de projetos democráticos e de esquerda em muitos dos nossos países, transformando as condições políticas, sociais e econômicas. Grande parte dos resultados alcançados na primeira onda do progressismo latino-americano, iniciada no final dos anos 1990 e continuada ao longo da primeira década deste século, foi possível graças aos esforços do conjunto de organizações que historicamente integramos o Foro.

Para a juventude da América Latina e do Caribe, especialmente a juventude colombiana, o Foro tem sido um espaço que nos permitiu aprender com as experiências de outros países. No caso da Colômbia, nunca tivemos antes a possibilidade das forças alternativas democráticas e de esquerda terem acesso ao exercício do governo ao nível nacional. E justamente, digamos, nessa segunda onda do progressismo latino-americano, o movimento jovem, o movimento estudantil, foram condições que possibilitaram o exercício de mobilização e o desenvolvimento de processos de rebeliões sociais e populares, de explosões sociais que precederam as vitórias eleitorais que nos colocam atualmente em uma segunda onda do progressismo e da esquerda, permitindo reconfigurar o panorama geopolítico da nossa América e abrir janelas de oportunidade para continuar avançando nos processos de transformação da sociedade e dos nossos Estados.

O Foro de São Paulo, portanto, representa para nós, digamos, um farol, uma referência na elaboração, na análise e na unidade das nossas forças de esquerda e democráticas do continente para avançar na integração da nossa região, de modo que a América Latina e o Caribe participem e se insiram com voz própria no cenário internacional. Principalmente agora, quando estamos passando por um processo de transição no sistema internacional em direção à multipolaridade, no qual a América Latina pode se consolidar como outro polo de poder em igualdade de condições com outros polos em diferentes regiões do mundo. Então, isso é muito importante.

DCO: Você comentou ontem na reunião da juventude sobre a extrema-direita colombiana, a mais violenta na América Latina. Como você enxerga o problema da extrema-direita na Colômbia atualmente?

Kevin Siza Iglesias: A direita colombiana tem sido uma direita criminosa, gângsters mesmo, que exercem o poder e a dominação política através do desenvolvimento de uma suposta legalidade, porém combinada com o uso da violência política contra os setores populares, democráticos e de esquerda do país. Infelizmente, ao longo de toda a história republicana da Colômbia, a violência tem sido um elemento presente em cada uma de suas etapas. Guerras civis no século XIX. Iniciamos o século XX com uma guerra entre conservadores e liberais. A década de 1940, um período conhecido como “La Violencia“, que antecedeu o atual conflito social, político e armado, que já dura mais de 60 anos. Isso tem causas estruturais, digamos. O conflito social, político e armado na Colômbia tem causas estruturais que estão principalmente relacionadas à excessiva concentração de terras, à distribuição desigual da riqueza, à injustiça social e, evidentemente, à desigualdade que existe em muitos territórios e que tem sido perpetuada através do uso permanente da violência. De fato, em nosso país, ocorreu um genocídio político generalizado e contínuo contra comunistas, que custou a vida de mais de 5 mil militantes, dois candidatos presidenciais, quase 20 congressistas, centenas de vereadores e prefeitos, entre as décadas de 1980, 1990 e até mesmo parte dos anos 2000.

Isso levou a Corte Interamericana de Direitos Humanos a condenar o Estado colombiano recentemente por violar as garantias, os direitos à vida e integridade dessa organização política que os comunistas colombianos ajudaram a construir.

Hoje, digamos, estamos em um novo e inédito processo. As forças democráticas e de esquerda se uniram em uma grande aliança chamada Pacto Histórico.

Devemos destacar, no entanto, que os setores da classe dominante, o bloco de poder dominante em nosso país, ainda mantêm o controle de parte importante das instituições do Estado. O Poder Judiciário também exerce um controle significativo, assim como o Congresso da República e outras instituições do Estado. Eles também mantêm o poder econômico, o que chamamos de poder permanente.

Hoje, esse poder está permanente tentando impedir o avanço das reformas sociais pelas quais mais de 8 milhões de colombianos votaram no primeiro turno e que levaram à vitória eleitoral de Gustavo Petro e Francia Márquez no ano passado, com 11 milhões de votos. Estamos atualmente no desenvolvimento de um processo de golpe “suave”, principalmente no Congresso da República, uma ação política que visa impedir a discussão de projetos de lei de reformas sociais, como a reforma trabalhista, a reforma da saúde e a reforma da previdência, as prioridades que estão sendo impulsionadas pelo governo neste momento.

Evidentemente, isso se combina com o desenvolvimento de uma guerra jurídica por parte do Judiciário e uma ofensiva por parte dos meios de comunicação da direita, que tentam retratar uma situação de ingovernabilidade em nosso país, uma espécie de caos institucional que pretende se estabelecer na opinião pública e, em última análise, deixa aberta a possibilidade de um golpe militar, que não pode ser descartado, principalmente porque as Forças Militares ainda mantêm a doutrina da segurança nacional, que considera todos os setores democráticos e de esquerda como o inimigo interno a ser derrotado. Então hoje se segue desenvolvendo, infelizmente, o conflito armado.

Estamos avançando no processo de construção da paz total por meio de diálogos com várias insurgências. Essa luta pela paz nos custou, por exemplo, em termos de números, mais de 1,3 mil líderes sociais assassinados desde a assinatura do Acordo de Paz em 2016 até hoje. E custou, infelizmente, a vida de mais de 380 ex-combatentes das FARC que foram signatários do Acordo de Paz.

Hoje, podemos dizer com segurança e contundência que há um novo genocídio político em andamento contra os ex-guerrilheiros que estão tentando se reintegrar à vida política, social e econômica de nosso país, estamos comprometidos com esse esforço. Sabíamos que não seria fácil chegar ao governo. Sabíamos que executar o programa de mudanças e reformas sociais que construímos em unidade entre os diferentes setores não seria fácil. E, é claro, nosso povo está permanentemente mobilizado em defesa do governo, em defesa das reformas sociais, mas acima de tudo visando construir o poder popular como a única garantia para concretizar o programa e aprofundá-lo em uma perspectiva estratégica de mudança de maior alcance.

DCO: Você comentou sobre o golpe vindo por parte do Judiciário. Como isso tem funcionado na Colômbia?

Kevin Siza Iglesias: A Procuradoria-Geral da Nação está sob o controle da extrema-direita, do uribismo. O setor político do ex-presidente Álvaro Uribe Vélez tem Francisco Barboza, que está usando atualmente a Procuradoria para iniciar processos judiciais contra líderes de esquerda, não apenas do Estado, mas também dos movimentos populares.

DCO: Com acusações…?

Kevin Siza Iglesias: Acusações de corrupção e etc. Digamos que têm a ver com diferentes aspectos, mas isso se combina com o uso do poder disciplinar do Estado, da Procuradoria-Geral da Nação, responsável por zelar pela defesa dos direitos humanos e também por investigar servidores públicos que cometem condutas contrárias à lei. Estão usando o poder disciplinar do Estado para punir e cassar líderes de esquerda e líderes populares, e isso se combina com uma feroz ofensiva midiática do poder constituído para destruir a imagem e a moral dos líderes e, é claro, de suas organizações. Felizmente, em breve, no próximo ano, haverá uma troca de Procurador-Geral da Nação. Hoje, temos uma procuradora. Essa mudança vai permitir, esperamos, avançar em um processo que nos permita superar essa situação.

DCO: Qual a contribuição dos EUA para essa crise? Tanto na caçada contra a esquerda e também no golpe judicial, você acha que existe uma intervenção direta do imperialismo nesse processo?

Kevin Siza Iglesias: Certamente o governo, liderado pelo presidente Petro, propôs um novo tipo de relação com os Estados Unidos, relações que superem a subordinação que caracterizou as relações entre nosso Estado e os norte-americanos ao longo de toda a nossa história republicana, e falar em termos de igualdade.

Por exemplo, os Estados Unidos pretendiam instalar uma nova base militar na Colômbia, algo que foi rejeitado pelos movimentos populares, pelos partidos de esquerda e, é claro, pelo Presidente da República. Estamos exigindo a retirada das sete bases militares ainda mantidas pelos Estados Unidos e a possibilidade de exercer o controle total e integral de nossa soberania. Sabemos que as novas relações propostas com os Estados Unidos estão relacionadas, em primeiro lugar, com a questão das mudanças climáticas, que o presidente Petro considera de grande importância.

Em segundo lugar, o tratamento das drogas e do narcotráfico, principalmente, superando a guerra às drogas imposta pelos Estados Unidos como mecanismo de enfrentamento desse problema, que é um fenômeno social, e evidentemente, carece de um tratamento diferente.

Além disso, é claro, a Amazônia tem uma importância central, digamos, como um tema estratégico para a nossa América e também para o mundo, mas nesse sentido, nosso governo reivindicou que os principais países dos centros imperialistas, como os Estados Unidos, têm uma grande responsabilidade nisso. Fizemos, por exemplo, a proposta às grandes potências, especialmente aos Estados Unidos, de trocar a dívida externa por reflorestamento da Amazônia. Portanto, hoje estamos em um novo momento nas relações com os Estados Unidos. É claro que eles ainda mantêm a intenção de dominação sobre a região, sobre nosso país, e é claro que hoje, em coordenação com alguns setores políticos, especialmente a extrema-direita em nosso país, estão tentando posicionar a possibilidade de combinar tanto o golpe suave quanto, não se descarta, principalmente por setores militares, das reservas militares, a possibilidade de um golpe mais maduro, não tão suave.

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