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DCO no Foro de São Paulo

“Na Venezuela ninguém mais acredita em fake news”, diz reitora

Diaz destaca a eficiência do estudo da comunicação para combater as manipulações da imprensa golpista pró-imperialista

Em Brasília, durante o XXVI encontro do Foro de São Paulo, o Diário Causa Operária entrevistou também Tania Diaz, diretamente da Venezuela. Parlamentar pelo PSUV, a venezuelana é também reitora da Universidade Internacional de Comunicação. Tania esteve presente no Foro e conversou com os jornalistas do Diário Causa Operária sobre o projeto de uma escola superior de comunicação para enfrentar as falsificações da imprensa golpista.

Diário Causa Operária (DCO): De onde surgiu e como funciona a Universidade Internacional de Comunicação?

Tania Diaz: Bem, surgiu dos encontros 2018 e 2019 do Foro de São Paulo. Nessas reuniões, havia uma pergunta recorrente que voltou à edição XXVI: como os povos podem se defender diante da estratégia deliberada do Ocidente de querer impor um modelo único de pensamento sistêmico?

Por meio das redes sociais, do uso da tecnologia e da dependência que desenvolvemos da tecnologia, principalmente a partir da pandemia, eles têm um terreno fértil para conquistar nossas mentes e corações, como confessou a OTAN em sua reunião em Madri no ano passado.

Isso levou ao questionamento sobre como nos defenderíamos. Então, entre todos os movimentos participantes do Foro de São Paulo que se reuniram na Venezuela em 2019, de mulheres, de camponeses, de trabalhadores e de afrodescendentes,  houve um de comunicação. Isso levantou a necessidade de criar redes populares de comunicação.

Entre as propostas, surgiu a ideia de criar uma universidade que não se limite apenas à formação e a revelar a estratégia de agressão cultural do inimigo. Ela também seria um ponto de encontro e um espaço para a troca de conhecimentos, além de fornecer um ambiente para debater, redesenhar e apresentar ideias que estão surgindo neste lado do mundo. É importante mencionar Fernando Abad, um dos nossos pilares teóricos, que tem se dedicado a essa tese há muito tempo. Nosso objetivo principal é buscar uma comunicação capaz de expressar a demanda e a criação heroica dos povos latino-americanos.

No momento, estamos em processo de construção da universidade e ainda não temos um projeto definitivo. Começamos na Venezuela por duas razões. Primeiro, tivemos a oportunidade de discutir esse assunto com o comandante Chávez, o que resultou na ideia inicial que, ao longo do tempo, se desenvolveu até se tornar a universidade. Segundo, durante o encontro internacional de comunicação em 2019, fomos contatados pelo presidente Nicolás Maduro, que nos pediu para redigir o projeto para que ele pudesse assiná-lo na Plenária de Transformações no dia seguinte. Começamos então esse projeto na Venezuela, que já está em desenvolvimento em termos de definição de conteúdo.

Nossos debates se concentram em linhas estratégicas específicas, como defesa cognitiva, operações psicológicas, comunicação com perspectiva decolonial e enraizada. Além disso, temos linhas de pesquisa avançadas, com potencial para se tornarem estudos. Planejamos oferecer mestrados e doutorados, pois nossa universidade é voltada para pesquisa e pós-graduação. Viemos ao Foro visando convidar colegas de diferentes países, partidos e correntes de pensamento para se juntarem a nós nesse empreendimento.

Além disso, temos duas propostas iniciais para os partidos do Foro. A primeira é a certificação de conhecimentos, direcionada aos profissionais da comunicação que estão atualmente atuando no campo. Essa certificação leva em consideração a experiência acumulada ao longo dos anos. Observamos que há profissionais talentosos em vários meios de comunicação que não possuem certificação. Desenvolvemos um método que valoriza o conhecimento prático e o complementa com orientação acadêmica, conforme estabelecido em um dos nossos programas.

A segunda proposta é um curso de Comunicação Política, que oferece uma formação inicial para aqueles que desejam se engajar nessa área. Esse curso é estruturado com base na experiência venezuelana, mas estamos abertos para incorporar lições e conhecimentos de outras realidades. O curso abrange quatro módulos: liderança social e humanista, habilidades avançadas em produção de conteúdo para redes sociais, participação protagonista na produção de conteúdo e comunicação de rua. Nosso objetivo é fornecer uma combinação teórico-prática que possa ser aplicada na prática comunicativa.

Esses dois projetos estão abertos para os partidos do Foro e também para pessoas interessadas em nossa área de atuação. Além disso, temos linhas de pesquisa em andamento. Por esse motivo, trouxemos uma plataforma tecnológica que estamos treinando e que pode ser acessada facilmente. Forneceremos um folheto com informações sobre como se inscrever na plataforma e convidamos todos os movimentos a participarem. A partir daí, começaremos a trabalhar juntos. Essa é a situação atual da nossa universidade.

DCO: Como é a experiência que vocês têm na Venezuela, quais são os resultados práticos obtidos?

Tania Diaz: É por isso que afirmamos que é um espaço de encontro. Tanto no curso quanto na certificação de conhecimentos, contamos com a participação de diversas pessoas. Temos inclusive estudantes internacionais e já formamos alguns deles. Recentemente, uma brasileira se juntou a nós, após concluir seu curso em Honduras. Também temos estudantes da Guatemala, República Dominicana, Peru e uma colega de outro país. Dessa forma, reunimos experiências diversas.

Na conjuntura venezuelana, vivenciamos intensamente o desenvolvimento do projeto. Nossa equipe é composta por pessoas de diferentes idades, desde jovens até indivíduos mais velhos. Além disso, temos membros que trabalham em empresas estatais e outros provenientes de meios de comunicação comunitários. Durante as quatro semanas em que participamos do curso, tivemos acesso a uma fonte extremamente rica para estudar o fenômeno venezuelano, que desempenha um papel fundamental em nossas atividades.

Um aspecto importante a ser destacado é a relevância da comunicação política. Esse tema tem sido abordado de forma enriquecedora. Portanto, estamos em processo de sistematização, pois partimos do princípio de que nosso trabalho não se resume apenas a revelar e denunciar as estratégias do inimigo. É imprescindível que também demonstremos, observemos, sistematizemos e teorizemos sobre a nossa própria defesa. Afinal, o inimigo age intencionalmente, como quem diz: “Olha, você já perdeu tudo e vou impor uma guerra cognitiva, como se diz, e vou reconfigurar seu cérebro e desmantelar sua identidade.” Empobrecimento superficial da verdade, procurando desestabilizar nossas identidades e substituir a verdade por uma subjetividade líquida, pautada no consumismo, hedonismo e individualismo. Embora isso possa gerar medo e insegurança, é importante ressaltar que essa não é a verdade. Caso contrário, eu não elegeria o presidente da República e não estaríamos aqui celebrando o Foro no Brasil novamente.

Existe uma realidade alternativa, que tem historicamente sido o cenário do desenvolvimento dos povos e que muitas vezes não é considerada. É exatamente nessa perspectiva que baseamos nossa tarefa e trabalho contínuos. No entanto, é importante destacar que nosso projeto está sempre em construção. Quanto mais pessoas se juntarem a nós e lutarem pela emancipação dos povos, melhores serão os resultados alcançados.

DCO: Vocês falam em comunicação em um sentido amplo, não é? Tanto de agitação, de esclarecimento e de informação, mas também no sentido de valorização e de preservação das culturas, nossas identidades contra essas iniciativas do imperialismo.

Tania Diaz: Precisamos adquirir conhecimento sobre as técnicas de manipulação utilizadas, não com o intuito de manipular, mas sim para compreendê-las. Atualmente, a comunicação vai além da simples transmissão de informações, envolvendo histórias dramatizadas. É fundamental que saibamos distinguir entre o que é real e o que é falso. Hoje mesmo, terminei uma conversa fantástica com uma colega que defendeu a Embaixada da Venezuela aqui, ao lado de Paulo Pimenta, o atual ministro da Comunicação do Brasil. Não temos a intenção de manipular ninguém, esse não é o nosso objetivo.

É por isso que enfatizamos essa criação heroica dos povos e, consequentemente, solicitamos que direcionemos nosso olhar para esse aspecto, pois é lá que reside a essência de tudo. Aqui, algumas pessoas dizem coisas como: “Você vai se tornar um comunista”, “Você vai se assemelhar à Venezuela”, “Será como a Nicarágua”. No entanto, quando o presidente Lula veio aqui e declarou: “Tenho orgulho de ser chamado de comunista”, tudo mudou. Foi uma atitude simples que dissipou o véu da desinformação. É necessário desmistificar as questões e começar a promover a nossa própria forma de comunicação, aquela que representa os anseios dos povos. Essa foi uma das grandes lições que o comandante Hugo Chávez nos deixou. Como ele enfrentou os ataques midiáticos? Ele disse: “Bem, eu farei uma comunicação que seja do povo, com liderança política do povo ao longo de todo esse tempo.”

DCO: Um dos seus objetivos é justamente o de não ficar nas mãos dos meios de comunicação da burguesia, correto?

Tania Diaz: Mostramos um exemplo de notícia falsa envolvendo o presidente Maduro exposta antes da nossa da universidade. Isso pode ter impacto nos meios de comunicação, na opinião pública do Estado, mas na Venezuela ninguém mais acredita nisso, não importa. Eu explico e, se na Venezuela o presidente continua sendo Maduro, qual é a importância disso? Essa é a questão.

DCO: Vocês enxergam como fundamental estabelecer esse vínculo com a população?

Tania Diaz: É por isso que falamos em comunicação popular. Temos pessoas e emissoras que estão surgindo agora. Na Venezuela, agora poderemos abrir o debate sobre uma reforma da Lei de Comunicação Popular, que está em andamento. Se você quiser participar, posso te enviar o convite. Foi assim que surgiram as mídias. Surgimos depois do golpe midiático que sofremos e depois das redes sociais. Chávez disse: “Vou abrir minha conta no Twitter à meia-noite de hoje e vocês entrem lá. Aprendam a lutar também como se estivessem em uma tropa organizada. Ele via as coisas como um militar. Ele me disse: “Se aquela colina está nas mãos do inimigo, eu tenho que conquistá-la. Não vou ficar aqui dizendo: “Olha, ele tem a colina, eu te digo que sim”. E bem, nós fizemos isso e nas redes sociais, lá vamos nós. Mas, de fato, essa questão da comunicação popular está intimamente ligada à doutrina do Comandante, porque vem da união cívico-militar, do conceito de democracia participativa e protagonista, do conceito de organização popular, enfim, de toda a teoria da Revolução, que espero que chegue à Venezuela.

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