A deputada federal do PSOL, Erika Hilton, enviou petição à Câmara cobrando providências da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) para punir estudantes acusados de imitar macacos em provocação a atletas negros de time rival durante jogo de vôlei no campus de Sorocaba no último dia 21 de junho.
Segundo as informações do site Terra, “membros do Centro Acadêmico e da Atlética de Engenharia de Produção (CAEPS) imitaram macacos para jogadores negros da Associação Atlética Acadêmica de Economia e Administração (ECAD)”.
Não se sabe, portanto, quem fez as imitações. Quem seriam esses “membros” do Centro Acadêmico? São diretores ou estudantes isolados? Seria o racismo uma política direcionada do Centro Acadêmico? Com as informações até agora, fica difícil saber. A única coisa que as reportagens da imprensa burguesa destacam é uma necessidade de colocar a máquina repressiva contra esses supostos racistas. E é exatamente isso o que quer Erika Hilton.
O Centro Acadêmico fez nota pedindo desculpas, além de ter afastado dois membros acusados de terem realizado a imitação. A decisão é política e legítima se assim avalia o próprio Centro Acadêmico. Mas Erika Hilton quer, segundo anuncia a reportagem, a “identificação, responsabilização e punição dos perpetradores deste ataque racista”.
A parlamentar é de um partido que se afirma de esquerda, o PSOL. Há correntes no PSOL que chagam a se proclamar revolucionário, um partido mais radical e mais à esquerda do que o PT etc. A política de Hilton, no entanto, vai contra qualquer tradição da esquerda até mesmo moderada.
Normalmente a esquerda chama o povo a se mobilizar contra a direita, contra os ataques dos governos burgueses. Em suma, a esquerda sabe que sua única e verdadeira arma é a mobilização. Mais ainda, a esquerda deveria ser inimiga declarada de qualquer mecanismo estatal de repressão e perseguição.
Apenas para dar o exemplo das universidades. A tradição do movimento estudantil é lutar contra todos os mecanismos que visam controlar, perseguir, vigiar e expulsar os estudantes. Antes de mais nada o princípio é o de que a universidade precisa ser livre, que não deve haver interventores, que a comunidade universitária, democraticamente, deveria resolver suas questões.
Erika Hilton, pelo jeito, não sabe de nada disso. O negócio dela é pedir para que algum órgão de burguesia interfira na UFSCar e faça a reitoria (que normalmente também é um mecanismo contra os estudantes) punir os supostos imitares de macaco.
E por que isso acontece? Há a explicação política: esses setores identitários não são verdadeiramente de esquerda, são orientados pela política do imperialismo, ou seja, do setores mais poderoso e repressivo da burguesia mundial.
Mas isso revela também a política oportunista do PSOL. O partido, que nunca foi verdadeiramente de militantes, tornou-se definitivamente um partido controlado por parlamentares. Do seu gabinete climatizado no Congresso, Eika Hilton só posa de “militante mulher-negra-trans-lésbica” e podemos acrescentar todas as chamadas “opressões” que servem muito bem para fazer demagogia, aparecer como grande lutadora e ganhar votos na próxima eleição. De lá, ela se sente poderosa, ou melhor, “empoderada”, e pode acionar os mecanismos de repressão estatal a hora que quiser, contra o que ela considera seres inferiores, nesse caso, pessoas que alguém disse a ela que imitaram macacos.
O cargo de deputada não dá a ela todo esse poder. É uma ilusão. Amanhã, quando o imperialismo descartar o apoio aos identitários, poderá ser ela a vítima desse mecanismo repressor.
Fica claro o veneno que o identitarismo representa para o movimento negro e popular em geral, tanto ideologicamente quanto politicamente. No primeiro caso, é a incorporação de ideia ultra-reacionárias e no segundo a ilusão de que os problemas dos negros serão resolvidos pelos seus maiores inimigos, o aparelho repressivo do Estado capitalista.
Diante desse fato, qual deveria ser a ação da esquerda? Chamar os estudantes, em particular os negros, a combaterem os racistas politicamente, inclusive, se necessário, indo às vias de fato. O que a esquerda não faz é chamar a reitoria, que é uma verdadeira máquina de perseguição, para processar alguém pelo que falou ou deixou de falar.