Hinos nacionais são músicas cívicas escritas para enaltecer nações. O hino mais antigo do mundo é um poema Japonês chamado Kimigayo (Reino de Sua Majestade), escrito no século IX e usado dez séculos depois como hino nacional do Japão Imperial. Os hinos, em sua maioria, retratam glórias e desejos de prosperidade à nação. São odes à história de lutas e conquistas. Assim, é o Hino Nacional Brasileiro.
A história do nosso Hino Nacional não começa com a letra de Joaquim Osório Duque-Estrada e nem com a música de Francisco Manuel da Silva, duas personagens importantes na trajetória deste símbolo. Há registros que o “Hino ao Rei”, única música patriótica de Portugal trazida ao Brasil Colônia pela Família Real, foi substituído por outro, escrito em virtude da vitória sobre os franceses no primeiro século da colonização portuguesa das terras Tupiniquins. Este Hino, por sua vez, foi substituído por outro escrito por D. Pedro I para aclamar o Regime Constitucional em Portugal em 1821. Este Hino foi entoado no Brasil sem qualquer oficialização.
A história segue com várias tentativas de escrita de um Hino Nacional. Teve hino alusivo à Abdicação de D. Pedro I em 7 de Abril de 1831; a composição publicada no Jornal “7 de Abril” por Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva em 1833, com ares republicanos, agressivo aos portugueses e que conclamou uma integração nacional do “Amazonas ao Prata” e a volta da composição feita por D. Pedro I. Em 1889, abriu-se um concurso para o hino e em 1990, a música, sem a letra, é oficializada. Só em 1909, a letra proposta por Osório Duque-estrada foi escolhida em um novo concurso para acompanhar a música. Ainda assim, depois de muitas modificações pelo autor, a letra do Hino Nacional ficou completa apenas em 1922.
Depreendem-se da trajetória do nosso Hino Nacional os esforços para cravar o ideal de nação a partir das suas conquistas e desejos para o povir. A escrita de uma letra foi campo de adoração e de protestos, mas, todos fincados na história do país. O nosso Hino Nacional reflete percursos que marcam a constituição do povo brasileiro. É forte a descrição da natureza, das riquezas, do solo e da disposição de um filho não fugir da luta quando diante da mesma. É a tradução do que se espera de um país colossal como o nosso.
Em tempos recentes, o rechaço ao Hino Nacional por uma parte da população ficou evidente devido ao seu uso recorrente por compatriotas, em aberturas e fechamento de ações grotescas, como, por exemplo, a solicitação da volta da Ditadura Militar. Por estes grupos, o patriotismo foi evocado através do Hino Nacional, o que é correto, dada a essência da composição. No entanto, o verdadeiro clamor da letra do hino traduzia-se como esperanças de um país diminuto, com justiça discriminatória e regalos para asseclas de determinada ideologia. Além de uma não compreensão, houve a deturpação do significado de nacionalismo prescrito nesse símbolo nacional.
O Hino Nacional é de todos os brasileiros! Isto posto, os ensinamentos a serem extraídos de uma música de pouco mais de 3 minutos de duração é a voz da história que nos trouxe até aqui. Lutas, levantes, contestações, inconformismos, dominação, escravidão, conquistas, bravuras e riquezas substantivam nossa nação de forma a retomar o sentimento uníssono de pertencimento que o hino traz. No contexto atual, mais do que desejar auscultar a história do Hino Nacional é preciso retomar sua simbologia e promover a convergência das gentes, das culturas, dos lugares, das raças e das crenças para um objetivo de nação que englobe todo o povo. Talvez tenha sido essa a mensagem do “brado retumbante”.
Artigo publicado, originalmente, em 17 de abril de 2023.