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Protestos na França

Macron intensifica sua ditadura

Extrema direita se faz presente combatendo a manifestação popular, auxiliando o aparato estatal na contenção dos protestos

Desde a segunda quinzena de junho, as ruas da França viram-se novamente tomadas pela revolta popular. Se, nos cinco primeiros meses desse ano de 2023 o estopim da revolta foi a reforma da Previdência do governo Macron, agora o que levou à explosão popular foi o assassinato de um jovem proletário de 17 anos de idade, Nahel Merzouk.

Conforme já relatado por esse jornal, o jovem foi assassinado pela polícia, que o alvejou a queima-roupa durante uma blitz de trânsito. Imediatamente ao acontecido, protestos irromperam na cidade de Nanterre, local do crime, e logo tomaram conta de toda a frança.

Os protestos foram capitaneados pela juventude francesa, em especial a juventude operária. Isto deu um caráter de profunda radicalização às manifestações, que contou com a destruição de prédios governamentais, em especial delagacias de polícia e prefeituras, incediados por todo o país. No dia 30 de junho, a prefeitura de Persona, no Val d’Oise foi incendiada. A delegacia de polícia municipal e o centro de controle urbano também foram destruídos. No mesmo dia, o centro administrativo de Nanterre (cidade onde ocorreu o assassinato de Nahel) também foi queimado. Em várias  outras cidades, foram registrados inúmeros bloqueios de rodoviais, assim como saques a supermercados, lojas de conveniência saques e, inclusive, a lojas de armas. Vídeos não confirmados mostraram manifestantes armados com rifles militares.

Em face da enorme radicalização da juventude, o governo de Emmanuel Macron mobilizou um efetivo de 45 mil policiais e gendarmes, a fim de reprimir os protestos, que expressavam a justa revolta imanente em toda população explorada da França.

Até o presente momento, há a noticia de mais de 2.000 prisões realizadas, o que mostra que, de fato, o Palácio do Eliseu não está medindo esforços em prol da contenção das mobilizações.

Contudo, a repressão já se expandiu para além do aparato do Estado Imperialista Francês. A extrema-direita já se mobiliza nas ruas.

No final de junho e no começo de julho, grupos fascistas foram filmados marchando nas ruas de Angers, Lyon,  Lorient, Chambéry, Saint-Brieuc em reação aos protestos populares pela morte de Nahel.

Em 30 de junho, milícia fascista agride manifestantes em Saint-Brieuc, com a conivência da polícia. No de 1º de julho, grupo fascista marchou em Chambéry, cantando “Azul, branco, vermelho, França para os franceses!“. No mesmo dia, cerca de 80 fascistas marcharam em Lyon, entonando o canto “Exterminar negros e árabes”. No dia 03, dezenas de fascistas são novamente flagrados patrulhando as ruas de Chambery. Há, inclusive, relatos de milícias fascistas armadas atuando em conjunto com o aparato de repressão estatal.

Ainda não se sabe com absoluta certeza se as mobilizações dos fascistas foram previamente coordenadas e financiadas pela grande burguesia, por pequeno burgueses ricos, ou se partiu espontaneamente de elementos da pequena burguesia mais arruinada e de setores do lumpenproletariado. É possível que tenha havido o financiamento e/ou coordenação, pois Marine Le Pen, e seu partido, se manifestaram frontalmente contrários aos protestos, dizendo inclusive para o governo conter a imigração anárquica. Se não coordenaram e/ou financiaram, certamente estimularam. Outra evidência disto é que Eric Zemmour, político da extrema-direita, e ex-candidato à presidência, deu início a uma campanha de arrecadação financeira em prol do policial que assassinou Nahel, campanha esta que já arrecadou cerca de US$1,5 milhão.

Independente de já haver ou não uma atividade coordenada por parte da grande burguesia, em prol de mobilizar a extrema-direita contra o povo, o que é possível afirmar com segurança é que a ação dos fascistas está sendo de fundamental importância para a burguesia conseguir conter a revolta popular.

Contudo, a repressão estatal e a possível mobilização da extrema-direta não estão sendo as únicas frentes de atuação da grande burguesia francesa, representada no governo Macron.

A burguesia está buscando insulflar a opinião da população francese contra a revolta popular da juventude operária.

Nessa última segunda (03), a Associação Nacional de Prefeitos convocou cidadãos a se mobilizarem contra os protestos populares, comparecendo às prefeituras locais. Na comuna de L’Hay-les-Roses, onde a casa do prefeito foi atingida por um carro em chamas, compareceram várias dúzias de pessoas à reunião na prefeitura.

Ainda no mesmo dia, Instituto da burguesia (Instituto Francês de Opinião Pública – Ipop) realizou pesquisas a fim de mostrar que a opinião popular está contra os protestos. 69% teriam condenado os incêndios e ataques a delegacias e propriedades públicas, em geral. 57% confiam ou simpatizam com a polícia. 32% disseram que os policiais os deixam com medo ou desconfortáveis.

Por mais que seja notório o fato de a burguesia manipular pesquisas, a tática do governo francês de mobilizar a opinião pública contra os protestos parece surtir algum efeito.

Mas não é só. A ditadura de Macron continua demonstrando que pretende lançar mão de novas medidas repressivas, a fim de conter por completo os protestos. Ontem (04), em discurso realizado perante policiais em Paris, diz considerar impor multas às famílias dos menores de idade que participarem dos protestos.

Uma medida completamente ditatorial e nazista! O representante dos banqueiros tenta punir manifestantes por atacado, sem ao menos ficar provado que eventual participante de protesto tenha causado algum dano a patrimônio público ou privado. Além disso, quer fazer com que a pena de uma pessoa seja transferia a outra. No caso, a pena dos filhos seja transferida aos país. E chamam isto de democracia!

Mostrando que é, de fato, um representante da burguesia, Macron avalia modificar a cobrança de impostos e contribuições sociais de empresas que teriam sido danificadas nos protestos e, em alguns casos, cancelar a cobrança.

Mas o ditador Macron não se contenta: hoje mesmo (05), em reunião com prefeitos de 200 cidades, Macron cogitou a possibilidade de restringir e até mesmo bloquear o uso de redes sociais, a fim de conter os protestos. Sugeriu a remoção de mensagens convocado os protestos, e a responsabilização criminal daqueles que estariam supostamente utilizando as redes sociais para organizar os protestos, os quais ele classifica como sendo atos ilegais.

Com toda a repressão estatal, a ação da extrema-direita e as manobras da burguesia e do governo Macron para jogar uma parte da população contra a outra, os protestos parecem, por ora, estarem arrefecendo. Contudo, ainda se deve continuar acompanhando o desenrolar da situação, pois não se sabe quando outro estopim irá trazer à superfície a revolta que está imanente na população explorada da frança.

Mas e os sindicatos, como se posicionaram? Em um cenário ideal, as organizações da classe operária deveriam ter intervindo apoiando os protestos, e guiando-os para fazer avançar a luta de classes. Contudo, há divisão entre as principais centrais sindicais francesas: vemos um apoio fraco parte da CGT, CFDT e da FSU, que denunciaram a violência policial, em especial o uso das armas, além do racismo na polícia, pedindo por uma revisão da filosofia de manutenção da ordem. Contudo, não manifestaram apoio incondicional aos protestos. Por sua vez, a UNS, a FO e CF-CGC, outras confederações sindicais, ou se omitiram, ou declararam que não iriam se manifestar sobre os protestos, por se tratar de uma questão política, não sindical. Coincidentemente (ou não), tais confederações tem muitos membros entre os sindicatos da polícia, segundo informação da imprensa imperialista francesa.

Ainda sobre os sindicatos, cumpre apontar algo. Nas manifestações contra a reforma da previdência, as centrais sindicais estavam, em certo sentido, unificadas em convocar os protestos. Embora as manifestações, a partir de certo momento, tenham ultrapassado as direções sindicais, o governo Macron aproveitou da política capituladora dessas direções para manobrar com o movimento, fazê-lo refluir e acabar conter as manifestações. Em suma, a burocracia sindical foi fundamental para impedir que as reformas contra a previdência dessem um salto em qualidade e se tornassem mobilizações de caráter revolucionário.

Contudo, os presentes protestos não foram convocados pelas centrais. Foram protestos espontâneos que partiram de uma juventude operária, profundamente revoltada. Assim, o Palácio do Eliseu não pode contar com a burocracia sindical para conter o movimento, que adquiriu caráter insurrecional muito rapidamente. Por esta razão, precisou recorrer às milícias da extrema-direita, para auxiliar na repressão.

Diante de todo o exposto, conclui-se que o governo Macron, com estas mobilizações, se deslocou mais ainda à direita, aprofundando seu caráter ditatorial. Lançou mão de todo o aparato repressivo estatal para a contenção dos protestos. Não foi suficiente. Precisou, portanto, jogar parte da população francesa contra a outra, que é um processo que ainda está em andamento. E, não apenas isto, mas também recebeu de braços abertos a intervenção de milícias fascistas (isto se não esteve por trás, coordenando as mesmas, que é algo que o tempo dirá).

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