Dando continuidade à 48º Acampamento de Férias, promovida pela Aliança da Juventude Revolucionária (AJR), cujo tema é “O que é o Marxismo e o que não é”, nessa terça-feira (4) ocorreu a segunda aula do curso.
Novamente ministrada pelo companheiro Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO), a temática a aula foi “A Concepção Materialista da História”.
Foi explicado que a concepção marxista a respeito da história da sociedade humana foi desenvolvida por Marx e Engels através da crítica ao que mais havia de avançado no pensamento humano da época, dentre o qual se encontrava a concepção materialista do mundo, da filosofia dos séculos XVI, XVII e XVIII e a dialética hegeliana.
Marx e Engels reconheciam a natureza revolucionária da dialética, segunda a qual nada na realidade era estático, eterno, permanente, mas tudo estava em eterno movimento e desenvolvimento. Contudo, a dialética de Hegel era idealista; entendia que o desenvolvimento da realidade era condicionado ao desenvolvimento das ideias. Portanto, ela estava de cabeça para baixo, necessitando ser colocada de pé. Para isto, uniu-se o materialismo à dialética, dando origem ao materialismo dialético, ou seja, à concepção materialista da história, teoria científica desenvolvida por Marx e Engels, que resultou na completa superação da filosofia em si.
Vejamos o que disse Rui:
“A filosofia de Hegel havia se transformado em filosofia oficial do Estado prussiano, que é onde os ideólogos do Estado exploravam os aspectos mais conservadores da filosofia hegeliana. O que indicaria, na parte de Hegel, da santificação do Estado prussiano, que era o Estado absolutista, retrógrado ao extremo. Então, a oposição se apoiava também em Hegel, usando o seu método, e opunha o método às conclusões que ele havia tirado da sua filosofia. O método em questão seria a dialética. […] Marx e Engels fazem um a crítica bem detalhada disso nesse texto e, com isso, sentam as bases fundamentais do marxismo. Aqui, tem o primeiro problema que temos que considerar, que é o seguinte: essa crítica de Marx e Engels À filosofia dos jovens hegelianos não é uma crítica filosófica, digamos assim. Na verdade, é uma crítica que aponta para a superação completa da filosofia. Se formos analisar, […] vamos ver que eles consideram que a filosofia já havia cumprido todo o seu papel progressista e haveria de ser substituída por uma metodologia científica. Com isso, eles sentam as bases para constituir uma ciência de características objetivas. Esse problema é um problema muito importante para a nossa preocupação porque, se formos observar todo o panorama intelectual dos que se reivindicam como marxistas hoje em dia e no último período, vamos ver que tudo isso daí é uma filosofia, quer dizer, o “marxismo” dessas pessoas seria uma filosofia, justamente o que Marx e Engels haviam deixado para traz, haviam declarado como sendo uma coisa obsoleta, anacrônica”.
Ao explicar por que o Marxismo teria resultado no fim da filosofia, Rui diz o seguinte:
“Quando tratamos dos filósofos do passado que marcaram sua época, vamos ver que todos eles procuraram estabalecer um sistema de ideias. A filosofia deles é um sistema, um sistema acabado. Isso daí vai ser a marcar de todos os grandes filósofos. […] Esse sistema de ideias é um sistema que tem como premissa fundamental, pressuposto básico a ideia que existe uma verdade acabada, universal, que deve ser atingida para o sistema filosófico. […] um dos principais defeitos deles é que não leva em consideração que a verdade é uma coisa que se modifica com a situação. Não há como você estabelecer um sistema no qual as verdades sejam definitivas. Aí você estabelece tal e tal coisa, vem a ciência e mostra um novo desenvolvimento. Portanto, aquelas verdades ficam ultrapassadas, já não são tão verdadeiras assim. São verdades provisórias que dependem da evolução do conhecimento humano sobre a natureza. Então vamos ver aqui a tentativa de várias pessoas, inclusive em nome do marxismo, de montar um sistema dessa natureza”.
Veja que o Rui finalizou sua fala acima dizendo que há aqueles que tentam se utilizar do Marxismo para firmar sua verdade absoluta. Nesse sentido, outro ponto de grande importância na aula foi a crítica feita aos inúmeros pretensos marxistas dos dias atuais, que rejeitam completamente o que as coisas na realidade possam ser determinadas. Em outras palavras, rejeitam o materialismo, aspecto essencial do marxismo:
“Se vocês pegarem uma montanha incalculável de livros de todos esses setores ditos marxistas – escola de Frankfurt, estruturalistas marxistas etc. etc. etc. – e colocarem esses livros no computador e fizerem uma estatística, vamos ver que a palavra materialismo vai aparece muito pouco nesses livros. Quer dizer ,esses setores não são efetivamente materialistas. E é por isso que há um combate ao determinismo […] O problema do materialismo é um problema chave de toda a disputa ideológica desde a antiguidade. […] Temos o caso de Demócrito, que elaborou a tese de que o mundo é composto dos átomos e do vazio. Não tem Deus, forças superiores, sobrenatural e mais nada. Só átomos e, fora deles, o vazio. Quer dizer, o mundo é material, é matéria. Quando você estabelece uma teoria como essa, essa teoria precisa ser subversiva, porque todas as autoridades têm uma autoridade política que é de classes, reforçada pela ideia da religião, pela crença da maioria social numa religião. Quando uma pessoa chega e diz que não há nada de espiritual, só matéria, a religião cai por terra e, portanto, é uma filosofia muito subversiva. […] O combate ao determinismo é uma revisão, se podemos chamar assim, profundamente reacionária do Marxismo. É a tentativa de tentar castrar o marxismo da sua base elementar, do seu fundamento materialista. Então esse problema todo é um problema chave, o problema de como a gente deve ver a questão da filosofia em relação à vida social. A conclusão fundamental, a primeira que queria tirar aqui, é que, para você ter uma doutrina que corresponda à realidade, essa doutrina deve eliminar todos os aspectos idealistas e se fundamentar profundamente no materialismo”.
Atualmente, é seguro dizer que a maioria esmagadora, senão todos os “intelectuais” universitários que se dizem marxistas rejeitam o materialismo. Na melhor das hipóteses, fazem uma mistura eclética com teorias idealistas. Na pior das hipóteses, a rejeição materialista é completa.
Dessa forma, conforme ensinado na aula, a rejeição ao materialismo é a própria rejeição ao marxismo.
Ademais disto, tendo em vista a própria natureza materialista do marxismo, e a natureza científica do materialismo dialético, ou seja, da concepção materialista da história, Rui finaliza afirmando que toda a verdade é, em última instância, prática, de forma que para que uma teoria seja verdadeira, ela deve passar pela confirmação da atividade prática. E, no ponto de vista do marxismo, essa prática deve ser revolucionária:
“A prática é o critério da verdade segundo a tese de Marx. Isso tem uma importância decisiva pelo seguinte: vemos aí uma discussão entre esses setores que se dizem marxistas hoje em dia que é uma discussão abstrata. Como a pessoa demonstra a validade de uma determinada tese? O pessoal demonstra a validade dessa tese ou seja através de citações, que é muito ruim, ou através de uma tentativa de demonstração lógica, mas isso não faz sentido. A atividade puramente especulativa ela não é uma atividade real. Então nós temos aí que a prática é o critério da verdade.[…] Quando Marx fala que o teste de toda a verdade teórica é prática, temos que definir de uma maneira concreta, clara e concisa que prática é essa. Do ponto de vista do marxismo, a prática é a prática política revolucionária que, para ser revolucionária, precisa ser uma coisa de partido”.