O título da capa desse domingo, 25, no Estadão é “Crise na Rússia é maior janela de oportunidade para contraofensiva da Ucrânia”. Como ele, vários outros jornais da imprensa burguesa estão propagandeando a tentativa de golpe na Rússia como uma oportunidade para Kiev na contraofensiva. Nesse sentido fica a pergunta: se a Rússia saiu prejudicada ao ponto de perder posições em uma guerra que, até agora, ela deu todas as cartas.
A rebelião do grupo Wagner
Na noite da sexta-feira, 23, para o sábado, 24, o grupo mercenário intitulado grupo Wagner marchou sobre o Distrito Militar do Sul em Rostov-no-Don e ocupou o seu quartel-general. A alegação para a rebelião foi o suposto bombardeio do grupo por um caça russo.
Contudo, longe de isso esclarecer a situação, novas informações mostram que os EUA já tinha conhecimento do plano da rebelião em meados de junho. Essa informação não foi oficializada para evitar que a inteligência russa se beneficiasse do conhecimento para debelar a rebelião antes do seu acontecimento.
Dmitri Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, anunciou nesse final de semana a sua suspeita de que a tentativa de golpe tivesse envolvimento de agente estrangeiro, o que pode ser entendido como agentes do imperialismo. De fato, seria de muito beneficio para os EUA que Moscou fosse desestabilizado em meio a guerra.
O fracasso da contraofensiva
Apesar da tentativa da contraofensiva, a Ucrânia só obteve derrotas na sua ação para tentar fazer recuar as forças militares russas. Os números da contraofensiva chamada de “suicida” pelo embaixador russo Vassily Nebenzya provam o fracasso. Foram cerca de 13 mil vidas perdidas em apenas três semanas, além de 246 tanques de guerra, 595 veículos da armada, 279 morteiros de artilharia, dois sistemas antimíssil, quatro helicópteros, mais de 260 drones e mais de 424 veículos.
Nesse sentido, a necessidade de fazer uma campanha contra Moscou utilizando-se de outros meios é de crucial necessidade para Kiev. Por isso, toda a campanha da imprensa de que a rebelião na Rússia seria um grande calcanhar de Aquiles para a ofensiva ucraniana.
Rebelião debelada não é uma oportunidade para a Ucrânia na guerra
Após apenas 36 horas de rebelião, a tentativa de golpe contra o governo russo foi debelado sem derramamento de sangue pelo acordo de paz negociado pelo presidente Lukashenko, da Bielorrússia, em conjunto com Vladimir Putin. No acordo, Evgeny Prigozhin foi anistiado de todas as acusações. O combinado foi que o líder do grupo Wagner saísse da Rússia e se dirigisse para a Bielorrússia. Os outros integrantes do grupo se mantêm em solo russo e o destino do grupo ainda é incerto.
Nesse sentido, é possível dizer que qualquer problema com uma das partes de uma guerra vai beneficiar a outra parte. Contudo, não é nada certo que a rebelião debelada em tão pouco tempo e, ainda, sem derramamento de sangue, levaria a uma crise maior na ofensiva russa. O único problema que pode ser visto nesse sentido é a possível necessidade de dissolver o grupo Wagner, o qual foi muito importante para a tomada de Bakhmut.