Um dos principais porta-vozes da burguesia no Brasil, o jornal o Estado de São Paulo escreveu no último sábado um editorial bastante cínico, como de costume.
No editorial, intitulado “A paz injusta de Lula”, o pasquim acusa Lula de ser um falso defensor da paz e companheiro de ditaduras sanguinárias ao redor do mundo.
“Sob as pias intenções exaladas no Vaticano, não há sinal de que Lula emendará suas posições injustas sobre a Ucrânia nem que ajudará a emendar as injustiças de ditadores companheiros”, diz o editorial.
Para o Estadão, os países que mais ferozmente lutam contra a verdadeira ditadura sanguinária, a ditadura do imperialismo norte-americano, são na verdade eles os vilões da história.
O editorial dá sequência fazendo menção à visita entre Lula e o papa Francisco, na qual discutiram a situação geopolítica na América Latina e a extrema desigualdade social na região para, logo em seguida, fazer menção à posição do presidente Lula em relação à guerra da Ucrânia que, para o jornal, joga contra a posição oficial do Brasil de condenação da guerra.
“O papa teria feito bem em alertar Lula sobre o princípio cristão – que se coaduna com a Carta da ONU – do direito de autodefesa. ‘A autodefesa é não só lícita, como uma expressão de amor pela terra natal. Alguém que não defende a si, que não defende alguma coisa, não ama essa coisa. Quem a defende a ama’, disse o papa em setembro do ano passado.”
Ecoando a posição do imperialismo, para o Estadão não basta Lula simplesmente se posicionar pelo fim da guerra na Ucrânia, ele deveria apoiar o regime golpista e nazista do fantoche dos norte-americanos, Volodmir Zelensky, e se colocar contra a Rússia e seu presidente Vladimir Putin.
E não só contra Putin Lula deveria se posicionar, mas também contra todos os inimigos do imperialismo, seja na Rússia, no Caribe ou na América do Sul.
“Mas, por mais que a posição de Lula desmoralize o Brasil, ela é inócua. Um presidente brasileiro tem poucas alavancas para interferir numa guerra na Europa. Bem diferente, no entanto, é a condição do Brasil para dirimir conflitos na América Latina. Dos bastidores diplomáticos, sabe-se que o papa pediu ajuda a Lula para barrar violações aos direitos humanos em ditaduras como a de Cuba, a da Venezuela e a da Nicarágua. A última, em especial, tem intensificado a perseguição a religiosos católicos.” Continua o jornal.
Para o Estado de São Paulo, um país que, como no Brasil durante o golpe de estado de 2016 — encabeçado pelo imperialismo norte-americano — prende ilegalmente o candidato mais popular para que ele não ganhe as eleições, em momento algum é de ser uma ditadura. Presos políticos só são vistos como tais pelo jornal quando estes estiverem sendo detidos contra a vontade do imperialismo e, principalmente, quando estiverem sendo detidos para estancar um golpe de Estado em países em luta contra o imperialismo.
A posição de Lula sobre a guerra da Ucrânia, apesar de não ser a mais revolucionária possível já é, como se vê, o suficiente para ser atacado. Soma-se a isso a excelente posição de Lula em relação a países extremamente afetados pelo imperialismo, como Cuba, Venezuela e Nicarágua, que sofrem com sanções econômicas pesadíssimas por haverem se rebelado contra a ditadura neoliberal.
Lula está no caminho certo. É preciso aprofundar a tendência de luta contra o imperialismo e colocar o povo nas ruas para lutar contra uma possível reação de setores pró-imperialistas.