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Vinícius Rodrigues

Militante do Partido da Causa Operária no Rio de Janeiro e membro da Direção Nacional da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR).

Internacional Islâmica

Política externa do Irã é revolucionária

Independente da política interna do Irã, na sua atuação internacional o governo financia a luta revolucionária de libertação nacional em diversos países

O governo do Irã atualmente é uma das mais revolucionárias organizações do planeta. Não importa o que a esquerda pequeno burguesa afirme sobre machismo, fundamentalismo religioso, anticomunismo. O Irã não só é um entrave para o imperialismo na região, ele é uma força política ativa, que impulsiona, inclusive por meios financeiros, a libertação de todo o Oriente Médio. É um caráter contraditório do nacionalismo burguês mas que não é novidade, e que na atual etapa da luta política vale a pena ser compreendido.

O internacionalismo é uma das características mais importantes da luta da classe operária, a vitória sobre o imperialismo só pode existir por meio da revolução mundial. O revisionismo stalinista foi um grande ataque ao internacionalismo, a tese do “socialismo em um só país”, as alianças de Stalin com o imperialismo tornaram a União Soviética um país que atuava na prática contra a revolução mundial. No Vietnã, por exemplo, o país sofreu com uma guerra de 20 anos contra o imperialismo sem quase nenhuma ajuda soviética.

Os cubanos por sua vez, que surgiram de forma independente do stalinismo, tomaram uma política muito mais internacionalista. O maior feito dos cubanos foi o  apoio militar em Angola, crucial para a vitória da revolução e a derrota da África do Sul, principal baluarte do imperialismo na África subsaariana. Mas os Estados operários naturalmente deveriam ser internacionalistas, por seu caráter de classe. O mais interessante é quando os governos nacionalistas se radicalizam a tal ponto que apoiam a revolução, mesmo que sem apoiar o socialismo, em outros países.

O caso do Irã é emblemático. A República Islâmica surgiu de uma verdadeira revolução operária em 1979 que, por não ter um partido operário no país, foi dirigida pelos clérigos xiitas. O governo do Aiatolá posteriormente lapidou muito dos avanços da revolução, sendo o mais aparente a questão da mulher. As trabalhadoras foram linha de frente em todo o processo revolucionário, essa é também a prova de que a revolução socialista é o caminho para a libertação da mulher. Contudo, no quesito da política externa o governo do Irã assume um papel quase que único no planeta. 

Afora o imperialismo, que financia e organiza grupos armados para derrubar governos, como o Batalhão Azov na Ucrânia. O Irã é o país que mais financia e organiza grupos armados que lutam pela libertação nacional, ou seja, grupos revolucionários. O Irã é portanto o país que ativamente financia a revolução mundial. Está à esquerda possivelmente dos cubanos e dos norte coreanos, mais na prática do que ideologicamente, por ter uma economia mais forte. Mas não deixa de ser impressionante. Um governo nacional financiando uma revolução armada em diversos países.

Para deixar o quadro mais concreto: O Hesbolá, do Líbano e também na Síria, o Ansar Alá (Houthis) do Iêmen, as brigadas Al-Ashtar no Barém, o Cataeb Hesbolá no Iraque, o Hamas e a Jiade Islâmica na Palestina. Todos são movimentos de libertação nacional e o Hesbolá por sua vez, que é o mais forte de todos tendo libertado o seu país da ocupação israelense, já tem também a sua própria atuação internacional, como no caso da Síria. O Irã criou uma espécie de internacional nacionalista do Oriente Médio de características revolucionárias. E essa força militar agora está se transformando em uma força política.

Um fator que não pode ser deixado de lado é que o Irã fez isso tudo sobre pesadas sanções do imperialismo e tentativas de intervenção. Após a revolução, o imperialismo travou uma guerra sangrenta de 8 anos por meio de Sadam Hussein. Mas passados 44 anos o país se ergueu sobre todo o cerco e se transformou na prática na grande potência do Oriente Médio. Os demais países que eram apoiados pelo imperialismo agora com sua decadência não conseguem entrar em conflito com o Irã. Por isso a reorganização recente na região, que também teve ajuda dos chineses, só foi possível pela força política do Irã, que é fruto da Revolução de 1979.

O que fica claro é que o choque com o imperialismo impulsiona os governos nacionalistas à esquerda. Na Venezuela isso criou um regime cada vez mais baseado na mobilização popular dos trabalhadores e em milícias populares cada vez mais fortes. No Irã isso se desenvolveu de outra forma. A guerra generalizada na região impulsionou o desenvolvimento militar do Irã que por sua vez passou também a atuar em todas as guerras em seu entorno. O Irã assim, com feições menos esquerdistas na política interna em relação à Venezuela, atua de forma muito mais à esquerda em sua política externa.

Essa atuação do Irã também é impulsionada pelo imperialismo pois ele atua internacionalmente. O ataque ao Irã não chega apenas por sanções, ele chega principalmente por Israel, e até pouco tempo pela Arábia Saudita e outros países da região. A crise no Oriente Médio é tão grande que esse aspecto da política imperialista fica claro para todos. Para os iranianos é evidente que Israel é uma base dos EUA que deve ser enfraquecida e até destruída. E nesse sentido a vitória dos palestinos, dos sírios e dos libaneses é também a vitória do Irã. A conclusão se chega pela prática. Na luta contra o imperialismo muitas vezes é assim que se toma as mesmas políticas que um governo que baseado na ideologia marxista tomaria de forma mais consciente. 

É a teoria da Revolução Permanente. O Irã em sua luta contra o imperialismo ou irá sucumbir e retroceder a revolução, ou precisa torná-la socialista. Sem grandes mobilizações da classe operária isso se desenvolve lentamente, mas se desenvolve. E no caso do país persa a principal característica que tende ao socialismo é o impulsionamento da revolução mundial por meio do apoio a organizações que travam guerras de libertação nacional. Nesse quesito o governo do Aiatolá está à esquerda de provavelmente todos os governos do planeta.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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