Nessa sexta-feira (23), o presidente Lula participou de um encontro com mais de 100 chefes de Estado em Paris. O evento, organizado pelo governo francês, teria como suposto objetivo a construção de um novo pacto financeiro mundial combinado à questão climática. O líder brasileiro fez duras críticas sobre as ameaças de sanções ao Brasil como forma de pressão para aceitar o acordo Mercosul-União Europeia e chamou de “brincadeira” a preocupação climática sem levar em conta a necessidade do desenvolvimento dos países atrasados economicamente.
Em seu pronunciamento, o presidente Lula destacou que não compareceu ao evento para falar somente da Amazônia, mas que teria que ser tratada a questão da desigualdade econômica entre os países do mundo. O presidente brasileiro ressaltou que “se a gente colocar isso com tanta prioridade quanto a questão climática, a gente pode ter um clima muito bom e o povo continuar morrendo de fome em vários países”. Como exemplo nesta questão, Lula apontou que no Rio do Congo poderiam ser construídas três “Itaipus”, se referindo ao maior complexo de produção de energia no Brasil e um dos maiores do mundo.
Evidentemente o excesso de importância dada à questão climática esconde interesses que nada tem a ver com “cuidar do planeta”, os países do bloco imperialistas são finalmente os maiores emissores de gases na atmosfera, são os mesmos que devastaram suas matas e que promoveram inúmeras catástrofes ambientais por todo o planeta. O Protocolo de Quioto, firmado em 1997, não passa de uma farsa, enquanto buscam controlar o crescimento industrial dos países de economia atrasada, os países imperialistas ampliaram significativamente suas produções. Além disso, sob o pretexto de preservar as florestas como é o caso da Amazônia, o imperialismo busca controlar as riquezas minerais e naturais dos países atrasados.
Em outro ponto importante da fala de Lula sobre o acordo proposto pela União Europeia e o Mercosul, o presidente salientou que “não é possível que nós tenhamos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo uma ameaça”. O líder brasileiro havia declarado que o acordo comercial não passaria como elaborado, um dos pontos destacados foi a inclusão das demandas governamentais que ferem de morte a indústria nacional. Após Lula rejeitar o acordo, a UE decidiu chantagear o presidente através de sanções relacionadas a questão ambiental.
Esse fato demonstra como a bandeira ambiental nada mais é que um pretexto para atacar as economias de países atrasados como o Brasil. A UE quer impor a todo custo um acordo ao Mercosul como foi a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), o qual foi rechaçado pela maioria dos países latinos devido aos impactos destrutivos que resultaria em suas economias. Assim é preciso criar um apelo para transformar em vilões os governos de países que se opõem ao acordo e a bola da vez é a questão climática. Essa bandeira tem explorada para impedir o desenvolvimento da indústria nacional brasileira e a geração de empregos no país como visto no caso do embargo da exploração de petróleo na foz do Amazonas.
O presidente brasileiro também chamou de “grupo de luxo” as reuniões do G-7 demonstrando sua insatisfação com o controle dos países imperialistas fóruns internacionais e ressaltou que “nós vamos precisar colocar mais companheiros africanos para participar do G-20″. Entre outras questões pertinentes a esse assunto, Lula enfatizou o problema que vive povo da Palestina que não possui Estado reconhecido pela Organização das Nações Unidas. Neste sentido, o presidente Lula defendeu a unidade dos países africanos assim como dos países latino-americanos e de outros países oprimidos de outras regiões do mundo.
O líder brasileiro também denunciou a política criminosa do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, Lula destacou como exemplo o empréstimo de US$ 44 bilhões concedido à Argentina depois do ex-presidente Maurício Macri levar o país à falência econômica. Assim enfatizou o papel dos BRICS na concessão de crédito para o desenvolvimento dos países atrasados e defendeu o uso de outras moedas nas operações comerciais que não envolvam os Estados Unidos.
Apesar de não conseguir exercer uma política tão combativa em questões internas do País em virtude do engessamento imposto ao governo pelos poderes judiciário e o legislativo, Lula tem liderado no cenário internacional uma oposição aos interesses do imperialismo como foi na questão da Guerra na Ucrânia e na defesa do abandono do dólar como moeda padrão para o comércio internacional. O questionamento sobre autoridade dos países imperialistas nos fóruns internacionais representa uma grande afronta à hegemonia global e revela também a fragilidade do regime capitalista neste momento.