Durante evento em Niterói, o ministro da Justiça Flávio Dino, pouco tempo depois de assinar acordo para fornecer mais recursos à polícia militar do Rio de Janeiro, deu um discurso declarando todo o seu amor pelo aparato repressivo do Estado.
“[…] Durante décadas nos debatemos em torno de uma falsa contradição, entre política social e polícia, como se fossem coisas antinômicas, e não são! Em primeiro lugar, porque as populações mais pobres precisam da polícia, sofrem com a falta da polícia e sofrem mais gravemente do que os mais ricos […] Nós precisamos sim investir e apoiar a maioria dos funcionários de segurança pública que são bons, que são sérios, que se dedicam”, afirmou o ministro.
Flávio Dino, em que mundo o senhor vive?
Se tem uma coisa que o povo pobre deste País não precisa é de polícia. Vai numa ocupação, vai num bairro popular e o senhor vai ver que as coisas funcionam sem polícia.
Quem gosta de polícia é a classe média. São juízes, como o senhor, são empresários, são as dondocas de apartamento, que se veem desesperados toda vez que o pobre se revolta e ameaça o seu patrimônio. São as pessoas completamente insensíveis à fome e à miséria da população e que não hesitam em mandar para a prisão um pobre coitado que rouba um chocolate, os vendedores ambulantes que tanto “incomodam” e os torcedores organizados que não podem ter um pingo de lazer.
Prometer mais polícia para o povo pobre é uma ameaça, Sr. Dino. É dizer ao povo sofrido das favelas do Rio de Janeiro: sabe aquela moça que foi assassinada por um tiro de fuzil?
Aquela que era sua vizinha, que não incomodava ninguém, que frequentava a padaria de seu Zé sempre no mesmo horário? Pois vão morrer centenas e centenas de senhoras como ela todos os meses.
É o mesmo que dizer: Datena! Sanguinários de plantão! Preparem suas câmeras: toda semana, haverá uma nova chacina.
Se o ministro não estiver muito mal-intencionado, está no mínimo completamente fora da realidade. E se for assim, é um ministro da Justiça de um governo de esquerda que não pode ser ministro da Justiça, pois pensa e age como um ministro dos ricos. Não é à toa que nomeou , logo no início de sua gestão, um coronel da Polícia Militar de São Paulo como secretário nacional de Políticas Penais do governo Lula. E não qualquer coronel, mas uma pessoa que teve participação indireta no massacre do Carandiru.
Para o pobre, Flávio Dino, a solução é muito mais simples. Não exige refletir sobre nenhuma “falsa contradição”. Basta acabar com todas as polícias comandadas pelo Estado e criar polícias municipais diretamente controladas pela população, com direito a eleição para os chefes de polícia.