Na última sexta-feira (16), o jornal imperialista The New York Times publicou uma reportagem argumentando que os russos haviam sido os responsáveis pela explosão que destruiu a Barragem de Kakhova, ocorrida no dia 6 deste mês. É esperado que fosse esta a tese defendida pelo jornal, o interessante é a maneira com que a questão é tratada.
Não existe discussão política alguma. Não há tentativa de explicar por que os russos seriam responsáveis pela destruição de uma barragem que tem como região mais afetada justamente a Crimeia, parte da Rússia desde 2014. É evidente o porquê disto, simplesmente não existe explicação lógica para responsabilizar os russos, do ponto de vista político pelo menos. Se houvesse, a questão seria tratada, mesmo que de passagem, na reportagem.
No entanto, numa tentativa de fazer parecer uma verdade incontestável, utiliza-se a tática dos “especialistas”, ou seja, utilizando-se do fato de que boa parte dos seus leitores não possuírem os conhecimentos técnicos necessários para avaliar a questão (não temos acesso à planta da barragem, etc.), consulta-se “especialistas” para martelar a questão e chegar-se a conclusão de que são os russos os responsáveis. É impossível contestar os especialistas, e a discussão pertence a estes somente.
Pois bem, no texto, a conclusão é que haveria de ser uma bomba no coração da barragem a responsável pela sua destruição, e por causa disso os russos teriam de ser os responsáveis. Como se os ucranianos, na realidade os seus mestres imperialistas e seus serviços de inteligência, fossem incapazes de realizar tal operação. Não é como se o serviço de inteligência britânico, junto aos ucranianos, já tivesse explodido uma importante ponte na região durante esta guerra…
Outro aspecto interessante do ataque a barragem é a questão da usina nuclear de Zaporizhzhia, que os nazistas ucranianos bombardearam no começo da guerra. A destruição da barragem impede o abastecimento desta, e coloca a possibilidade de um desastre nuclear na região. Dado o tratamento dispensado à usina na fase anterior da guerra, é curioso partir diretamente a uma condenação dos russos.
Do ponto de vista dinâmico, temos também a “contraofensiva” ucraniana. O governo ucraniano coloca que os russos teriam destruído a barragem por temer a tal contraofensiva. No entanto, desde muito antes da explosão, tem ficado cada vez mais clara a incapacidade de os ucranianos retomarem os territórios perdidos para os russos, a situação é tão difícil que transparece na imprensa pró-imperialista e em seus representantes. Faria sentido que os russos aderissem a medidas tão extremas neste contexto, colocando em perigo todo o caráter político da operação especial?
É evidente que se trata de mais uma propaganda de guerra, com o intuito de fazer passar por tecnicalidade a tese política de que os russos são monstros, dispostos a infligir desastres de gigantescas proporções em sua sede de conquista. Ou seja, que os exércitos russos são como os exércitos imperialistas. Se existe algo que o conflito tem mostrado até então é que isso não poderia estar mais longe da verdade.