Desde o final do mês de maio deste ano, está em andamento uma intensa campanha contra o presidente da Colômbia, Gustavo Petro. Nesta segunda-feira (5), foi aberta uma investigação contra a sua campanha presidencial por suspeita de financiamento ilegal.
Os principais envolvidos no caso, e que deverão responder às autoridades eleitorais colombianas, são o ex-embaixador da Colômbia na Venezuela, Armando Benedetti e a ex-chefe de gabinete de Petro, Laura Sarabia. Em 13 de julho, eles irão responder por “supostas irregularidades no financiamento” da campanha do presidente colombiano.
Benedetti e Sarabia estão afastados do governo desde sexta-feira (2), após a revista Semana ter vazado o áudio de uma conversa que teria se dado entre os dois e que foi amplamente difundido e impulsionado pela imprensa colombiana.
Na gravação, é possível ouvir Benedetti ameaçando Sarabia com a revelação de contribuições ilegais à campanha eleitoral de Petro de cerca de 3,5 milhões de dólares. Ele ainda complementa que, com a revelação, iriam todos eles para a cadeia. Segue abaixo transcrição de parte do áudio:
“Laura […] Todos nós afundamos. Estamos todos acabados. Vamos presos […] Com tanta merda que eu sei, todos nós vamos nos foder. Se vocês me foderem, eu vou foder vocês”.
Benedetti, um importante articulador político para a vitória de Petro, já tinha uma relação com Sarabia – sua secretária particular – antes da campanha. Ele a apresentou para o atual presidente da Colômbia, que a contratou para ser sua chefe de gabinete.
O vazamento deste áudio é claro indicativo de uma movimentação da burguesia e do imperialismo no sentido de rifar o mandato de Petro. A repercussão na imprensa é gigantesca e o escândalo está sendo usado pelo Congresso como pretexto para congelar as três principais reformas que Petro tenta passar atualmente: a reforma da saúde, que busca reduzir a participação da iniciativa privada no sistema de saúde do país; a reforma dos sistemas de trabalho e da previdência e a reforma para redistribuir terras improdutivas.
O escândalo, no entanto, vem de antes. No final do mês de maio, a imprensa noticiou o roubo de uma pasta com milhares de dólares da casa de Sarabia. Posteriormente, a babá da ex-chefe de gabinete de Petro teria sido interrogada com um detector de mentiras na sede da Presidência. Também há uma acusação de que suas ligações telefônicas teriam sido grampeadas por meio de um boletim de ocorrência falso, que a ligava a traficantes de drogas.
A babá trabalha também para Benedetti e todo o caso segue sendo investigado pelo Ministério Público, mas não foi descoberto nada de definitivo até o momento.
Gustavo Petro se defendeu das acusações em suas redes sociais, afirmando que “ninguém do gabinete do governo, nem diretores ou comandantes da força pública, nem diretores de aparelhos de inteligência ordenaram interceptações telefônicas ou batidas ilegais, nem foram aceitas chantagens sobre cargos ou contratos públicos, nem dinheiro recebido na campanha de pessoas ligadas ao narcotráfico (…)”.
Ele também diz que “não aceita chantagens” e que não vê a política como espaço para “ganhos pessoais”. Para rebater a campanha golpista, o partido do governo convocou uma manifestação no dia 7 de junho para que seus apoiadores pressionassem o Congresso a votar as suas reformas.
Gustavo Petro se elegeu procurando prometer ao imperialismo que seria uma esquerda ao estilo de Boric no Chile, fazendo demagogia identitária, mas mantendo uma política direitista de ataques à população. No entanto, isso não garantiu a ele a capacidade de governar o país. Como a crise é muito grande, Petro procura passar algumas reformas que tenham algum impacto, mesmo que mínimo, na vida da população colombiana. No entanto, mesmo isso não é aceitável para a burguesia colombiana.
Isso prova que não adianta tentar fazer concessões para a burguesia a fim de conseguir um apoio posterior para governar para o povo. Tanto na Colômbia quanto no Brasil, ou em qualquer outro país, a única política aceitável para a burguesia é a de esmagamento total da população. Todos os governos que não atuarem conforme a cartilha do neoliberalismo podem ser derrubados por golpes de Estado.
Na Colômbia, a campanha da imprensa se assemelha a uma articulação golpista contra Petro. O governo tenta reagir de alguma forma, mas não é possível ver se isso dará algum resultado. É preciso ter claro que a verdadeira causa da crise não são as supostas acusações de corrupção contra Petro, tudo isso é apenas o modus operandi da burguesia e da direita para pressionar e derrubar governos. A causa verdadeira é que Petro, que deveria ser um serviçal completo do imperialismo, procurou promover reformas minimamente populares para se manter no governo.
O caso brasileiro, ainda que não seja idêntico, guarda algumas semelhanças com o colombiano. A pressão do Congresso sobre o governo só será superada com uma verdadeira mobilização popular que demonstre o apoio às medidas populares do governo. É preciso, portanto, chamar as organizações a colocarem o povo na rua.