A esquerda pequeno burguesa se afunda cada vez mais na política repressiva. É uma variação esquerdista do que a imprensa burguesa apresenta, uma espécie de anti fascismo identitário. O bolsonarismo é o alvo no momento, no que é uma clara variação da política da “democracia x autoritarismo”, que sempre levou a derrotas da classe operária. O jornalista do Brasil 247 Alex Solink escreveu um artigo difundindo essa tese: “Bolsonarismo deveria ser proibido”.
O texto já começa em seu subtitulo apresentando a sua tese: “Não basta tornar Bolsonaro inelegível por oito anos. Não basta prendê-lo. É preciso proibir o bolsonarismo, tal como o nazismo é proibido na Alemanha” O primeiro ponto já é um erro grotesco. A prisão e perseguição a Bolsonaro é algo que somente irá fortalecer o bolsonarismo. Todas as figuras políticas que sofreram perseguição tiveram sua popularidade ampliada, e não apenas aquelas da esquerda. É o caso do próprio Trump, que esta sendo vítima de uma perseguição do FBI, o que o tornou ainda mais popular nos EUA. Trump é o candidato favorito para vencer as próximas eleições.
Mas o segundo ponto é ainda mais reacionário. Na última eleição, 58 milhões de brasileiros votaram em Bolsonaro, uma grande parte segue admirando o ex-presidente, eles seriam perseguidos ou censurados? A própria ideia de proibir o bolsonarismo não faz sentido. Solnik quer combater o bolsonarismo, que é uma política correta, mas sua tese somente fortaleceria o movimento. O combate ao bolsonarismo se dá por meio de uma luta política, pela organização dos trabalhadores, foi essa luta que nos últimos 4 anos impôs uma derrota ao bolsonarismo.
A perseguição ao bolsonarismo, pelo contrário, foi algo que fortaleceu o ex-presidente. Solnik afirma que o bolsonarismo é: “Atacar as minorias, queimar as florestas, explorar minérios em terras indígenas, submeter-se aos EUA, xingar ministros do STF, desprezar a ciência e a cultura, acabar com o estado laico, debochar de doentes, mentir sempre, rasgar a constituição, desvalorizar as mulheres, priorizar armas em vez de livros, idolatrar torturadores, controlar as instituições, proteger amigos e parentes, suprimir os direitos humanos e -cereja do bolo -instalar uma ditadura militar semelhante à de 1964.”
Isso pode ser verdade no geral, mas nos últimos anos, para muitos, o bolsonarismo virou uma luta contra as instituições autoritárias e em defesa da liberdade da expressão. O motivo? Bolsonaro foi vítima de um processo de perseguição do judiciário, principalmente os setores bolsonaristas de mais baixo escalão, como Daniel Silveira e Roberto Jefferson. Hoje em dia, inclusive, muitos consideram que a defesa da liberdade de expressão é o mesmo que bolsonarismo. Na tese de Solnik, aqueles que defendem esse direito democrático crucial, deveriam ser reprimidos?
Aqui se atinge um dos principais pontos dessa tese reacionária, o que é o bolsonarismo? Não é uma ideologia nada definida, é um movimento heterogêneo que surgiu com a desagregação da direita tradicional. Como dito acima, quando a direita tradicional, que controla o STF, passou a atacar o bolsonarismo, este passou a defender a liberdade de expressão. A defesa de mais direito ao armamento também é uma política tradicionalmente democrática, tradicional da esquerda revolucionária. Marx e Lenin sempre foram grandes defensores do armamento, seriam eles taxados de bolsonaristas?
A partir disso também se deveria definir o que seria proibido. O PL, partido de Bolsonaro, tem a maior bancada do Congresso e diversos governadores. Todos eles seriam destituídos? As manifestações em defesa de Bolsonaro deveriam ser proibidas e violentamente reprimidas pela polícia? Os canais das redes sociais bolsonaristas seriam todos censurados? Apenas uma ditadura poderia impor tais medidas, e concentrando tamanha força no aparato de repressão do Estado burguês é evidente que a esquerda seria afetada. Isso já foi visto em relação às cassações, que começaram com os bolsonaristas e depois migraram para a esquerda, vide o caso Renato Freitas.
Solnik segue: “É uma ideologia perversa, obtusa e perigosa, cujo objetivo é extinguir a democracia. É intolerável, portanto.” Essa frase poderia ter sido afirmada por um bolsonarista sobre o comunismo, foi o que de fato fez a ditadura militar brasileira e tantas outras ditaduras. Isso é um complemento à tese do colunista de proibir o nazismo, ela também foi usada para criminalizar o comunismo. Nesse caso há um exemplo muito emblemático hoje: a Ucrânia. Depois do golpe o nazismo e o comunismo foram proibidos. O Estado impôs uma ditadura sobre a esquerda, já as milícias nazistas cresceram e passaram posteriormente a fazer parte do próprio Estado.
Esse caso é bom, pois demonstra a realidade. Não é o Estado burguês, mas apenas a classe operária que vai derrotar a extrema-direita, que só pode ser derrotada em conjunto com o imperialismo, que a alimenta. Na hora da briga, na verdade, a extrema-direita será chamada às ruas para atacar a esquerda. Foi o que aconteceu no golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e nas eleições de 2018. Em certa medida é o que acontece atualmente:o bloco PSDB-Bolsonaro tende a se formar novamente para tentar impor uma derrota ao governo do presidente Lula.
Solnik, portanto comete o erro clássico da esquerda pequeno-burguesa ao acreditar que as instituições da burguesia defenderão os trabalhadores. Apenas os trabalhadores e suas organizações podem obter vitórias políticas. Foi isso que derrotou Bolsonaro nas eleições e é isso que será necessário para a próxima etapa da luta. A mobilização da classe operária é necessária não apenas para derrotar o bolsonarismo, mas também a direita tradicional, a imprensa burguesa, os militares e o imperialismo.