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Sequestro

A direita usurpou as manifestações de junho de 2013

Uma reflexão sobre os 10 anos daqueles acontecimentos

As chamadas jornadas de junho de 2023 suscitam muito debate e muita confusão há 10 anos. A esquerda que não participou ou que participou e não soube tirar as conclusões corretas dos acontecimentos faz balanços guiados por aquilo que diz a imprensa burguesa.

Eduardo Guimarães publicou nesse dia 5 de junho no portal Brasil 247 um artigo onde pretende analisar o que aconteceu naquele junho de 2013, chamado “Junho de 2013 cobra reflexão da esquerda”. O autor propõe uma reflexão da esquerda, o que é muito legítimo e importante. Se é assim, vamos a algumas considerações importantes sobre o que foi dito.

Na coluna, Guimarães não só repete os erros de análise que são cometidos há 10 anos, como parte de princípios conservadores para interpretar os fatos.

“Afinal, se um garoto de 15 anos sai à rua quebrando pontos de ônibus e fachadas de bancos em nome de melhores serviços públicos, os adultos que o circundam deveriam ser contra, explicando que violência nunca é o caminho para nada. (…) Em maior ou menor grau, militantes políticos, jornalistas e até partidos políticos ‘passavam pano’ para garotos — muitos deles imberbes — que usavam a famigerada ‘tática black bloc’ para manifestarem posições políticas que exigiam táticas mais sensatas, para dizer o mínimo.”

Para o colunista, a “violência nunca é o caminho”, nem vamos nos ater a fazer considerações gerais sobre essa ideia que, para nós, é uma ideia errada e direitista, para explicar isso, basta saber o que aconteceu naqueles dias. Talvez Guimarães não saiba, talvez não lembre, que as primeiras manifestações contra o aumento da passagem que aconteceram em São Paulo foram brutalmente reprimidas pela Polícia Militar do PSDB. Essa repressão se repetiu nas outras cidades. A chamada “tática black bloc” não era nada mais do que uma reação legítima diante dessa violência brutal por parte dos órgãos de segurança do Estado.

Partindo desse fato, a posição correta para qualquer pessoa de esquerda ou progressista, independentemente da consideração política e da ideologia que se possa ter sobre a questão da violência, seria estar do lado dos “jovens imberbes”. As organizações políticas da esquerda fizeram certo em apoiar e defender inclusive incondicionalmente os black bloc.

Continuando a sua interpretação, Guimarães tem uma avaliação torta sobre os resultados daquelas manifestações, dizendo que foram elas que “abriram espaço para a vitória de Bolsonaro em 2018”. Se existe uma relação entre a eleição de 2018 e Junho de 2013 isso não tem a ver com a ação da esquerda. Sobre isso, iremos explicar mais adiante. Mas é estranho tal consideração, ignorando todo o processo golpista que se estendeu até a prisão de Lula, colocando a culpa nos manifestantes que estavam na rua contra a repressão do PSDB e o aumento das passagens.

“O fato é que os grupos de esquerda compostos por líderes juvenis atuavam sob os olhares cúmplices até de idosos letrados e experientes que chegavam a defender depredações de patrimônio público e privado pela tática revoltante dos ‘blocos negros’ compostos por jovens pobres e negros, sim, mas também por brancos oriundos da esquerda caviar que prometiam ‘mudar o Brasil’ vestidos com jeans que chegavam a custar um salário mínimo ou mais.”

Sobre o problema da violência e da depredação e sobre apoio da esquerda aos Black Bloc já explicamos acima. Nesse trecho revela-se a confusão do colunista sobre o conteúdo social e político das manifestações. Ele acredita que os ricos participaram das manifestações da esquerda porque ignora um fator fundamental que foi o sequestro das mobilizações pela direita. Ele não só ignora isso como nega que tenha acontecido:

“O movimento não foi usurpado pela direita, como dizem, porque desde a sua gênese tinha elegido Dilma Rousseff como alvo principal. (…) Em 17 de junho de 2013, em São Paulo, no Largo da Batata, uma manifestação que reuniu 65 mil pessoas teve performances de manifestantes contra Dilma e o PT protagonizadas por esquerdistas de partidos pequenos e até, em pequena monta, do próprio PT. Gritavam: 

— Hei, Dilma, vai !!@#*!…!!!”

Eis nesse ponto o erro fundamental da análise de Eduardo Guimarães. Para ele, o início do movimento foi o dia 17 de junho o que revela um enorme desconhecimento do processo que havia culminado naquela data. Outra deformação é dizer que “esquerdistas” gritavam contra Dilma. Vejamos um problema de cada vez.

O dia 17 de junho foi justamente o dia do sequestro das mobilizações pela direita. Até então, as manifestações eram convocadas e organizadas pela esquerda e por movimentos populares e tinham uma pauta popular, como dissemos: a luta contra o aumento da passagem e a denúncia da repressão do PSDB.

É importante lembrar que manifestações contra o aumento da passagem e pelo passe livre ocorreram por anos a fio até 2013. Não era um movimento novo, era um movimento que, apesar das divergências naturais no seio da esquerda, tinha uma tradição entre as organizações de esquerda.

Em 2013, as manifestações iniciaram logo no início do ano, contra o aumento da passagem. A diferença para os anos anteriores foi que elas contavam com uma adesão maior da juventude, incluindo a juventude mais pobre. O conteúdo social e político das manifestações era de uma juventude proletária e universitária, com organizações populares e partidos da esquerda participando.

O crescimento dessas manifestações assustou o governo tucano que ato após ato intensificou a repressão até culminar na manifestação de 13 de junho, quando o Centro de São Paulo foi sitiado pela polícia e a repressão foi brutal. Guimarães está tão preocupado em defender sua tese que esquece das pessoas que foram agredidas, do fotógrafo que ficou cego, da ação covarde da polícia de São Paulo contra a juventude.

O governo Alckmin contava que com a repressão brutal as manifestações fossem refluir, mas o efeito foi contrário. A repressão acabou angariando um apoio massiva para os manifestantes. Esse apoio foi escancarado quando o programa do direitista José Luis Datena fez uma enquete perguntando o que os telespectadores achavam de “manifestações com baderna” enquanto passava as imagens da repressão. O propósito da enquete era atacar os manifestantes, mas o tiro saiu pela culatra e a maioria votou a favor.

Notem que até aí a direita nacional não apenas não participava das manifestações como estava frontalmente contra elas. O que mudou então?

A burguesia, compreendendo que aquelas manifestações colocariam em risco o regime político, em primeiro lugar o próprio governo tucano do estado de São Paulo, decidiu por mudar sua tática. Ao invés de se colocar contra, passou ela mesma a convocar a próxima manifestação de modo a controlá-la e colocar suas próprias pautas. O próximo ato foi justamente o do dia 17 de junho, que Guimarães interpreta erroneamente como a “gênese das jornadas de junho”.

Esse erro de avaliação é essencial para que o colunista faça um balanço totalmente equivocado daqueles fatos.

No dia 17, já com apoio da rede Globo e de toda a burguesia, a esquerda foi expulsa das manifestações. Esse é o sequestro do que ficou conhecido como “jornadas de junho”. No Larga da Batata, dia 17, os gritos contra Dilma eram feitos por infiltrados da direita na manifestação, que foram colocados ali para agredir os militantes da esquerda. Substituíram a luta contra o aumento e a repressão pela palavra de ordem moral que posteriormente seria o que a direita adotaria nas manifestações golpistas.

Se a esquerda errou naqueles dias não foi por ter participado das manifestações. Se houve erro foi de não ter colocado força total naquelas mobilizações que se iniciaram contra a direita. O PT, acreditando na conciliação com o governo tucano, demorou para agir, quando o correto teria sido desde o começo ter participado junto com a juventude, o que teria impossibilitado a operação de sequestro por parte da burguesia.

Os fatos podem falar por si, como afirma Guimarães, mas sem conhecê-los em profundidade e sem tirar uma análise correta deles, os fatos serão um fator de confusão.

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