A esquerda golpista já está com uma política tão consolidada que formou um bloco formal para atacar o governo Lula. Na sede do Sintrajud em São Paulo se encontraram SP-Conlutas, Sinsprev, Unidade Classista, Sindsef-SP, Sintrajud, PCB, PSTU, MRT para discutir a “luta contra o arcabouço fiscal”. O resumo do encontro foi divulgado no sítio do PSTU no dia 1º de junho. Interessante notar como a esquerda pequeno-burguesa pseudo-revolucionária, que tem uma enorme dificuldade de se alinhar em pautas simples, consegue facilmente se alinhar em torno da política golpista contra o governo do PT.
O texto já começa com a tese principal: “A avaliação comum apresentada é a de que, ainda que tenha sido importante para a classe ter derrotado Bolsonaro nas urnas, a tarefa urgente que se coloca agora é enfrentar os ataques que vêm sendo feitos pelo governo de Lula/Alckmin e o Congresso Nacional.” Aqui fica claro a total incompreensão política dos morenistas e dos stalinistas. Para eles, Lula, Alckmin e o Congresso Nacional estão todos no mesmo bloco. É uma incapacidade completa de se analisar a luta de classes dentro do governo.
A esquerda golpista não entende, ou finge não entender, que existe uma luta política entre Lula e o Congresso e não só isso como uma luta política entre Lula e diversos de seus ministros, inclusive Alckmin. O presidente Lula lidera a ala mais à esquerda do PT e dos movimentos ligados ao partido, principalmente CUT e MST, sua política está claramente à esquerda. Dentro de seu governo está presente em peso a direita tucana, com destaque para o próprio Alckmin e Simone Tebet. Essa direita também está em peso no Congresso Nacional, que ainda tem uma enorme quantidade de bolsonaristas. Colocar, portanto, tudo no mesmo balaio é uma loucura total.
A luta política dos trabalhadores contra a burguesia nacional e o imperialismo, portanto, não se manifesta na luta contra Lula, mas sim na luta contra os representantes dessas classes sociais, ou seja, os ministros de direita e no Congresso Nacional. Essa tese do PSTU/PCB faz com que esses partidos ataquem mais Haddad, por exemplo, do que os ministros do União Brasil ou Marina Silva e Alexandre Silveira, que ativamente atuam contra a Petrobrás em defesa do imperialismo. É como se Lula fosse o líder da quadrilha e por isso o principal seria atacar ele, mas dado que isso é muito impopular, é mais fácil atacar Haddad.
No evento, Vera Lucia do PSTU afirmou: “O arcabouço fiscal, que deixou feliz o presidente do Banco Central, é um projeto do governo Lula acordado com o centrão e a ultradireita, a serviço da burguesia. É uma derrota pra classe. Sem dar uma batalha contra o marco temporal, Lula jogou abaixo os indígenas que subiram com ele na rampa do Planalto, a serviço dos latifundiários”. Invés de atacar o próprio presidente do BC, uma campanha que já está nas ruas e é extremamente popular, a dirigente do PSTU ataca Lula. Sobre os índios então a tese é ainda mais absurda, o STF os ataca e a culpa é de Lula como se o presidente estivesse a serviço dos latifundiários. Os golpistas omitem que desde a eleição de Lula a luta pela terra se fortaleceu tanto que é manchete do Estadão todas as semanas.
A reunião então deliberou atos golpistas contra o governo: “Chamar unitariamente, em todas capitais, cidades e regiões, um dia nacional de mobilização e atos políticos para o dia 13, com os seguintes eixos: ‘Contra o arcabouço fiscal de Lula e o marco temporal'”. Aqui, o PSTU tem a incrível capacidade de repetir o erro de 2016 quando puxou fora Dilma. O interessante é que o PCB, que na época era mais tímido, agora entra de cabeça no golpismo. Mas pelo padrão dos youtubers pecebistas como Jones Manoel, que batem ponto atacando Lula, não deveria ser muito impressionante.
Um comentário a mais sobre a questão dos índios vale ser destacada. O presidente Lula é colocado pelo PSTB como o grande inimigo dos índios. Aqui fica claro como esses partidos são influenciados pela política demagógica identitária do imperialismo acerca dos índios. Por serem tão pró-imperialistas, conseguem fazer o impossível, juntando a política de ataque a Lula com a política de pseudo-defesa do índio. Na prática, é uma versão esquerdista da Folha de S. Paulo, uma versão voltada para confundir a esquerda, principalmente a juventude que tem tendencias revolucionárias que não se opõe ao presidente Lula.