Repetindo o mesmo cenário que ocorreu às vésperas do golpe de 2016, todos os órgãos da imprensa burguesa estão se cartelizando para pressionar o governo do PT contra qualquer política que se choque contra seus interesses. O cenário já é bastante claro: para a imprensa, pouco importa que Lula tenha sido eleito. Pouco importa que tenha sido o presidente mais votado da história. Lula não pode ter um programa próprio, que entre em conflito com os planos dos grandes capitalistas, de tal modo que cada passo que der nesse sentido, receberá uma enxurrada de críticas truculentas.
Na última quinta feira, dia 1º de junho, o presidente Lula confirmou a indicação de Cristiano Zanin ao cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal, substituindo Ricardo Lewandowski, que se aposentou do posto no dia 11 de abril deste ano.
Mesmo antes de formalizada a indicação de Zanin, no decorrer dos últimos meses, a burguesia, através do Partido da Imprensa Golpista (O Globo, a Folha de S.Paulo, o Estado de S. Paulo etc.), vinha fazendo uma rotineira campanha a fim de pressionar Lula a não indicar o advogado. O motivo era claro – Zanin advogou como defesa do presidente nos processos decorrentes da Operação Lava Jato, entrando inúmeras vezes em embates com Sergio Moro e os procuradores que atuaram na operação.
Pela sua atuação contra a operação golpista liderada por Sergio Moro, Zanin passou a ser uma pessoa de confiança de Lula, que, por estas razões, resolveu indicá-lo ao posto de ministro do Supremo.
Durante a campanha feita contra Zanin, a imprensa deixava clara sua posição – Lula não pode ter um ministro de sua confiança. Os ministros do supremo devem estar todos sob o controle da burguesia. A fim de cercar o Lula por todos os lados, a burguesia fez campanha para que o indicado ao posto fosse uma mulher, de preferência negra. Assim, lançou mão do identitarismo para fazer com que a esquerda pequeno-burguesa embarcasse na campanha contra a nomeação de Zanin. E teve resultado: setores dessa esquerda oportunista, identitária, encamparam a tese de que havia muitos homens brancos no Supremo, e que Lula não poderia nomear outro.
Felizmente, o presidente não cedeu à pressão da burguesia e dos identitários, e nomeou Zanin ao STF, a fim de que haja alguém de sua confiança dentro desse órgão reacionário e antidemocrático. Lula fez o que deveria ter feito em seus governos anteriores, quando, seguindo diretrizes técnicas e recomendações da burguesia, nomeou ministros que eventualmente se voltaram contra ele, como Dias Toffoli, Joaquim Barbosa e Carmem Lúcia.
Agora, formalizada a indicação, a burguesia intensificou os ataques ao governo e ao próprio Zanin. Editoriais e colunas estão sendo publicadas nos principais jornais da imprensa golpista.
E o que se diz? Diz-se que Zanin não teria notável conhecimento jurídico (um dos requisitos subjetivos previstos na CF/88 para ser ministro do Supremo). Quem diz isto é Ives Gandra da Silva Martins, pai do ultrarreacionário presidente do TST (Tribunal Superior do Trabalho), Ives Gandra Filho, um inimigo dos trabalhadores que vive estipulando multas exorbitantes para os sindicatos em caso de greve. Ives Gandra (pai), ao criticar Zanin, tenta dar uma carteirada acadêmica – diz que para se ter notável saber jurídico não basta ser advogado, precisa ter títulos acadêmicos, ser professor universitário, concursado e outras babaquices.
Em outra coluna publicada no Estadão, partiu-se para o moralismo cínico. Manoel Gonçalves Ferreira Filho diz que nem tudo que é legal é moral, referindo-se à indicação de Zanin. Daí sugere que a indicação seria nula, por supostamente violar a moralidade da Administração Pública.
O Globo, em editorial publicado ontem, diz que o Senado precisa submeter Zanin a uma sabatina rigorosa. Diz que, até hoje, nenhum ministro foi barrado pela sabatina dos senadores, e que isto seria por medo dos parlamentares de eventualmente serem alvos do Supremo. Afirma que as coisas não deveriam ser assim. Então, conclui dizendo que “a presença de oposicionistas de destaque na CCJ traz alguma esperança de que o Senado cumpra seu dever com mais competência”.
Traduzindo, O Globo faz campanha para que o Senado, através da sabatina, barre a nomeação de Zanin.
Mas a oposição da burguesia não se dá apenas através da imprensa. Dá-se também no congresso.
Nikolas Ferreira, deputado federal ultrarreacionário, protocolou uma ação popular contra a indicação feita por Lula.
Sergio Moro, o ex-juiz golpista da Lava Jato, e agora senador, também seguiu a linha determinada pela burguesia, e disse que Lula “fere espírito republicano” ao indicar Zanin para o STF. E que moral este ser execrável tem para falar em espírito republicano, tendo em vista que ele ganhou de presente o Ministério da Justiça por ter ajudado a eleger Bolsonaro?
Curiosamente, Bolsonaro disse e reiterou que a indicação é de competência privativa do presidente, ao ser questionando sobre Lula ter indicado Zanin. O que mostra o nível de reacionarismo da imprensa burguesa, que se diz democrática.
Vê-se, portanto, que simplesmente não é permitido a Lula governar. No Congresso, nenhuma medida de seu programa de governo é aprovada sem a prévia chantagem de Arthur Lira e seus asseclas. Aliás, o presidente da Câmara já ameaça Lula de trancamento de pauta, caso o governo não continue a ceder emendas e ministérios aos deputados golpistas da trupe de Lira. Agora, Lula sequer pode indicar o Ministro do STF, que, como disse Bolsonaro, é de competência privativa sua (art.101, §único da CF/88).
Para todas as medidas que Lula toma no sentido de implementar seu programa nacionalista de governo, ou de se fortalecer para conseguir implementar esse programa, há uma reação automática e imediata por parte de diversos setores da burguesia (imprensa, Congresso etc.), dizendo que Lula não deveria ter feito o que fez.
O que ocorre é que a imprensa e o Congresso já estão cartelizados para reagir automaticamente, por reflexo a toda e qualquer iniciativa de Lula que contrarie seus interesses.
É a mesma situação que havia no Brasil às vésperas do golpe de 2016. Em outras palavras, as movimentações golpistas da burguesia contra Lula seguem em ritmo acelerado. Estão impedindo-o de governar para o povo, justamente para desgastá-lo, retirar-lhe apoio popular e facilitar sua derrubada.
Diante disto, muito embora a decisão de Lula ao indicar alguém de sua confiança para o STF tenha sido acertada, isto não será suficiente para barrar o golpismo que já desponta no horizonte. No terreno institucional, Lula sempre estará em desvantagem. Por isto é necessário se ancorar naqueles que constituem sua real força política – os trabalhadores, impulsionando uma mobilização de massas da classe operária e das massas exploradas, a fim de mudar a correlação de forças, dando a Lula o poder que ele precisa para governar para o povo e para desenvolvimento do país.