A visita de Maduro ao Brasil deu origem a uma onda de ataques unificados ao presidente venezuelano. Desde a direita mais pró-imperialista, passando pelo bolsonarismo, toda a imprensa, a esquerda pequeno-burguesa reformista e os pseudo revolucionários. Essa foi o caso dos stalinistas do PCB que aproveitaram o momento para atacar o governo da Venezuela com denúncias de uma suposta repressão ao Partido Comunista Venezuelano. O grande problema aqui não é entrar no mérito das denúncias em si, mas como o PCB adentrou no coro com a burguesia contra o governo Maduro, atacando-o da típica maneira da esquerda golpista.
Foram 3 artigos publicados em uma semana sobre o tema no site do PCB, algo bem acima da média para o partido. O pior deles é “Assalto ao PCV na Venezuela, o governo quer esmagar a esquerda” escrito por Elias Chacón Neri. Nele o PCB não apenas denuncia a suposta repressão do governo Maduro, mas faz toda uma análise golpista da conjuntura do país. O primeiro parágrafo já dá o tom: “Os últimos cinco anos foram marcados por medidas governamentais no campo econômico e político que expressaram claramente sua profunda e irreversível guinada à direita, sua passagem para o lado da reação e sua traição absoluta ao que foram em seu momento as conquistas da Revolução Bolivariana.”
É uma análise totalmente surrealista. O imperialismo fechou o cerco contra Maduro nos últimos anos, isso levou a uma grande guinada sua à esquerda. Essa é a única forma que o governo pôde se sustentar ante o ataque violento dos EUA. Mobilizou e armou a população, tomou mais políticas sociais, se alinhou ainda mais com os países em confronto com o imperialismo. O regime foi tão à esquerda que o próprio presidente passou a elogiar Marx, Lenin e Trótski em suas redes sociais e comentários de TV. Com um argumento inicial tão absurdo fica difícil levar a sério qualquer palavra escrita pelos golpistas stalinistas. Mas isso é só o começo.
O texto então faz a denúncia, que fica muito mais fraca ante tamanha sanha golpista: “O que aconteceu no dia 21 de maio, o infame atentado ao estatuto e à estrutura jurídica do Partido Comunista da Venezuela (PCV), a flagrante violação de todos os seus direitos políticos e democráticos, não é algo que nos deva surpreender, nem é uma “nova” ação, no sentido de que já não tenhamos visto ações semelhantes contra outras organizações políticas.” Essa é a única possível critica do PCB ao governo Maduro, mas que necessita ser averiguada, pois a repressão política às organizações financiadas pelo imperialismo é algo completamente compreensível e necessário em determinadas situações. E na atual conjuntura não é possível desconsiderar essa possibilidade.
O texto segue atacando Maduro: “Hoje, o governo de Maduro não é nem uma sombra remota do que foi o governo de Chávez no auge da Revolução Bolivariana. Reafirmou, como uma sentença de um tribunal, sua condição de governo de direita, reacionário, a serviço dos interesses do capital nacional e imperialista. O assalto ao PCV também deve ser entendido como um recado do governo à oligarquia tradicional e ao capital internacional, é mais um sinal de seu nível de disposição em continuar prestando um serviço inestimável aos seus interesses de classe.” A tese de Maduro serviçal do imperialismo é difícil de ser sustentada, tão difícil que não se apresenta nenhum argumento. O governo mais atacado pelo imperialismo da América do Sul é tachado de imperialista, um erro clássico do stalinismo.
O texto então afirma um dos maiores absurdos: “Hoje, voltando a utilizar o discurso hipócrita e sofista do bloqueio – um bloqueio que, além de atingir apenas a classe trabalhadora, não bloqueia ou impede a entrada no país de camionetas luxuosas para o transporte confortável dos membros do governo –, de supostas alianças do PCV com a direita, da “defesa da pátria” e tudo o mais, o governo pretende dar um golpe de misericórdia na esquerda venezuelana.” O PCB desconsidera completamente que o bloqueio é um gigantesco ataque do imperialismo ao governo Maduro. Por que os EUA impõem esse bloqueio apenas à Venezuela e Cuba? Se Maduro é um lacaio do imperialismo por que seu país recebe um tratamento parecido do único país socialista do continente?
No lugar de denunciar o bloqueio econômico, o PCV serve de base para a campanha política do imperialismo. O objetivo dos EUA com os bloqueios em todo o planeta é voltar a população pobre, mais afetada pelo embargo, contra o governo e não contra o imperialismo, responsável pela pobreza. O PCV ocupa exatamente essa posição, ataca o governo Maduro culpando-o pelas consequências do bloqueio. Em outras palavras, a política dos bloqueios se torna eficiente apenas quando organizações de esquerda, ou pseudo esquerdistas, fazem uma mobilização contra o governo. Essa é também a política das Revoluções Coloridas. Esse quadro deixa toda a denúncia muito suspeita, dado que o PCV aplica a política do imperialismo na Venezuela.
O autor então apresenta outro argumento: “Atuando em linhas totalmente autoritárias e antidemocráticas, no melhor estilo de Pérez Jiménez nos anos 1950 ou de Betancourt e Acción Democrática nos anos 1960, pretendem, de fato, banir o PCV.” Aqui se levanta a cartilha imperialista: Maduro é um ditador autoritário, é equivalente aos governos pró imperialistas das décadas de 1960 e 1970 e seu governo é corrupto! O fato do partido confundir o regime político de antes da Revolução Bolivariana com o atual também demonstra uma completa incompreensão da conjuntura política venezuelana.
O caso do PCV é um exemplo emblemático do oportunismo stalinista. Ou o partido está vendido para o imperialismo, ou está mais preocupado em interesses mesquinos, possivelmente eleitorais, e por isso ataca Maduro. A provável, conhecendo o PCB, é que seja uma mistura de ambos. O fato é que o oportunismo de esquerdistas pequeno-burgueses de forma alguma ajudará a classe operária venezuelana. Esta está mais preocupada em lutar contra o imperialismo, que a oprime brutalmente, e nessa luta Maduro é um grande aliado.