A visita recente de Nicolás Maduro, presidente eleito da Venezuela, fez revelar, novamente, alguns motivos que facilitaram a derrubada do PT do governo federal em 2016, e que facilitaram o golpe de Estado. Parte significativa desses motivos está dentro da própria esquerda.
Fora as posições das organizações e pessoas direitistas, que se manifestam contra os governos de esquerda, e que latiram contra a vinda do presidente da Venezuela (em último caso, um ato comum de diplomacia), a esquerda pequeno-burguesa mostra que teve papel fundamental no golpe que o Brasil sofreu. E mais, mostra que está disposta a levar adiante os interesses imperialistas no País.
É o caso do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados), do outrora “fora todos“, quando o Brasil sofreu o golpe de Estado. O partido publicou um texto onde afirmou categoricamente que “Maduro é um ditador e a Venezuela é uma ditadura capitalista”.
Lula afirmou, durante a visita, que Maduro e a Venezuela eram vítimas de uma falsa narrativa, e que o presidente daquele país deveria se manifestar e falar o que realmente acontece lá. O PSTU diz que a posição de Lula não representa a opinião da classe trabalhadora brasileira e que o governo de Maduro é capitalista e ditatorial.
O PSTU não pode dizer o que é ou não é a opinião da classe trabalhadora brasileira, até porque, quando aconteceu o golpe de Estado, a classe trabalhadora brasileira estava com Dilma Rousseff, e nem por isso o PSTU defendeu o governo Dilma, pelo contrário, defendeu sua deposição, através do “Fora Todos”.
Para dizer que o regime de Maduro é uma ditadura capitalista, o PSTU diz que é “Um regime cuja principal instituição são as forças armadas, a polícia e o serviço secreto”, e isso é o que caracteriza uma ditadura burguesa.
Oras, um regime onde a burguesia manda através do Estado capitalista é um regime da ditadura da burguesia. E isso não é o que acontece com a Venezuela, pelo contrário, é um país pobre e que tenta se proteger das constantes tentativas de golpes promovidas pelos norte-americanos.
São essas tentativas de golpes que dão origem a um exército regular que defende, realmente, o governo, o movimento bolivariano, e com toda razão. Não é um exército que entrega o governo de mão beijada, como foi o que aconteceu com o PT em 2016. Certos, então, os venezuelanos!
A matéria do PSTU diz, ainda, que as liberdades democráticas estão cerceadas naquele país (sem apresentar fatos, apenas a afirmação deles próprios). Falso. Bem pesado e bem medido, existe mais liberdade democrática na Venezuela que no Brasil, onde está terminantemente proibido fazer críticas às “instituições democráticas” como o Supremo Tribunal Federal (STF).
O PSTU ao fazer essas críticas, além de “denunciar” a situação social do povo venezuelano, que supostamente faria o povo fugir da Venezuela, se utiliza dos mesmíssimos argumentos da direita brasileira para criticar Venezuela e o restante dos países governados pela esquerda no mundo, como o caso de Cuba.
Obviamente o PSTU tenta sair pela esquerda, para não ser confundido tão rapidamente com a direita golpista brasileira: “não há nada de anti-imperialista, ou progressivo, ou de esquerda, no governo de Maduro. Pelo contrário, faz negócios com todos os países capitalistas do mundo alimentando sua burguesia pela renda do petróleo e, principalmente, em detrimento da vida dos trabalhadores”.
O que causa danos à vida dos trabalhadores venezuelanos são as sanções econômicas do imperialismo contra o país. Isso é que está esmagando o desenvolvimento da Venezuela, não seu governo. O mesmo ocorre em Cuba e em outros países governados pela esquerda.
É uma posição supostamente ultraesquerdista, que chama à derrubada do governo Maduro para que os interesses do povo venezuelano sejam atendidos. Isso quando o governo Maduro busca, desesperadamente, por ajuda dos demais países latinos contra as imposições e, agora sim, a ditadura do imperialismo sobre o continente. É a reedição da posição golpista do “fora todos”.
A tese do PSTU para Maduro é a mesma em que se abrigou quando do golpe de Estado contra o PT, no Brasil, em 2016: “a classe trabalhadora venezuelana precisa derrubar o regime de Maduro, e lutar para garantir liberdades democráticas, salário, emprego, educação, saúde, moradia dentro de uma perspectiva socialista”.
Trocando em miúdos, o governo precisa ser derrubado. Isso sem considerar que o povo foi quem ajudou o governo de Hugo Chavez/Nicolás Maduro a se manter de pé ao longo de quase duas décadas de tentativas de golpes dos norte-americanos, com direito a presidente autoproclamado (!).
Ora, qual seria a vontade do povo venezuelano que não seja a manutenção do governo Maduro? Não foi neste país que, em 2002, quando Hugo Chávez foi derrubado, a população (povo de verdade, não a esquerda classe média) ocupou o Palácio Miraflores para exigir a devolução do mandato de Chávez, e o conseguiu?
A imprensa direitista brasileira sapateou em cima da visita de Maduro ao Brasil, dizendo quase as mesmas coisas que disse o PSTU, especialmente sobre a ditadura venezuelana: “A retórica incrivelmente bajuladora de Lula em relação ao venezuelano Nicolás Maduro – cuja repressão sistemática e abusos de direitos humanos estão bem documentados – é muito mais prejudicial à reputação internacional do governo brasileiro do que qualquer outra coisa que Lula tenha dito ou feito até agora”, disse o Estadão, por meio de seu colunista Oliver Stuenkel.
Já a golpista Folha de S. Paulo, sem meias-palavras, copiando o PSTU ou vice-versa, afirmou: “Ditador Nicolás Maduro se encontra com Lula em Brasília”
Diz, o PSTU: “Lula e seu governo fecha os olhos ao cerceamento das liberdades democráticas e à superexploração da classe trabalhadora. Por outro lado, os bolsonaristas criticam a posição de Lula, mas ocultam o fato de que o regime de Maduro é o modelo que eles queriam implantar no Brasil. A classe trabalhadora brasileira não está representada em nenhuma dessas posições”.
Depois de tudo o que aconteceu no Brasil, onde, por muito pouco, Bolsonaro não se reelegeu, tendo se constituído uma grande força social direitista como jamais tínhamos visto antes, esta é a posição do PSTU: Lula não representa o povo, por mais que o povo tenha votado, em massa, em Lula, e espera ter seus direitos mais elementares garantidos.
Não custa lembrar: “Vamos construir uma greve geral que exija eleições gerais já e fora Dilma, Temer, Cunha e esse Congresso”, afirma o texto do PSTU, publicado em 25 de abril de 2016, às vésperas do golpe de Estado. Recordar é viver.
A posição do PSTU é, novamente, a cobertura esquerdista para um possível golpe de Estado na Venezuela. Nesse sentido, é preciso estar atento às novas tentativas de golpe contra o PT no Brasil, pois a esquerda brasileira já voltou a se assanhar e não vai demorar a retomar a política golpista do passado.