Em artigo publicado no portal Brasil 247, intitulado “Como conter a avalanche da direita?”, o articulista Bepe Damasco apresenta a típica tese do “pragmatismo político”. Isto é, de que o governo deveria se dobrar aos demandos da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
As premissas de Bepe Damasco são verdadeiras. Diz ele: “o Legislativo (…) conta com uma representação bem maior dos opressores do que dos oprimidos, embora estes sejam maioria absoluta da população do nosso país”. Em outras palavras: o Congresso Nacional, eleito em meio a um golpe de Estado, é uma instituição controlada por uma corja que não representa os interesses da população. E essa corja, por sua vez, está em profunda contradição com o Poder Executivo, uma vez que Lula foi eleito por meio de uma intensa mobilização popular.
O problema está em como lidar com essa realidade. O que fazer, quando, como diz Damasco, “entre os 513 deputados federais e 81 senadores, tem-se uma folgada maioria de direita, acrescida por um contingente nada desprezível de parlamentares de extrema-direita”?
Para Bepe Damasco, não há alternativa. Lula deveria continuar negociando com o parlamento – em outras palavras, permanecer refém deste – até que a “mobilização da sociedade democrática” modifique a correlação de forças. Isto é, Lula deveria permanecer nas mãos de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco até que a correlação de forças, magicamente, mudasse.
E mais: Lula não deveria, para Damasco, “peitar o Congresso”. Para ele, tal hipótese lhe causa até calafrios (!).
Mas aí é que fica a questão: sem “peitar o Congresso”, como Lula terá êxito em aplicar a sua política? Chegamos aqui à encruzilhada de sempre do chamado “pragmatismo”: no final das contas, o presidente teria de abrir mão de seu programa e ter uma posição passiva em relação aos seus sabotadores.
O medo que Damasco tem de que Lula “peite o Congresso” é de fácil compreensão. Fazer isso abriria uma crise institucional, que poderia dar lugar a uma onda de ataques contra o governo. Tais crises são inevitáveis quando se tem dois pólos tão opostos: de um lado, os interesses da população pobre e, de outro, os interesses de um bando de parasitas que representam os poderosos. Isto é, não há como defender os interesses dos trabalhadores sem se dispor a um enfrentamento com a direita.
A única questão que merece ser avaliada, portanto, é: o governo tem condições, neste momento, de “comprar uma briga”? Isto é, se declarar guerra ao Congresso, ele sairá vitorioso?
Ao que tudo indica, neste momento, as condições são muito desfavoráveis para um conflito aberto. No entanto, a posição correta de Lula não pode ser a de ignorar o conflito, uma vez que a consequência inevitável desse tipo de política será a de permanecer eternamente como refém. A política correta para se libertar do jugo dos golpistas, mesmo em um momento em que “peitar o Congresso” não seja viável é a de preparar esse enfrentamento.
Isto é, em vez de ficar a cada momento apenas entregando um pedaço do governo aos corruptos do Congresso Nacional, Lula precisa ter uma política que crie as condições para “peitar” os seus inimigos. É preciso tomar uma atitude, uma ação política extraparlamentar que faça com que Lula, quando vá “peitar o Congresso”, esteja fortalecido pelo amplo apoio das massas. É preciso, assim, colocar o enfrentamento no horizonte e agir imediatamente diante dessa perspectiva.
Para preparar o enfrentamento, é preciso fazer um amplo apelo às massas. Lula deve tomar todas as medidas possíveis que fortaleçam o seu apoio, como o acertado fim da política de preços da Petrobrás, e precisa, junto com o maior partido de esquerda do País, que é o PT, e com a maior central sindical da América Latina, que é a CUT, denunciar toda a sabotagem ao governo.