A imprensa da burguesia, como sempre afinada pelo mesmo diapasão, vem noticiando a possível aprovação da PEC da Anistia a partidos políticos que teriam cometido “crimes eleitorais” (“CCJ aprova PEC que anistia partidos que cometeram crimes eleitorais” – UOL) com ares de escândalo nacional. As matérias enfocam uma suposta semelhança entre o PT de Lula e o PL de Bolsonaro, dado que um e outro se posicionaram a favor da anistia, e, como não poderia deixar de ser, jogam a população contra todos os partidos arguindo serem as pesadas multas decorrentes de desrespeito às cotas de negros e mulheres.
Nesse cenário, as vozes destacadas pela Rede Globo, no principal jornal da emissora, e pelos demais veículos do chamado PIG (Partido da Imprensa Golpista) são a de uma indignada Sâmia Bomfim (PSOL) e a do golpista lava-jateiro Kim Kataguiri (União Brasil). Este, de olho na câmera, aciona o discurso moralista e avisa o público de que o “seu dinheiro está sendo roubado”, lembrando os tempos de MBL e do pato amarelo na avenida Paulista; aquela traz o moralismo identitário, condenando a misoginia e o racismo dos partidos. Qualquer semelhança entre esses dois personagens talvez não seja mera coincidência.
Se o PT de Lula e o PL de Bolsonaro são iguais porque advogam a anistia das dívidas de campanha, que dizer da coligação Rede-PSOL e do Partido Novo, que se posicionaram contrariamente à PEC? Uma e outra agremiação talvez possam prescindir do dinheiro público destinado às campanhas, pois, se uma recebe apoio de ONGs estrangeiras interessadas na formação de quadros dentro da esquerda, a outra é um partido de empresários que, como pessoas físicas, doam altas quantias aos candidatos, dando uma volta na lei que proíbe financiamento por empresas. Tudo dentro da “lei”. A propósito, a deputada Tabata Amaral (PSB) – financiada pelo escroque João Paulo Lemman, que deu grande golpe na praça recentemente no caso das Lojas Americanas – também votou contrariamente à PEC.
A especialidade do jornalismo “profissional” da imprensa da burguesia é omitir informações e pinçar apenas aquelas que sejam úteis aos seus propósitos. No caso em questão, selecionaram um ou outro caso de grotesca malversação dos recursos do fundo eleitoral por algum partido fisiológico e apresentaram como regra, o que torna o noticiário tão sério quanto a última fofoca que circula no salão de cabeleireiro.
O que ninguém mostra é o emaranhado de regras criadas pelo TSE a cada eleição, que favorecem o cometimento de “crimes eleitorais” de toda monta, e a burocracia kafkiana enfrentada pelos partidos para tentar explicar tudo tim-tim por tim-tim, sem escorregar nas cascas de banana dos tribunais. Criar cotas de negros e mulheres em partidos, a bem da verdade, é uma ingerência nas agremiações, às quais compete apresentar seus candidatos aos eleitores (a estes, sim, cabe a escolha), mas esse debate é vetado pelos identitários e pela imprensa burguesa, que mais parecem ser um mesmo bloco.
A aceitação passiva dessa regra como algo positivo ou benéfico para a sociedade é convergente com a pressão que essa imprensa exerce sobre a opinião pública para influenciar Lula a abrir mão de sua escolha para o STF em benefício de alguém que seja uma “mulher negra”. A farsa desse tipo de política, no entanto, parece estar cada vez mais evidente.
Além dessas questões, pouco se vê nessa imprensa “à prova de fake news” quem mostre por que o financiamento público de campanhas é importante. Não fossem esses recursos, somente os ricos, como a turma do Partido Novo, do PSDB ou do PMDB, e os financiados por organizações estrangeiras disfarçadas de entidades defensoras de meio ambiente, povos originários, mulheres, negros, LGBT teriam condições de apresentar candidaturas nas eleições. É por essas e por outras que o povo precisa de alternativas a essa imprensa que representa apenas os interesses do capital.