Eleições presidenciais

Turquia terá segundo turno pela primeira vez na história

Ao contrário do que pesquisas apontavam, o atual presidente Recep Erdogan obteve mais votos na sua tentativa de reeleição

No início desta segunda-feira (15), o Conselho Superior Eleitoral da Turquia anunciou oficialmente que as eleições presidenciais irão para o segundo turno. O confronto, conforme esperado, será entre o atual presidente, Recep Tayyip Erdogan, e o líder da oposição, Kemal Kilicdaroglu. A próxima votação ocorrerá no dia 8 de maio.

O fato de haver um segundo turno causa pouca surpresa. É o que já vinha sendo anunciado pelos institutos de pesquisa. Essa vem sendo tratada como a disputa mais acirrada das eleições presidenciais turcas, que nunca tiveram um segundo turno até então

O que não estava previsto pela imprensa imperialista, no entanto, foi o fato de que Erdogan terminou o primeiro turno em primeiro lugar. Na última projeção, era Kemal Kilicdaroglu que aparecia na frente, com cerca de 5% de vantagem. O resultado oficial, no entanto, mostrou um Recep Erdogan com 49,51% do eleitorado contra uma votação de 44,88% de seu rival. O terceiro colocado, o nacionalista Sinan Ogan, conquistou 5,17%, dos votos, de modo que poderá ter uma influência importante no segundo turno.

O resultado foi visto com otimismo por parte dos aliados de Erdogan. Ao que tudo indica, o presidente turco também conseguirá uma vitória expressiva no parlamento.

A imprensa imperialista não esconde o seu descontentamento:

“Durante meses, os diferentes partidos de oposição da Turquia reuniram recursos, em uma tentativa de acabar com um presidente que ampliou o poder dramaticamente desde um golpe fracassado contra ele em 2016”, afirmou o G1.

Ficou evidente, nos últimos meses, que o motivo do acirramento da eleição não é, como afirmou a imprensa, devido ao caráter “autoritário” do governo, mas principalmente pela pressão do imperialismo para que a oposição tomasse conta do país. O próprio Erdogan denunciou que havia uma conspiração em curso para impedir a sua vitória.

Uma das principais demonstrações disso, além do tratamento dado pela imprensa, acusando Erdogan de ser um “ditador”, está no fato de que o imperialismo fez uma campanha de pressão, incluindo a divulgação de “sex tapes”, para que um candidato, Muharrem Ince, renunciasse. Com sua saída, a intenção de voto em Kemal Kilicdaroglu aumentou em 5%, de acordo com as pesquisas.

A pressão contra o governo de Erdogan, que se somou a dificuldades reais do governo, como o terremoto que assolou o país há três meses e deixou 50 mil mortos, vem da necessidade do imperialismo de impor um governo aliado aos seus interesses. Desde 2016, quando sofreu uma tentativa de golpe frustrado orquestrado pelo imperialismo, Erdogan vem se deslocando a passos largos rumo à China e à Rússia. Uma grande demonstração desse deslocamento foi o fato de Erdogan não enviar armas à Ucrânia, mesmo a Turquia sendo parte da OTAN.

Outro dado importante desse estreitamento é que Vladimir Putin, presidente da Rússia, inaugurou a primeira usina nuclear da Turquia às vésperas do pleito, no que foi visto como um grande gesto de apoio ao presidente turco.

Se por um lado a votação de Erdogan serviu para dar ânimo à sua campanha e jogar um balde de gelo na oposição, não se pode acreditar que a eleição já acabou. Nas próximas semanas, espera-se um aumento da pressão do imperialismo para que Erdogan seja derrotado.

A derrota de Erdogan é fundamental para o imperialismo neste momento, uma vez que está perdendo todo o apoio na região do Oriente Médio, do Leste Europeu e da Ásia Central, onde a Turquia tem bastante influência. Países como Afeganistão, Arábia Saudita, Cazaquistão e mesmo Israel estão cada vez mais se agrupando em torno da China e da Rússia, rebelando-se contra a ordem mundial. Sendo a Turquia um país com localização estratégica e ainda muito bem armado, seu controle é decisivo para o imperialismo.

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