Se depender da Esquerda Online, vai faltar presídios no Brasil, como mostra o artigo “Bolsonaro na prisão Para Campos Neto é demissão!”, título que até rimou e que parece uma palavra de ordem para se cantar em alguma manifestação.
Para o Esquerda Online, das duas tarefas centrais na conjuntura que elenca, “A primeira é aumentar a pressão pela prisão de Bolsonaro”. Ou seja, em vez de organizar a classe trabalhadora para pressionar o Congresso e assim dar espaço para que Lula procure implementar políticas sociais, o foco é pressionar o Judiciário, o Supremo Tribunal Federal, aquele que ajudou a eleger Bolsonaro, para prendê-lo.
Essa ideia de se colocar todo mundo na cadeia é uma campanha, um comportamento, da direita, que se utiliza de sua grande imprensa para criminalizar a política. Não que Bolsonaro não possa, ou não deva, responder pelos crimes que tenha eventualmente cometido, não se trata disso, apenas que não é papel da esquerda pressionar as instituições do Estado burguês para tirar da frente seus adversários políticos, como faz costumeiramente a burguesia.
O que foram o Mensalão e a Operação Lava jato, senão um grande “manda prender”? Aliás, e isso a esquerda deveria ter notado, mesmo com toda a perseguição judicial, o PT não morreu, conforme gostariam, e Lula liderava as pesquisas de intenção de voto mesmo estando encarcerado.
Nos Estados Unidos, Donald Trump deu um salto nas pesquisas eleitorais após sofrer uma série de acusações. O mesmo vai acontecer com Bolsonaro, pois tanto lá como cá os eleitores vão tratar esse assunto como perseguição política e apoiar ainda mais essas figuras.
O tal do ‘sem anistia’
O Esquerda Online fica repetindo esse ‘sem anistia’, que é uma palavra de ordem sem apelo popular, serve mais para uma pequena burguesia que está iludida com o fato de Lula ter vencido a eleição presidencial e que com isso, supostamente, teria o Estado sob seu controle. Os distúrbios de 8 de janeiro já deixaram claro que a coisa não é bem assim.
“Ganhar a maioria do povo para apoiar a prisão de Bolsonaro”? Será que a população vai sair às ruas para colocar alguém na cadeia? Vamos reeditar a campanha reacionária dos ‘amarelinhos’ com pixulecos do Bolsonaro vestido de presidiário? Esse seria um movimento completamente reacionário e despolitizado.
Colocar Bolsonaro na cadeira vai diminuir a inflação, aumentar o salário-mínimo, construir mais hospitais e escolas? Não, não vai, e é por isso que essa conversa de ‘sem anistia’ não poderá mobilizar a classe trabalhadora.
Essa campanha é tão reacionária que levanta a bola do Supremo, instituição que é uma das mais nefastas e aí se torna uma espécie de aliada dos trabalhadores. Por isso lemos que “as decisões de Alexandre de Moraes, que estão encurralando Bolsonaro e seus comparsas, são muito positivas”. E não adianta dizer que “a ação repressiva do STF isoladamente não basta”, e que “é preciso reforçar a pressão pela prisão do golpista junto às camadas populares, nos locais de trabalho e estudo. Os crimes desses bandidos precisam ser explicados ao povo”. Tudo isso não passa de uma proposta absurda, a população não tem que servir de suporte para as instituições repressoras do Estado.
É mentir para a população dizer que “se houver prisão de Bolsonaro com apoio da maioria população, teremos uma enorme vitória política”. E colocar a extrema-direita na “ilegalidade”, só vai fazer com ela atue de forma ilegal, nada além disso. Se não houver um crescimento da esquerda, um enfrentamento efetivo contra a direita golpista e o neoliberalismo, a extrema-direita vai continuar existindo. Lembrando que o fascismo será alimentado pela direita para ser usado como arma contra a classe trabalhadora.
Abandonar as ilusões
Tentar colocar adversários na cadeia não é papel da esquerda. Nossa tarefa é fortalecer a classe trabalhadora. A cadeia pode até tirar Bolsonaro do caminho, mas não vai acabar com o bolsonarismo, pois estamos diante de um problema social, não judicial.
Por que o bolsonarismo cresceu? Como combatê-lo? Essas são as perguntas que devem ser feitas. Olhando o problema mais de perto, notamos que a extrema-direita cresceu com um discurso ‘antissistema’, ou seja, contra as medidas neoliberais que a direita vinha tomando há décadas e que degradaram a vida tanto da classe trabalhadora como de setores médios da sociedade.
O bolsonarismo se alimenta da classe média, mas também de elementos da classe trabalhadora que não viram na esquerda uma verdadeira defensora de seus interesses e por isso foram capturados pelo discurso demagógico da extrema-direita.
O extremismo da direita também é alimentado pela criminalização da política. Isso que a esquerda vem repetindo apenas aumenta a aversão da população contra quem faz política. Bolsonaro diz que não é político; Sérgio Moro não se diz político; todos os integrantes do MBL que diziam ser contra a política se elegeram com base nesse ambiente que se formou.
Ficar pedindo cadeia para este ou aquele adversário é, além de um abandono da luta política, um fortalecimento das instituições repressoras do Estado e dos métodos usados pela direita, que controla suas instituições.
Esses setores da esquerda precisam abandonar suas ilusões e voltarem sua atenção para a classe trabalhadora, caso contrário, estarão apenas fortalecendo o crescimento da extrema-direita.
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