Rui Costa Pimenta, em uma análise publicadas nas redes sociais há poucos dias, está certo ao denunciar os riscos de uma caçada jurídica a Bolsonaro & Filhos. Nesse caso, a esquerda liberal cirandeira – como sempre – está errada. Rui percebeu que a criação de um mito da direita, um “mártir da liberdade de expressão”, poderá ressuscitar Bolsonaro, retirando-o do limbo político onde se encontra depois de saiu do seu cargo e que seu inúmeros crimes foram descobertos. Os crimes que apareceram até agora – como a adulteração do cartão de vacinas – não vão mantê-lo muito tempo afastado da política. São crimes muito frágeis para colocar em risco – ainda mais destruir – o mito bolsonarista.
Pensem bem: o mesmo ocorreu com Lula. Eu questiono se essa estratégia de ataques insistentes pelo aparato judicial não tende a fracassar da mesma forma como aconteceu com os ataques à Lula; pouco tempo se passou e Lula voltou à cena política, e ainda por cima concorreu e venceu as eleições. Por que não poderia ocorrer o mesmo com Bolsonaro? É chato ter que concordar com as visões mais racionais e abandonar nossas ilusões, mas a preocupação que muitos têm demonstrado com o futuro do bolsonarismo – com ou sem Bolsonaro – é legítima e faz todo o sentido. Pode ser até que nossas preocupações estejam sendo superestimadas, afinal Bolsonaro não tem 10% da capacidade de articulação política de Lula, mas ainda assim olhar este movimento de extrema-direita como uma força popular viva e atuante é essencial para poder vencê-lo. Neste aspecto, a postura do PCO sempre foi absolutamente coerente: contra o bolsonarismo, mas sem se iludir com os ataques (inúteis) à pessoa de Bolsonaro e aos bandidos que o cercam.
Querem exemplos? Ferdinand Marcos Júnior é o atual presidente das Filipinas, e isto ocorre porque a deposição de seu pai por uma revolução não exterminou a ideologia de vassalagem ao imperialismo que ele representava. A filha de Keiko Fugimori, quase foi eleita (e não há dúvida que existem chances grandes de que será em breve). A direita se revigora, mesmo quando as personalidades (Fugimori pai, Ferdinand Marcos pai, Bolsonaro) são caçados pelos cirandeiros e a esquerda de visão curta. Enquanto perdemos tempo obcecados por personalidades, as ideologias se metamorfoseiam em novos corpos e retornam ao poder.
Todavia, não sou contra a penalização de Bolsonaro, assim como acredito que Heleno, Mourão, Moro, Dalanhol, os militares et caterva devem pagar pelos crimes cometidos desde os golpes de 2016 contra Dilma e a prisão arbitrária de Lula. Mais do que isso: se esses personagens passarem incólumes por seus crimes, como aconteceu com os torturadores e os militares da ditadura militar, nosso país estará condenado a mergulhar no fosso do atraso e da estagnação por mais 50 anos. A impunidade criminosa dos artífices do regime de 64 nos condenou a repetir na atualidade a promiscuidade da caserna com o poder. Todavia, permitir que nossos ataques sejam centrados em personalidades – e não na ideologia fascista que eles representam – é um erro grosseiro, que poderá nos custar muito caro. Não é possível atacar Bolsonaro enquanto deixamos a direita de Alexandre de Morais, Waldemar da Costa, Temer, Tarcísio etc, correr solta, ainda mais quando vemos tanta gente que se considera de esquerda exaltar o autoritarismo performático de um juiz do supremo.
Não esqueçam: a história ensina que em todas as épocas da humanidade o abuso de autoridade e o punitivismo sempre acabaram penalizando a classe operária, mesmo que nos primeiros momentos possam ter nos iludido, atingido de raspão a classe burguesa – que, em última análise, sustenta e o promove o sistema judiciário.