O Diário Causa Operária (DCO) e o Coletivo Terra Vermelha recebeu uma carta do indígena Guarani-Caiouá Leonardo de Souza que está há cinco anos na Penitenciária Estadual de Dourados (PED) após uma ação criminosa do governo do estado do Mato Grosso do Sul no município de Caarapó.
Leonardo Souza foi preso no dia treze de dezembro de 2018 durante ação criminosa da polícia área indígena de Tey’i Kue. O indígena foi disputado pelas forças policiais (polícia civil, militar, federal e força nacional) para quem o prenderia e acabou sendo preso em sua casa pela Força Nacional.
Foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) pelos crimes de tortura de policiais, cárcere privado qualificado, roubo qualificado, sequestro, dano qualificado e corrupção de menores após o episódio que ficou conhecido como Massacre do Caarapó.
O ataque contra os índios nesse massacre ocorreu na manhã do dia 14 de junho e envolveu ao menos 70 fazendeiros e pistoleiros uniformizados, mascarados e munidos de armas de fogo de diversos calibres para retirar à força os indígenas das retomadas feitas em propriedades no entorno da reserva, as quais incidem sobre a Terra Indígena Dourados-Amabaipegua I.
A ação criminosa ocorreu dois anos antes (2016) que contou com apoio da polícia, resultou no assassinato do filho de Leonardo, Clodiodi Aquile de Souza e deixou diversos outros indígenas feridos, seis deles por armas de fogo e cinco em estado grave. Kunumi Kusua Vera, irmão de Clodiodi, ficou um mês internado no hospital, em estado grave, e ainda carrega em seu abdômen o projétil que o atingiu durante a ofensiva.
Desde então a justiça, a polícia e o governo do estado fazem de tudo para manter o indígena preso.
Durante a campanha para liberdade dos nove indígenas presos no início de abril pelo governo de Eduardo Riedel no município de Dourados, na retomada Nova Iwu Vera, a equipe do DCO recebeu a carta de Leonardo Souza com um pedido de ajuda para ser divulgado. Veja a transcrição da carta abaixo:
Bom dia, boa tarde. Eu sou Leonardo de Souza. Eu quero explicar o que eu estou sentindo uma dor. Para a Funai de Dourados, tem como me ajudar? Eu tenho uma doença diabético, hérnia, pedra no rim, pressão alta. Eu estou perdendo visão do olho60%. Por isso eu queria conversar pode ser com APIB. Alguns advogados está do meu lado. Eu preciso muita coisa aqui, remédio para dor, torcilaque. Eu tenho receita para colírio. Quem é que pode me ajudar a comprar. Funai pode me ajudar trazer umas compras trazer uma vez por mês. Eu não estou bom de saúde por isso eu quero conversar com a minha esposa. Para ela trazer uma calça, uma camisa, um chinelo, número 41, 2 cuecas, 2 pastas de dente, uma escovinha, 2 kg, sabão em pó, 5 barra de sabão Ypê, 5 sabonete, 3 rolos de Rexona, 5 prestobarba. Alguém pode me ajudar com ventilador, um fogãozinho elétrico. Eu preciso também de um colchão.
Eu estou com um ano e 5 meses, não tenho mais visita. Eu preciso falar com minha esposa, dona Regina Rodrigues da Silva, sobre minha família, sobre minha doença. Número da casa 378. Preciso urgente aqui no presídio ela porque eu estou muito tempo na cadeia.
Eu não matei nem roubei, nem agredi mulher, nem as crianças, ninguém, nem mandei fazer para ninguém. A comunidade da aldeia Tey’i Kue município de Caarapó. Eu estou pagando a culpa da comunidade tanto eu estou aqui, perdi meus filhos, Jesus de Souza Rodrigues,33 anos, também, meu irmão Menegildo de Souza mais outro Zenildo Isnande, meu pai, Lúcio de Souza. Também Clodiode Aquileu Rodrigues de Souza, 22 anos.
Cadê aquele que tirou a vida dele? Ele deixou 2 filhas sem pai. Quem vai manter essas filhas, Jesus de Souza Rodrigues, deixou uma filha, 10 aninhos, um filho de 1 ano, mais um filho de 14 anos.
Eu tenho que sair para mim, plantar Rama de mandioca amarelinho, milho, feijão, arroz, batata, criar animais, porco e galinha, para mim, manter minha neta e neto, 5 crianças ficou sem pai. Único eu sou avô deles, esta criança tem que estudar. Eu tenho que ajudar eles. Único que tem plantar para mim vender, comer com minhas famílias. Há 8 anos atrás, eu plantava muito. Funai me conhece muito bem. Prefeitura de Caarapó também. E a Agraer também.
Me dará força entidade, por favor para mim, eu preciso apoio de vocês, somente nosso senhor Jesus Cristo vai pagar todo vocês sua ajuda para mim, eu agradeço desde já.
Leia no Salmo capítulo 61, amém.