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Lula na China

Jones Manoel se candidata a conselheiro de Lula

Jones Manoel se propõe a analisar a viagem de Lula à China, mas não consegue sair da superfície. Tudo o que consegue é fazer uma análise pifia, e cobrar um projeto do governo

Jones Manoel

O youtuber e influencer, Jones Manoel, publicou em seu canal, neste 27 de abril, um vídeo intitulado ‘Lula na China: qual o resultado da viagem?’, no qual tece críticas ao presidente que, segundo ele, poderia ter conseguido acordos muito melhores, como teriam conseguido outros países menos relevantes no cenário mundial.

Logo de início, começa se desculpando por ter demorado tanto para analisar essa viagem, mas alega que esperou vários analistas escreverem antes, pois “a viagem tinha algo de espetacular, mas, ao mesmo tempo, parece que faltavam algumas coisas”. Jones diz que chegou a uma conclusão acertada: “o valor de 50 bilhões em acordos comerciais é muito significativo, um dos maiores da diplomacia brasileira. 50 bilhões não é um valor desprezível, para se ter uma ideia, o orçamento de Pernambuco é de 44 bilhões”. E faz a ressalva que essa quantia, “diluída nos quatro anos do mandato de Lula, dá pouco mais de 10 bilhões por ano, o que é pouco para as dimensões da economia brasileira”.

Jones Manoel não se decide se o acordo é significativo ou se é pouco. Para ele, “são acordos que não revertem a dinâmica primário-exportadora da relação China/Brasil. Ou seja, o Brasil basicamente exporta para a China minério de ferro, carne de vaca [etc] e importa da China produtos manufaturados de complexidade diversa. Vários deles estão ligados à própria dinâmica do agronegócio brasileiro, como certificação de carne digital.

O youtuber acredita que seria possível que Lula, com quatro meses de mandato, voltasse da China com um acordo capaz de mudar a estrutura econômica brasileira. Segundo afirma,faltou, embora Lula tenha declarado isso, uma perspectiva brasileira de conseguir arrancar da China uma mudança dos padrões de troca”. Qual seria a mágica? O Brasil vem sofrendo um processo brutal de desindustrialização desde o governo Collor. O período FHC acabou com praticamente um terço da nossa indústria. O pouco que os governos petistas conseguiram reverter, foi completamente destruído após o golpe, nos governos Temer e Bolsonaro. Ao ponto de não conseguirmos produzir no Brasil máscaras cirúrgicas no início da pandemia. As próprias pessoas tinham que improvisar e produzir em casa.

Os outros conseguiram

Jones acredita que Lula “poderia ter conseguido muito mais”, pois a Argentina, que tem uma economia, território, população e importância geopolítica menores que a brasileira, conseguiu 120 bilhões de reais, mais do que o dobro do que conseguimos. E, com isso, conclui que, realmente, 50 bilhões é pouco.

Segundo conclui, o Brasil se coloca numa posição que não tem capacidade de negociar melhor com a China pelas “limitações internas de seu projeto”, que caminharia, com o ministério de Fernando Haddad, e Simone Tebet no planejamento, para um projeto econômico social liberal, que vai estar pautado numa política de austeridade mais racional, menos brutal que no governo Temer e que o governo Bolsonaro. Um projeto que vai depender do investimento privado para impulsionar a economia. O que coloca limitações que ao final de quatro anos de governo Lula, nós não teremos nenhuma industrialização, nenhuma mudança significativa no padrão produtivo.

Jones Manoel cismou com a palavra projeto, como se em política bastasse ter um ‘projeto’ para que tudo se resolvesse. Mas, insiste que “não dá para chamar a China para ser parceira de um projeto radical de industrialização e de mudança do padrão tecnológico e produtivo brasileiro porque esse projeto não existe no Brasil”.

Para J. Manoel, o Brasil poderia tranquilamente oferecer à China um acordo para que se triplique as linhas de metrô e trens nas dez maiores regiões metropolitanas. Porém, só em São Paulo, teríamos que construir mais duzentos quilômetros de metrô. A um custo de R$ 425 milhões por quilômetro, teríamos que ter um investimento de pelo menos R$ 85 bilhões.

Em seu vídeo, Jones Manoel diz também que poderíamos propor para a China que desejamos trocar a nossa frota por veículos elétricos, temos um mercado muito promissor, e que atuaríamos como promotores de venda desses veículos para toda a América Latina e que os chineses topariam. É incrível como a vida pode ser simples. Será que o youtuber pensou no tamanho da frota brasileira e na infraestrutura para se ter esse tipo de veículo que, convenhamos, está longe de ser uma realidade?

Aos poucos, enquanto fala, Jones Manoel parece que vai se inteirando mais da realidade, pois diz que não dá para fazer isso com teto de gastos, com a maior taxa de juros do mundo, com a Simone Tebet no Planejamento, sem nenhuma perspectiva estratégica de longo prazo de industrialização e de planejamento econômico, com essa distribuição de renda bizarra, sem reforma agrária e com mercado brasileiro tão restrito.

Avançando pelo vídeo, temos que, para ele, falta ‘ousadia’ na parceira Brasil-China. Há, na prática, um deserto de ideias por parte da equipe econômica do governo Lula, pois países menos importantes, como Irã, Bolívia e Argentina, conseguiram acordos mais vantajosos.

Jones Manoel acha que é um problema de ousadia e de se ter ideias. Simplesmente passa por cima da realidade brasileira. O governo está acuado, enfrenta um Congresso hostil. A taxa de juros foi mantida a 13.75% ao ano porque no comando do Banco Central tem um bolsonarista agindo em favor dos interesses dos banqueiros. O presidente do BC manda mais na economia que o presidente da República.

O dólar

Foi importante a declaração de Lula para se fazer comércio por fora do dólar? Foi”. Segundo ele, porém, como isso não será obrigatório, teríamos que ver se haverá adesão da burguesia brasileira. Jones acha que será muito baixa. Mas não explica o porquê.

É incrível que Jones simplesmente ignore o impacto dessa fala de Lula, o imperialismo ficou furioso, pois o dólar é uma das principais armas de dominação. O controle dessa moeda permite que os EUA asfixiem economias no mundo todo. Veja-se o caso de Cuba, Venezuela, Irã etc. Como se não bastasse, Lula disse que os BRICS vão estimular que outros países transacionem por fora da moeda americana.

Em seguida, diz que “O saldo da viagem de Lula à China, é que, na verdade, a impressão que fica, é que falta projeto interno, horizonte estratégico, expansão de enfrentamento à burguesia e ao rentismo brasileiros. Para compensar tudo isso é preciso trazer investimento externos”.

Esqueçam o que eu disse

Na metade do vídeo, Jones se contradiz. Diz que com o teto de gastos haverá um congelamento de investimentos e isso impõe a morte de qualquer projeto estratégico, que vamos tentar compensar isso com investimentos estrangeiros; e como a gente depende de investimento estrangeiro para ter algum dinamismo econômico, não temos capacidade de negociar muito. Portanto, o que vier está massa. Porque a gente precisa, não vai ter capacidade interna de impulsionar um projeto de transformação estrutural das condições produtivas brasileiras. Estamos perdendo uma janela de oportunidades fantástica.

Se, no começo, o Brasil podia tudo, muda de ideia e diz que a coisa não é bem assim.

Jones Manoel, mais ao final, insiste que a China toparia fazer mais acordos com o Brasil, e que se até Vargas conseguiu arrancar uma CSN dos americanos, daria para arrancar muito mais dos chineses, caso houvesse um ‘projeto’.

Dentro da cabeça de Jones Manoel está tudo resolvido. A China, para ele, é uma espécie de galinha de ovos de ouro que não estamos sabendo aproveitar.

Tudo o que ele consegue ver é um ‘acordo comercial’ malfeito. Não enxerga a importância política da aproximação entre Brasil, Rússia e China. O que temos é um pequeno-burguês procurando motivos para atacar um governo que já vem sendo sabotado por todos os lados.

Apesar de ter esperado todos os analistas falarem para depois dar sua opinião sobre a viagem de Lula à China, Jones Manoel fez uma avaliação superficial e fantasiosa da realidade, sua contribuição para o debate das questões políticas brasileiras e mundiais é igual a zero.

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