O sítio Esquerda Online publicou em seu sítio uma matéria do grupo Resistência-Psol, que faz um balanço de seus cinco anos. O texto é assinado por Valerio Arcary e Gabriel Casoni.
O artigo está dividido em 5 tópicos. No primeiro é feito um balanço, dando conta de que o grupo surge de uma cisão com o PSTU em 2016. Dois anos mais tarde e outros grupos se juntaram para formar o Resistência.
1)
Segundo avaliam, a classe trabalhadora se fraturou em 2015/16. No entanto, a avaliação não está correta. Desde 2005, pelo menos, o comportamento de parte da esquerda, no âmbito do julgamento do Mensalão, já demonstrava a profunda direitização de determinados setores. A ofensiva da burguesia contra o PT foi aproveitado por aqueles que já vinham criticando o governo Lula desde sua posse. Críticas que são mantidas até hoje, pois há quem diga que o PT não passa de um partido neoliberal
Em 2013, por exemplo, o golpe militar no Egito retirou do poder Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana. O PSTU saudou o golpe como se se tratasse de uma revolução popular. Esse partido também apoiou o golpe dado na Ucrânia, em 20214. O movimento foi planejado e conduzido pelos Estados Unidos, que mandou para a Ucrânia sua enviada especial, Victoria Nuland.
A Ucrânia tinha na Rússia o seu principal parceiro comercial, até que o imperialismo tratou de modificar a situação, treinando e financiando grupos nazistas, como o Batalhão Aidar e Pravy Sektor, que durante 8 anos aterrorizaram a população do Donbass, no leste do país.
Os anos de 2015 e 2016 pode ter sido um ponto culminante, mas aqueles que estavam no PSTU até essa data, não podem se eximir de terem de alguma maneira compactuado dessa política pró imperialista do partido.
Segundo o artigo “Quem se deixou iludir, imaginando que existia no horizonte a perspectiva de uma situação revolucionária, quando o perigo era exatamente inverso, a ameaça de uma situação reacionária, errou. Quem não denunciou o impeachment como um golpe institucional, errou. Quem não se uniu à campanha Lula Livre, errou. A divisão do PSTU se confirmou, pela evolução das posições nos últimos anos, como inevitável”.
O apoio ao golpe, travestido de um ultraesquerdista “Fora todos”, não pôde mascarar o lavajatismo, presente, inclusive, em quadros dirigentes do Psol, como é o caso emblemático de Luciana Genro.
O PSTU critica a Venezuela, a China, Cuba, Nicarágua, Rússia; elogia Ucrânia, Egito… todas as suas posições políticas são idênticas às do imperialismo. A adesão ao golpe de 2016 não foi um raio em céu azul. Ninguém precisava ter esperado até 2016 para romper com esse partido reacionário, a menos que a situação tivesse ficado insustentável, ou vergonhosa.
2)
No segundo tópico, já convencidos de que ‘passaram à prova da história’, os autores acreditam que, a despeito dos ‘riscos’ das unificações, houve avanços, pois “as posições da militância não corresponderam a alinhamentos com as antigas organizações”. O texto também parece fazer questão de transparecer uma certa humildade, como se se tratasse de “um trabalho em andamento”, como vemos: “A Resistência é somente uma corrente revolucionária em construção, muito aquém das necessidades colocadas pela luta de classes. Mas assumimos, com humildade, a nossa cota de responsabilidade na reorganização da esquerda radical no Brasil”.
3)
O terceiro tópico retoma a perplexidade diante das inúmeras divisões que ocorreram no interior da esquerda radical. Para nós, é muito natural que isso tenha ocorrido, dado que o golpismo colocou determinados setores da esquerda em grande contradição.
De acordo com a matéria, “A explicação ‘circular’ de que eles [extrema-direita] venceram porque nós perdemos é um fatalismo inútil. A reação triunfou porque a esquerda cometeu muitos erros. A vitória eleitoral de 2022 não anula a necessidade de autocrítica. O caudilhismo de Lula não basta. As ideias contam. Se o PT não mudar e seguir apostando na governabilidade conservadora, os perigos que nos cercam são devastadores”.
Talvez a memória tenha faltado aos autores da matéria, a vitória eleitoral de Lula se deveu à força das ruas. Boa parte de esquerda, especialmente o PCdoB e o Psol, boicotaram a candidatura Lula o quanto puderam. Houve de tudo, desde a sabotagem das manifestações pelo ‘Fora, Bolsonaro’;até a tentativa de trazer João Dória e Ciro Gomes para os atos de esquerda. O que foi amplamente rechaçado pelas alas mais à esquerda do movimento.
Os problemas que fomentaram a divisão de setores direitistas da esquerda em 2016, não foram superados, conforme nos querem fazer crer. A ‘trégua’, de parte da esquerda com o governo petista tem muito de oportunismo. Nesse sentido, de que adiantam ‘autocríticas’ se não se nota mudança qualitativa nos ‘revolucionários’.
4)
O quarto item dá conta de que o Psol está diante de grandes desafios e cobra que o PT saia da inércia para evitar o perigo bolsonarista.
Embora reconheça que o Psol seja um partido eleitoral, o texto crê que a história tenha confirmado que esse partido “ao se reposicionar no terreno da luta pela Frente Única de esquerda, ainda que dividido, se fortaleceu em plena situação reacionária, e ocupa hoje um lugar, qualitativamente, distinto. Não foi sem disputas internas”.
Apesar de citar a Frente Única de esquerda, os autores se esqueceram da terrível crise que o Psol sofreu antes, por tentar emplacar uma frente popular contra o ‘perigo bolsonarista’, que serviu de desculpa para a aproximação com elementos ultrarreacionários que foram oportunamente apelidados de ‘campo democrático’. Guilherme Boulos, o deputado celebridade de Psol, bem que tentou reencarnar o fantasma das Diretas, Já! Para tentar nos convencer, sem sucesso, da necessidade de nos unirmos aos golpistas bolsonaristas contra o bicho-papão Bolsonaro.
O Resistência aposta que “O papel do PSOL será decisivo nos próximos anos. Ele pode e deve crescer muito, tanto organicamente, atraindo correntes que estão exteriores, como em influência”. Isso teremos que ver, pois Marcelo Freixo e outras celebridades pularam do barco. O próprio Guilherme Boulos, protagonizou uma cena bizarra, para dizermos o mínimo, confabulando alianças com o fascista Luís Datena, em um vídeo vazado na internet. Se o grupo Resistência prega que o Psol deva “manter seu perfil político e programático próprio”, Boulos não tem deixado a desejar nesse quesito.
5)
No quinto e último tópico. Os autores voltam a insistir que não são infalíveis. Reiteram seu apoio a Lula; que atua pelo fortalecimento do Psol; que rejeitam posições sectárias contra o governo Lula, apesar de se oporem à entrada do partido na frente ampla. Finalmente, que consideram central a luta contra a extrema-direita e que a mobilização social é o caminho para avançar na correlação de forças.
Apesar do que disseram, não podemos deixar de dizer que o Psol é um partido que está sendo esfacelado pelo aumento da polarização da política no Brasil. Seus principais quadros estão se unindo a Gabriel Boric, no Chile, um governo no bolso dos americanos, que já não convence ninguém de que seja de esquerda; muitos estão cooptados por ONGs financiadas diretamente pela CIA. E o Psol não lutou contra a Lava jato.
Quanto ao PSTU, as críticas foram completamente superficiais, focaram no período do Golpe de 2016, quando esse partido já apresentava todos os sinais de apodrecimento. Resta-nos saber o porquê de terem demorado tanto para o rompimento.