Na última quarta-feira (19), a CNN Brasil publicou um vídeo exclusivo que mostra o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Gonçalves Dias, no Palácio do Planalto no dia 08 de janeiro, horas depois do começo da invasão bolsonarista às sedes dos Três Poderes. Na gravação, Dias estava andando nos corredores da sede do Executivo ao lado dos invasores, indicando a eles a direção para a saída de emergência. Pouco tempo depois da publicação da reportagem, o general renunciou seu cargo na organização.
Outro fato exposto nas gravações torna o caso ainda mais escandaloso: outros agentes do GSI também foram identificados no Planalto naquele momento. Uns fazendo o mesmo que Gonçalves Dias, agindo como guias turísticos dos bolsonaristas; outro, porém, servindo água para alguns invasores.
Não se sabe se o plano do Gabinete era manter as gravações e por isso a tranquilidade dos agentes em atuar no dia 08. Ao que tudo indica, a direita vazou propositalmente as filmagens – queimando o próprio Gonçalves Dias – para tentar desestabilizar e encurralar ainda mais Lula. Abriu-se novamente, para tal, a discussão acerca da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que visa investigar a atuação do governo no dia das invasões.
De qualquer maneira, independente de qualquer motivação por trás do vazamento das imagens em questão, fato é que o episódio prova de maneira cabal que não se pode confiar nos militares. Fica claro que todo o sistema de segurança interna nacional precisa passar por um verdadeiro expurgo: é preciso tirar o GSI das mãos dos militares.
Finalmente, as gravações mostram que o 08 de janeiro foi uma operação de inteligência. Ou seja, um ato orquestrado, em grande medida, pelos militares de dentro do próprio governo contra este. Algo que só foi possível pelo fato de que os agentes e, mais importante que isso, quem manda no GSI, são setores das Forças Armadas completamente inimigos do governo e, no geral, do povo.
É preciso haver, também, uma investigação na própria ABIN, que exponha toda a atuação lesa-pátria dentro do órgão que, historicamente, serviu para sabotar a soberania nacional. Quando deveria ser justamente o contrário.
O exemplo dos Estados Unidos é claro no que diz respeito a ingerência dos serviços secretos de inteligência sobre o regime político. A atuação da CIA em território americano foi tão agressiva que obrigou o Congresso a proibir que a agência atuasse dentro dos Estados Unidos – decerto que ela ainda faz isso, mas de outras maneiras que acabam por dificultar o seu trabalho. A ABIN, consequentemente, deveria atuar da mesma forma, sendo proibida de agir em questões unicamente domésticas.
Em suma, por um lado, o fim do GSI enquanto organização não é eficaz, pois extingue uma estrutura importante para a defesa da soberania nacional – isso, obviamente, partindo-se do pressuposto de que está nas mãos daqueles que se interessam pelo desenvolvimento do Brasil. Ao mesmo tempo, só é sustentável mantê-lo operante após uma ampla reforma que coloque o GSI a serviço do povo, e não da burguesia. Atuando como um instrumento de garantia da soberania nacional.
Lula, infelizmente, não possui poder político necessário, neste momento, para levar um expurgo nem mesmo próximo do que é necessário. O governo está bastante enfraquecido, dentre outros motivos, exatamente por fatos como o 08 de janeiro e, agora, o escândalo envolvendo o GSI.
Portanto, para antecipar um golpe – algo que pode muito bem começar por meio do GSI e da investigação do Congresso contra o Executivo -, Lula deve convocar uma ampla mobilização popular que coloque os trabalhadores em movimento para acabar, de uma vez por todas, com a tutela militar sobre o regime político. Essa é a única forma de garantir os direitos da classe operária brasileira contra os planos de destruição nacional da burguesia.