Ontem (19), o jornal O Estado de S. Paulo publicou um editorial intitulado O ‘exército do Stédile’ está de volta. Fazendo referência a uma fala antiga de Lula que, na época do golpe contra Dilma, sugeriu que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ocupasse as ruas contra a direita que queria derrubar a presidenta; o Estadão ataca agressivamente a decisão do presidente brasileiro de levar João Pedro Stédile, membro da coordenação nacional do MST, em sua viagem à China.
“Como se não fosse insultuosa o bastante a mera presença de um notório invasor de propriedades no seleto grupo que acompanhou o presidente da República na visita ao maior parceiro comercial do País, Lula ainda permitiu que o chefão do MST figurasse na foto oficial do encontro de cúpula com o presidente chinês, Xi Jinping. Na cerimônia de posse de Dilma Rousseff como presidente do chamado Banco do Brics, Lula também fez questão de mencionar a presença de Stédile na plateia”, diz o jornal, um dos mais importantes defensores do golpe contra Dilma e da prisão de Lula.
As acusações do Estadão contra Lula, Stédile e, principalmente, o MST, são as mesmas de sempre. O artigo afirma que o movimento sem terra infringe constantemente as leis e a Constituição Federal, que é violento, que não respeita a “suntuosa” propriedade privada, entre outros. Chega até mesmo a afirmar que é uma “milícia a serviço do PT”, subindo o tom contra uma das organizações mais importantes de toda a esquerda brasileira.
Com isso, o Estadão tenta pressionar o governo Lula a se afastar do MST, defendendo, dessa maneira, os interesses dos grandes latifundiários. Ao mesmo tempo, contribuem para a campanha contra a atuação dos sem terra que, inclusive, está a todo vapor, como mostra a abertura da CPI do MST no Congresso Nacional no mês passado.
Enquanto isso, na terça-feira (18), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), uma das principais representações da extrema-direita latifundiária brasileira, reforçou a urgência do pedido de limiar protocolado no último dia 12 no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir as ocupações do MST em todo o país. “Nossa expectativa é de que o STF analise a medida cautelar para que possamos restabelecer o estado democrático de direito”, diz a entidade.
Tais declarações representam uma reação ao chamado “Abril Vermelho”, mês no qual o MST disse que realizará dezenas de ocupações em todo o País. Até o momento, o saldo foi extremamente positivo, com atos em cerca de 18 estados, entre eleges protestos em sedes regionais do Incra em 11 estados e no Distrito Federal. A pressão foi tamanha que o movimento sem terra conseguiu emplacar algumas indicações ao órgão federal.
É justamente isso que deve ser feito. Essa onda de ataques contra o MST deixam claro que a organização está no caminho certo. Suas ocupações e atos ao redor do Brasil estão incomodando e afetando a burguesia, garantindo um avanço na luta pelas reivindicações do povo sem terra, pesadamente afetado pela extrema-direita no campo desde o golpe de 2016.
Não se deve dar ouvidos à opinião da grande imprensa. O Partido da Imprensa Golpista (PIG), composto por jornais com o Globo, a Folha de S. Paulo e o Estadão, é um dos maiores inimigos do povo brasileiro. Agentes lesa-pátria que farão de tudo para impedir que os trabalhadores da cidade e do campo consigam atingir as suas reivindicações.
A eleição de Lula abriu portas extremamente preciosas para toda a esquerda. Agora é a hora de defender os interesses e os direitos da classe operária, revertendo, dessa forma, toda a devastação que o golpe causou no País, como a privatização de empresas essenciais, as reformas de Temer e, de maneira geral, toda a fome e a miséria que assola o povo como não visto nas últimas duas décadas.
Nesse sentido, o MST está absolutamente correto: é preciso ocupar terras em todo o País, sejam elas produtivas ou não. Exigindo, com isso, uma reforma agrária completa por parte do governo Lula. Uma das reivindicações mais importantes de toda a luta dos oprimidos que elevará o Brasil a outro patamar econômico e social.
Para tal, porém, não basta apenas uma canetada. Principalmente agora, que está sendo sabotado por praticamente todos os setores da burguesia (imprensa burguesa, comando das Forças Armadas, direita no Congresso Nacional, ministros de seu governo como Tebet e Fávaro, o presidente do Banco Central, entre outros), Lula precisa da maior mobilização popular possível para conseguir emplacar os verdadeiros interesses do povo. Retirando, assim, boa parte do peso do imperialismo sobre os trabalhadores brasileiros.
As ocupações do MST devem, portanto, ser seguidas de uma ampla convocação nacional, principalmente por parte da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que leve os trabalhadores às ruas. Essa é a única forma de enfrentar a burguesia e o imperialismo, que por declarações como a do Estadão, mostram agressividade cada vez maior.