Desde a eleição de Lula, ou melhor, desde a campanha eleitoral, havia entre setores da esquerda pequeno-burguesa a ideia de que Lula estava sendo apoiado pelo imperialismo. Essa ideia fez parte, inclusive, da propaganda cínica do bolsonarismo, dizendo que a eleição de Lula seria a vitória do que a extrema-direita chama “globalismo”.
A ideia sempre foi absurda. O imperialismo nunca quis o retorno de Lula. Não derrubou Dilma e prendeu o ex-presidente, criando uma crise no País, para deixar e apoiar tranquilamente o retorno do PT ao governo. Grosso modo, o que aconteceu – e que acontece ainda hoje –é que o imperialismo, embora apoiasse outro, incluindo Bolsonaro, foi obrigado a permitir a vitória de Lula.
Quando Lula tomou posse, a ideia continuou presente em alguns setores. Qualquer passo que Lula desse em direção ao imperialismo era mostrado como grande prova de sua subserviência, enquanto qualquer ação concreta que desagradava ao imperialismo era tratada com desdém. Tudo para forçar a comprovação da tese de que Lula seria pró-imperialista, ignorando a própria natureza do governo do PT, de conciliação de classes, inclusive, logicamente, no âmbito internacional.
A viagem de Lula à China deveria colocar um ponto final em quaisquer especulações nesse sentido. Lula deixou claro os interesses brasileiro nos negócios com a China e com os BRICS, em geral. No discurso de posse de Dilma Rousseff no banco dos BRICS, Lula atacou o FMI e os bancos e defendeu o abandono do dólar na transação entre os países.
Nitidamente, a viagem de Lula desagradou o imperialismo, que tratou de atacar o presidente.
Em entrevista ao jornal do Partido Comunista Chinês, Celso Amorim, assessor especial de Lula para assuntos internacionais, reforçou a política de aproximação com os chineses. Sobre a chamada Nova Rota da Seda, programa de investimentos internacionais da China em infraestrutura, Amorim disse: “estamos interessados em ver como podemos fazer (a adesão), mas para nós é muito importante entender quais são os projetos concretos que virão”.
Apesar da pressão dos EUA contra realização de negócios com a empresa de tecnologia Huawei, Amorim afirmou que “se pudermos diversificar nossas fontes de tecnologia, será o melhor para nós. Então, estamos muito abertos. Já temos uma cooperação. A Huawei já está presente no Brasil e já é muito importante”.
O ex-chanceler defendeu, ainda, que os países devem se libertar do domínio do dólar, que dificulta transações com países inimigos do imperialismo.
Não dá mais para ter dúvidas de que a política de Lula busca uma independência em relação ao imperialismo. Essa política não é revolucionária, é contraditória, como é natural, para qualquer governo burguês. Mas fica claro que Lula não é um aliado dos EUA e do imperialismo.