A Confederação Geral do Trabalho ( CGT), que realizou o 53º Congresso, no mês anterior, segunda-feira (28/3), sobre as novas eleições para sucessão de Philippe Martinez, Secretário-Geral da Central que está encerrando seu mandato na França, se destacaram vozes como a de Murielle Morand, nova liderança do sindicato dos químicos.
“Não vamos desistir, começando com a nossa exigência de retirada desta reforma das pensões. Não haverá trégua. Não haverá suspensão. Não haverá mediação. Ganhamos a retirada da reforma da previdência. Não retomaremos o trabalho até que essa reforma seja retirada”, disse Murielle em seu discurso.
Houve rejeição da proposta da gestão atual, 50,32% votaram contra a proposta de Martinez. Uma disputa equânime que mostra a divisão e uma luta acirrada dentro das centrais sindicais francesas. Porém o Documento de Orientação da Gestão Martinez foi aprovado por 73% dos votos, na falta de uma proposta que a substitua.
A rejeição mostra uma reação à paralisação das centrais sob a atual direção de Martinez, onde os trabalhadores se levantam contra propostas de alianças com sindicatos reformistas e com o Medef. Representantes da federação comercial protestaram nesta segunda-feira exigindo sua participação antes negada no Congresso, o que acabou por modificar os resultados em relação às votações anteriores.
O Mouvement des entreprises de France (MEDEF), ou Movimento das Empresas da França, é a maior federação patronal da França. Possui mais de 750.000 firmas-membro, 90% delas pequenas e médias empresas (PMEs) com menos de 50 funcionários. A MEDEF está engajada em fazer lobby nos níveis local, regional, nacional e em toda a UE, se posicionando contrariamente às lideranças de esquerda dos sindicatos, minando a unidade dos sindicatos e colocando elementos controlados pelos patrões nas lideranças
A MEDEF defende o “desenvolvimento sustentável” em detrimento das pautas trabalhistas, empurrando goela abaixo dos trabalhadores que o que importa é o facto de a protecção do ambiente figurar entre as vantagens competitivas nas empresas e não a segurança e o bem-estar dos trabalhadores. O atual presidente do MEDEF é Geoffroy Roux de Bézieux desde julho de 2018.
A unidade dos sindicatos ainda está longe de ser alcançada e mesmo a retirada da reforma do governo Macron por si só não seria suficiente para envolver toda a classe trabalhadora francesa, inclusive os que já sofrem com miseráveis aposentadorias, em uma dura e custosa batalha. É preciso que se tenha um programa de reivindicações que vincule a retirada da reforma à obtenção da aposentadoria aos 60 anos para todos (e aos 55 para trabalhos insalubres), ao aumento dos salários e sua indexação à inflação, e também a medidas para reduzir o tempo de trabalho, partilhando-o entre todos.
A rejeição do relatório da direção que está de saída confirma a insatisfação e indignação dos trabalhadores com as constantes derrotas da CGT nos últimos 20 anos. Ou seja, as lutas contra as reformas da idade de aposentadoria em 2003; contra a reforma da previdência em 2010 e 2014; contra as novas leis trabalhistas em 2016 e 2017; contra os cortes nos direitos dos ferroviários em 2018;
Não fosse a pandemia em 2020, que impediu Macron de implementar um sistema de aposentadoria “baseado em pontuações”, seria mais uma derrota da CGT. A luta contra essa reforma havia claramente diminuído em janeiro de 2020.
O Relatório de Atividades je o Documento de Política do 53º Congresso fala em divisão sindical e coloca toda a culpa das derrotas na ala esquerda da Central, em nenhum momento fala em um forte movimento de greves por tempo indeterminado, que fariam reverter os ataques do governo e as pautas capitalistas neoliberais contra os trabalhadores franceses, ao contrário aparece mais do mesmo da esquerda pequeno burguesa dominada pela burguesia financeira: “uma distribuição diferente da riqueza… uma sociedade mais justa, respeitosa do meio, ambiente e um mundo de paz”, o que só leva à permanência do que se tem das políticas neoliberais, o aumento da desigualdade e da injustiça social, a intensificação da crise ambiental e a imposição da geopolítica bélica do imperialismo e destruição da economia dos países com capitalismo atrasado.
A ala esquerda do CGT se manifestou em peso de maneira ofensiva no Congresso, o que reflete um grande descontentamento das bases do CGT que defendem que a liderança nacional imponha o radicalismo e a ruptura com a ala direita que ditou as pautas até aqui. A esquerda pequeno burguesa do CGT está buscando se organizar mais, desde dezembro de 2019.
Sindicalistas de destaque desta esquerda – Olivier Mateu, secretário regional de Bouches-du-Rhône; e Emmanuel Lépine, secretário do sindicato dos químicos, da CGT – formaram uma corrente organizada, a Unité CGT, ainda se utilizando de pautas da direita contudo, como o identitarismo; porém já se constata um nível de debate político mais avançado e focado nas pautas que interessam mais à classe trabalhadora. Já a gestão anterior de Philippe Martinez usa a argumentação padrão de ataque à Unité CGT.
Twitter de Sophie Binet
Como resultado a candidatura de Marie Buisson, apoiada por Martinez foi rejeitada em favor de Sophie Binet que também faz parte da ala direita da CGT; e Olivier Mateu, da ala esquerda pequeno burguesa foi igualmente rejeitado, o que mostra que a burguesia ainda domina a CGT.
O que se analisa conferindo os dados apresentados pelos portais marxists e insurgent é que as centrais sindicais ainda estão lutando por uma unidade maior e mais à esquerda, não tendo obtido sucesso ainda. O que reflete um problema para a classe trabalhadora e o fortalecimento das pautas capitalistas. É preciso uma guinada das lideranças sindicais mais à esquerda e contrariamente ao imperialismo, sob risco de insatisfação com a nova gestão e retorno à liderança da ala direita.