No último final de semana, em pleno feriado de Páscoa, a Polícia Militar do Mato Grosso do Sul invadiu a retomada Ivu Verá, na região de Dourados. A desculpa é que os indígenas que realizaram a retomada na sexta-feira (07) teriam rompido o acordo de não ocuparem o local, para o qual os índios guarani e caiouá reivindicam a demarcação, enquanto estivesse de propriedade de um dono de chácara. Porém, o terreno recentemente foi vendido para a Corpal Incorporadora e Construtora, que irá construir em seu lugar um condomínio de luxo.
Sem mandado judicial, a tropa de choque da PM adentrou o território na manhã de sábado (08) e prendeu dez indígenas, entre eles um idoso de 77 anos (que, até o momento, é o único que foi solto) e Magno Souza, militante do Comitê de Luta de Dourados e candidato do Partido da Causa Operária (PCO) ao governo do estado do Mato Grosso do Sul nas eleições de 2022.
Os indígenas foram acusados de associação criminosa, dano ao patrimônio, esbulho possessório, ameaça, lesão corporal e posse de armas. Eles negam essas acusações e os moradores da região que presenciaram o acontecimento também dizem que nada disso lhes pode ser imputado.
Como demonstrou um artigo publicado por este diário, as “provas” das autoridades não batem. Magno, “suposto líder do grupo”, “foi localizado e conduzido à delegacia”, segundo o auto de prisão flagrante. Isso significa que ele não estava no local no momento. As testemunhas ouvidas pelo DCO informam que ele sequer participou da retomada. Ainda, a polícia enganou os índios, que foram para a delegacia protestar contra a repressão e acabaram presos.
No domingo (09) de madrugada, pistoleiros visitaram as redondezas da retomada e incendiaram um barraco, na tentativa de atingir a casa de um dos índios que haviam sido presos.
As acusações contra os índios são grotescas. Uma delas é a de que eles estariam “ameaçando” alguém. Mas não se diz quem exatamente estaria sendo ameaçado ou como essas ameaças eram feitas. Também não se mostrou nenhuma prova das supostas armas, nem de que pertencem a eles, ou a quem eles lesionaram fisicamente, como acusam as autoridades.
Segundo reportagem do Brasil de Fato, o Ministério Público Federal (MPF) havia pedido a liberdade provisória dos indígenas, mas o juiz Rubens Petrucci Junior, da segunda Vara Federal de Dourados, decretou a prisão preventiva dos indivíduos.
Trata-se de uma prisão política e escandalosamente arbitrária. O que chama mais atenção, porém, é a total inação dos autoproclamados defensores dos índios. Onde estão as Organizações Não-Governamentais (ONGs) que gostam de se passar por protetoras dos indígenas? Onde estão aquelas grandes empresas que lucram explorando comercialmente a imagem dos índios? Onde estão os grandes jornais da burguesia, que dão espaço a índios “fake” para fazer propaganda imperialista? Onde estão os partidos e organizações da esquerda pequeno-burguesa, que dizem tanto se preocupar com os direitos dos índios?
Mais do que isso. O governo Lula, como um governo de esquerda, tem uma preocupação evidente em assistir aos índios. Tanto é assim que criou o Ministério dos Povos Originários, cuja chefe é Sonia Guajajara, que foi candidata à vice-presidência da República em 2018 pelo PSOL. Guajajara se promove (e é promovida pelos grandes jornais e ONGs estrangeiras) como a grande liderança indígena do Brasil. Já foi para eventos importantes mundo afora e se encontrou com o atual rei Charles, da Inglaterra, e com o ex-secretário de Estado dos EUA, John Kerry.
A ministra, bem como o ministro da Justiça, Flávio Dino, tem a obrigação de ir a Dourados e investigar a situação de completa arbitrariedade à qual foram submetidos os indígenas guarani e caiouá pela PM do governador Eduardo Riedel (PSDB). Precisam atuar pela liberdade imediata dos indígenas, que estão na prisão (nem mesmo na delegacia), humilhados e, quem sabe, até mesmo torturados.