No último dia 6 de abril, no portal Poder 360, a colunista Paula Schmitt, publicou um texto, chamado “A irrelevância da realidade e a queima de arquivo”, onde procura explicar ao leitor a seguinte tese: direita e esquerda não definem mais as coisas, não são mais distinções ideológicas. Deixemos que ela mesma explique:
“A esquerda hoje é defensora dos grandes monopólios, das farmacêuticas, apoiadora da censura, da criminalização do pensamento, da tirania sanitária e de ações intrínsecas ao nazismo, principalmente a demonização racial e desumanização coletiva baseada na etnia. A direita, por sua vez, parece vir se dando conta de que o poder financeiro exacerbado, sem limites, cresce o suficiente para comprar organizações supranacionais, governos, tribunais judiciais, e engolir os concorrentes de um mercado que já deixou de ser livre há anos.”
Não sabemos se a jornalista, que escreve para um órgão da imprensa burguesa, embora não esteja entre os mais poderosos, está confusa ou se propositalmente reforça a confusão. O que sabemos é que sua tentativa de definir esquerda e direita é um verdadeiro desastre.
O que ela elenca como sendo características da esquerda, na verdade, não tem nada a ver com a esquerda. A esquerda nunca defendeu os monopólios, pelo contrário, a esquerda sempre foi identificada como combatente à presença das grandes corporações imperialistas no Brasil. A esquerda nunca defendeu as farmacêuticas, a esquerda é favorável a quebrar todas as patentes de medicamentos, o que inclusive vai contra o monopólio da indústria farmacêutica, e dar acesso a todo o povo. A esquerda sempre defendeu a luta contra o racismo, difícil saber de onde a jornalista tirou que a esquerda seria apoiadora de ações nazistas.
Essa descrição feita pela colunista é absurda, mas infelizmente temos que dizer que é compreensível. A desonestidade na hora de descrever características que ela atribui à esquerda é justamente desconsiderar que há muitas “esquerdas” diferentes.
Se a chamada “nova esquerda”, identificada no Brasil com o PSOL e os identitários, está intimamente ligada ao imperialismo e, portanto, aos monopólios, isso não quer dizer que essa seja uma característica da esquerda em geral.
Se alguém se disser Napoleão Bonaparte, nem por isso se tronará imperador francês; assim como um grupo que se diz de esquerda não se torna de esquerda simplesmente por afirmar isso.
Mas a confusão existe e é preciso esclarecer. Se um setor da esquerda pequeno-burguesa fez campanha para a “tirania sanitária” na época da pandemia, isso é simplesmente porque ela está seguindo as orientações de uma política estranha à esquerda.
O imperialismo e a burguesia brasileira queriam estabelecer um regime ditatorial usando como pretexto a pandemia. Para isso, convenceram setores da esquerda dessa política.
Já o PCO, por exemplo, embora fosse a favor da vacinação, nunca defendeu a vacinação obrigatória. Da mesma maneira, o PCO denunciou incessantemente a ação dos monopólios da indústria farmacêutica que empurraram vacinas para o povo sem testes suficientes e sem uma transparência para a população dos riscos dessas vacinas.
Isso não é apenas ser de esquerda, mas é ser da esquerda revolucionária, que defende os interesses reais do povo. Se alguns setores da esquerda se confundiram com isso, não é suficiente para atribuir a toda a esquerda essas confusões.
E no caso da direita? Acontece algo similar. A direita não é uma só. Nesse momento há uma disputa entre setores de extrema-direita, ligados ao trumpismo e ao bolsonarismo no Brasil, e a direita tradicional, o PSDB, a Globo, a imprensa capitalista, em geral.
O primeiro setor, por interesses específicos, faz muita demagogia com as questões levantadas pela colunista como se fossem características da direita. Mas a direita é a favor dos monopólios, é a favor da ditadura, é quem domina as instituições corruptas. Enquanto Bolsonaro bate continência para a bandeira norte-americana, mostrando sua completa subserviência aos interesses dos monopólios desse país, a outra direita, a tradicional, quer privatizar as empresas estatais para entregá-las nas mãos desses mesmos monopólios. É um jogo de aparência. Ao fim e ao cabo, ambos defendem o mesmo: destruir os direitos do povo.
Há muitas ideias confusas no texto de Paula Schmitt, mas a essência da confusão, usada para defender sua tese, é essa. A política de aliança de um setor da esquerda com o imperialismo, a política identitária reacionária que defende a censura. Se é verdade que setores da esquerda defendem isso, não é verdade que defender isso é ser de esquerda.