Nesta semana, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro (PSD), em resposta à onda de ocupações por parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no chamado “Abril Vermelho”, emitiu uma série de declarações reacionárias contra o movimento dos camponeses. Dentro disso, Fávaro defendeu o armamento do “homem do campo”. Em outras palavras, o armamento dos latifundiários contra os sem terra.
Apesar de fazer parte de um governo de esquerda, Fávaro, uma das imposições do PSD sobre Lula, defende uma política de direita. Seu passado mostra que isso não deve ser de se estranhar.
Nascido no Paraná, o ministro se mudou ainda novo para o Mato Grosso, passando anos trabalhando no agronegócio e, especificamente, no manejo de soja. Tornou-se, em 2010, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), uma das organizações mais poderosas do País por concentrar figuras importantíssimas ao plantio de soja. De 2012 a 2014, Fávaro assumiu o cargo de presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT).
Durante a sua presidência na Aprosoja-MT, a associação promoveu um aumento do vínculo entre o produtor rural e a polícia para combater os “crimes” no campo em resposta à onda de assaltos no Mato Grosso. Mera justificativa para aumentar o policiamento rural e facilitar, assim, a repressão ao movimento sem terra.
A ligação de Fávaro com o latifúndio não é, todavia, restrita à associação. É de amplo conhecimento que ele é apadrinhado, politicamente, por Blairo Maggi, ex-governador de Mato Grosso pelo PPS, ex-ministro da Agricultura durante o governo Temer e ex-senador pelo Partido da República (PR, antigo nome do Partido Liberal, o PL).
Quando no governo do Mato Grosso, Maggi levou adiante uma administração voltada, antes de qualquer coisa, aos interesses dos grandes latifundiários do estado. Em 2005, foi responsável por 50% do desmatamento em todo o Brasil. Já na direção do ministério do governo golpista de Temer, anunciou medidas que chamou de “desburocratização do agronegócio”, reduzindo a fiscalização sanitária. Seu cinismo era tanto que chegou a afirmar que o meio ambiente era protegido pela “consciência dos agricultores”.
Decerto que a política correta não é a de caracterizar o desmatamento como algo necessariamente ruim. Entretanto, fazê-lo de maneira completamente desenfreada, como faz o latifúndio, não faz sentido nenhum e serve apenas para aumentar a produção de meia dúzia de capitalistas não em prol do desenvolvimento nacional, mas sim, de seus próprios bolsos.
Ademais, Maggi é acionista de uma das maiores produtores de soja do País. Sua família que, comprovadamente, utilizava trabalho escravo em suas fazendas, foi líder mundial na produção de soja nos anos 1990 e início dos 2000. Por isso, Blairo ficou com a fama de “rei da soja”. Atualmente, ele é considerado o maior produtor individual de soja do mundo e, em 2009, a Revista Forbes o considerou o 62° líder mais influente do mundo enquanto empresário. Provas do imenso poder que possui.
Voltando para Fávaro.
Após perder a presidência da Aprosoja-MT, Fávaro, membro do Partido Progressistas (PP), concorreu a vice-governador do Mato Grosso na chapa de Pedro Taques (na época, PDT) em 2014. Taques, uma vez eleito, recebeu um convite de Aécio Neves para entrar no PSDB, em 2015, perto do auge do golpe. O agora ministro foi, em 2017, apontado para a secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso e, em 2018, disputou uma vaga no Senado, mas perdeu.
Um ano depois, Selma Arruda (União Brasil), que é quem havia sido eleita, teve toda a sua chapa cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, após eleições suplementares, Fávaro acabou sendo eleito com mandato até 2027. Um histórico que mostra que é um político burguês de carreira.
Uma vez no Senado, Fávaro não hesitou em defender os interesses da burguesia, em especial a latifundiária, já que é o seu métier. Em 2020, por exemplo, defendeu a aprovação do chamado PL da Grilagem, um projeto que incentiva – daí que vem a fama – a grilagem de terras e, de maneira geral, a entrega de uma porção cada vez maior do território brasileiro aos latifundiários. Uma medida fundamentalmente contrária aos trabalhadores sem terra e aos índios brasileiros.
Finalmente, sua indicação ao ministério que hoje ocupa. O nome de Fávaro encontrava alguma resistência interna por parte da burguesia ligada aos latifundiários. Entretanto, com o endosso de ninguém mais, ninguém menos, que Blairo Maggi, furou essa barreira e garantiu o seu assento na Esplanada dos Ministérios.
Em suma, Fávaro possui uma profunda ligação com o setor mais fascista da burguesia brasileira. É, nesse sentido, um pistoleiro dos latifundiários que, infiltrado no governo, tentará empurrar a política de Lula no que diz respeito à questão agrária cada vez mais para a direita. Seu histórico, em conjunto com as suas recentes declarações acerca do MST, já são o suficiente para provar que ele não deve ter lugar em um governo dos trabalhadores.
Fora, Fávaro!