Recentemente, o Movimento Sem Terra (MST) lançou uma nova campanha chamada “Abril Vermelho”, relembrando o Massacre de Eldorado dos Carajás e que envolve uma série de ocupações de terras. A campanha teve início em Pernambuco, onde o movimento ocupou, nessa segunda-feira (04), 800 hectares de terras de três engenhos no município de Timbaúba.
A ação organizada pelo MST é um marco para a retomada das ocupações em todo o Brasil. Desde o golpe de Estado, e sobretudo desde o início do governo de Jair Bolsonaro, a direção do movimento tomou a decisão de recuar nas tomadas de terra. Contudo, a enorme crise econômica e política do último período, e a radicalização dos trabalhadores com a vitória eleitoral de Luíz Inácio Lula da Silva, para a presidência no final de 2022, tornaram insustentável essa política paralisante. Dessa forma, o MST, impulsionado por suas bases, retomou as ocupações em várias regiões do Brasil.
Marcando a primeira onda de ações durante o governo Lula, o MST ocupou em março três fazendas ligadas ao cultivo de eucalipto da empresa Suzano Papel e Celulose, nos municípios de Teixeira de Freitas, Caravelas e Murici, o sul da Bahia. Posteriormente, a Fazenda do Limoeiro foi ocupada no município de Jacobina, em uma ação geral que contou com cerca de 1,7 mil integrantes do movimento.
Já a ocupação ocorrida em Pernambuco mobilizou cerca de 250 trabalhadores. Os sem-terra declaram que os terrenos foram grilados e pertencem ao governo estadual. “Os engenhos ocupados também são terras devolutas (públicas), pertencentes ao governo de Pernambuco, que foram griladas pela usina”, afirma a organização em nota oficial.
Contra as ocupações, a direita, em conjunto com as forças de repressão, agiram de imediato para tentar expulsar as famílias do local. Dentro do próprio Congresso Nacional, deputados da direita golpista querem criminalizar o movimento, afirmando que o mesmo seria uma “organização terrorista”. A discussão entre os deputados golpistas, como Ricardo Salles (PL-SP), é de forçar a abertura de uma CPI contra o MST. No entanto, o real crime não está nas ocupações de terra do MST, mas sim na política de repressão e miséria imposta pela burguesia contra os trabalhadores do campo.
Segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), cerca de 1% dos proprietários rurais detêm 45% das terras agricultáveis do País. Enquanto isso, milhões de trabalhadores rurais continuam sem acesso à terra e vivendo em condições precárias.
O trabalhador do campo vive na mais pura miséria, sem terra para sobreviver, ao mesmo tempo que os grandes latifúndios do País concentram grande parte da terra nacional. Além da terra estar nas mãos de poucos, essa mesma terra é, em grande medida, improdutiva. Os latifundiários utilizam a terra para a especulação e grande parte da produção nacional é feita em pequenas parcelas destes latifúndios. Assim, milhões de trabalhadores são forçados a viver na miséria, apesar de haver terras o suficiente para trabalharem.
Ou seja, as invasões do MST na realidade não correspondem a um excesso do movimento como afirma a imprensa burguesa, pelo contrário, representam uma situação insustentável para a sobrevivência de uma ampla camada dos trabalhadores rurais. Frente a todo o problema, as ocupações feitas representam muito pouco da real necessidade para todo este setor da população. Por isso, todos aqueles que defendem a luta dos trabalhadores precisam apoiar e impulsionar uma mobilização ainda maior em defesa das ocupações e do movimento, contra os ataques da direita burguesa.
O MST é um dos maiores movimentos populares brasileiros, e a reforma agrária é um ponto central na luta dos trabalhadores e do próprio desenvolvimento da economia nacional. É necessário impulsionar ainda mais esta luta.