A ideia de “fake news” criada pelo imperialismo para combater Donald Trump foi importada com sucesso para a esquerda pequeno-burguesa brasileira, como de costume. Há um grande setor da esquerda que até hoje culpa as “fake news” (mentiras) pela eleição de Bolsonaro em 2018, ignorando a prisão ilegal de Lula, o que claramente garantiu a vitória do ex-presidente.
O método defendido pela direita e pela esquerda pequeno-burguesa para combater as “fake news” é a censura. Após alguns anos, no entanto, essa tese está entrando em crise e a esquerda usa de malabarismos cada vez mais complexos para defender essa “luta”. É o caso do artigo de Fernando Horta “A luta brasileira contra as fake news, crônica de um fracasso anunciado”.
Horta inicia o artigo falando que o problema das “fake news” existe desde a antiguidade, algo correto, a mentira sempre existiu. No entanto, ele adere à política da direita tradicional ao abordar a relação das mentiras com a extrema-direita: “A extrema-direita criou mecanismos e estratégias de difusão de informações sobre o mundo (que variam desde pequenos julgamentos sobre questões pontuais, até grandes utopias e estratégias de ação) que atacam exatamente o conhecimento científico (deslegitimando-o a partir de uma leitura rasa sobre a pós-modernidade), o Estado (através da reificação do individualismo histérico de alguns autores neoliberais) e a própria ideia de democracia (a partir de uma leitura estranha do conceito de “liberdade”). Esse ataque se viu fortalecido pela arquitetura das redes sociais, pelos conflitos geracionais inerentes à passagem do tempo e pela tremenda diferenciação material e na educação de alguns países.”
O principal problema do combate as “fake news” é que a esquerda pequeno-burguesa se esqueceu que a mentira não surgiu com a internet e a extrema-direita, e teve seu ápice com o auge dos monopólios da imprensa. A Globo é uma das maiores indústrias de mentira da história da humanidade, junto a BBC e a CNN. A internet, nesse sentido, enfraqueceu esses monopólios. A forma direta de se combater a mentira é com a verdade, e a internet permite que bilhões de indivíduos se expressem – a despeito do obstáculo dos algoritmos –, contrapondo as mentiras dos monopólios de imprensa. Esse, desde o princípio, sempre foi o maior problema do combate às “fake news”. Quem defende essa política com afinco são justamente esses monopólios, eis a farsa. É uma tentativa da grande imprensa de impor a censura.
É um erro afirmar que “ninguém perdeu mais do que a Inglaterra com essas “fake news”. O Brexit foi o primeiro momento da utilização massiva dessa estratégia de deslocamento do regime de verdade com objetivo político-eleitoral.” Considerar o Brexit resultado das “fake news” é o mesmo que usá-las para justificar a eleição de Bolsonaro. Se ignora completamente a crise política que a Inglaterra entrou após o ano de 2008 e a culpa passa a ser as mentiras, isso no país criador da BBC, ou seja, país em que a burguesia inventou a indústria da mentira. O Brexit é um exemplo do oposto, que às vezes os maiores mentirosos, que nesse caso estavam contra o Brexit, podem ser derrotados, mesmo que de forma confusa.
No Brasil, por exemplo, os maiores alvos das mentiras foram Lula e o PT. E os grandes culpados por isso não foram os bolsonaristas nas redes sociais, mas sim o Globo, o Estadão e a Folha de São Paulo. Isso é um fato, todos que acompanharam o golpe contra a presidenta Dilma e a prisão de Lula sabem disso. O bolsonarismo é um filho dessa imprensa que, inclusive, mesmo tendo a presidência, não conseguiu bater de frente com esses monopólios, renovando a concessão da Globo, que ele tanto criticava. Atacar as “fake news” sem atacar os grandes monopólios de comunicação é, na realidade, defender esses monopólios, é aderir à sua política.
O autor coloca suas teses de combate às fake news: “Para retomar o regime de verdade do século XX é preciso atuar ao mesmo tempo em 4 pontos de forma sinérgica: 1) Criar um grande programa de letramento digital (e este letramento não é “ensinar a usar o Windows , o whatsapp e etc). 2) Aumentar o controle social sobre o mundo digital que hoje é coordenado pelas big techs. 3) Recolocar as universidades dentro da disputa pelos sentidos de verdade através da criação de centros de avaliação de conteúdo. 4) Regular suplementarmente as redes em forma de afirmação de direitos e não de criação de marcos punitivos somente.” O primeiro e segundo ponto não são problemáticos. O terceiro não resolve nada, pois a avaliação de conteúdo sempre está sujeita a questões políticas e se torna problemático junto ao ponto seguinte, o grande problema, pois mostra que Horta na prática defende a censura: “marcos punitivos”.
Horta faz um enorme malabarismo, fala sobre os regimes de verdade, a dificuldade de regular e punir, como as “fake news” sempre existiram, mas no fim chega à mesma conclusão que a da grande imprensa: é preciso censurar. Os pontos anteriores ao quarto são somente firulas para esconder a antiga censura, que só pode ser praticada por quem detêm o poder, ou seja, por quem consegue difundir mais mentiras. No fim, quem define quem pode ou não pode falar são os grandes monopólios da imprensa burguesa. Basta lembrar o caso Monark, que era um individuo que ganhava uma projeção e foi esmagado pelos monopólios da imprensa que realizaram uma campanha sórdida de cancelamento, inventando que o apresentador seria nazista. E ainda dizem que as maiores fake news vêm da extrema-direita.
O texto de Horta é uma comprovação de que o combate às “fake news” é uma política da direita. Ele tenta de todas as formas amenizar a questão, mas no fim chega à mesma política que a Globo defende: a censura. É um capachismo, uma capitulação da esquerda pequeno-burguesa a direita que, no fim, adera a uma das políticas mais hipócritas da história. As maiores indústrias de mentiras se autoproclamam como aqueles que irão combater a mentira e passam a defender uma censura generalizada da população. É uma demagogia que esconde seus reais interesses, se manterem como os monopólios dos meios de comunicação, o imperialismo quer evitar a qualquer custa toda voz dissonante.




