Revisionismo da Independência

Um “pacto das elites” para acabar com o Brasil

Lilia Schwarcz, burguesa e historiadora é uma das principais expoentes do ataque a história nacional, uma expressão ideológica do entreguismo total dessa classe social

A campanha imperialista pela dominação do Brasil ao atingir a esfera ideológica se transforma em um ataque à história nacional, um revisionismo em que todos os mais importantes eventos de progresso da nação foram uma farsa. Uma das maiores expoentes desse revisionismo é Lilia Schwarcz, uma das proprietárias da Companhia das Letras, maior editora do Brasil, e professora da USP. Ela tem ligações estreitas com o imperialismo inglês e com o PSBD. Portanto, é uma das mais divulgadas historiadoras pela imprensa burguesa. Seu último alvo, pegando a celebração de 2022 de gancho, foi a Independência do Brasil, ela chegou a publicar um livro: ‘O sequestro da Independência” cujas ideias divulgou no podcast Inteligência LTDA. Em toda a entrevista fica claro que o seu principal objetivo é atacar o Brasil e sua história.

Toda a tese de Lilia é que a Independência “como é contada” é uma farsa. O Sete de Setembro não seria uma data importante; D. Pedro I não foi um verdadeiro libertador do Brasil; A Independência, na verdade, foi um pacto das elites para manter a escravidão e todo o processo foi, de fato, uma contrarrevolução em que D Pedro I reprimia o povo. Os criadores de todos os mitos teriam sido o próprio D. Pedro I, seu filho D Pedro II, as elites paulistas de 1922 e depois a ditadura militar na década de 1970. É uma tese ‘esquerdista’, portanto. A história real estaria sendo escondida pela monarquia, as elites e a ditadura. Um fato interessante dado que a própria Lilia é uma representante da burguesia, o esquerdismo da tese é obviamente apenas uma demagogia para esconder o revisionismo antinacional.

A primeira tese de Lilia é de que o Sete de Setembro seria uma farsa e a Independência real teria acontecido no Rio de Janeiro, a capital na época. É obvio que o processo de independência nacional não se deu todo em apenas um dia, inclusive dias famosos no Rio de Janeiro são também lembrados como o Dia do Fico ou a coração de D. Pedro I. Contudo, o Sete de Setembro é uma data marcante por ser o momento em que D Pedro I rompe vínculos oficialmente com Portugal. Relatos oficias indicam que no famoso brado ele teria afirmado “A partir de hoje as nossas relações estão quebradas. Nenhum vínculo nos une mais”. A proclamação do chefe de Estado do Brasil pode ser considerada de fato o início do Brasil independente. Mas Lilia quer apagar essa data, sem apresentar um motivo aparente.

A Grito do Ipiranga é famoso também pelo grandioso quadro de Pedro Américo, que está exposto no Museu do Ipiranga. Esse quadro também é alvo de ataque de Lilia que o considera como uma grande farsa. É interessante, pois há relatos de que o acontecimento teve semelhança com o que está retratado, inclusive o próprio Pedro Américo estudou esses relatos. Mas, para Lilia, aquilo é uma farsa total, como se o fato de ser um quadro, e não uma foto, pudesse ser usado para desqualificá-lo como uma tentativa de se aproximar da realidade. O quadro é uma das grandes obras de exaltação do Brasil, tal qual o Monumento às Bandeiras, atacado de forma muito semelhante. Lilia é mais uma no coro da campanha imperialista contra os grandes acontecimentos históricos brasileiros.

Ela também acusa o Sete de Setembro de ser uma tese criada pelas elites de São Paulo. A qual converge com a defesa dos bandeirantes. O mesmo fenômeno que o citado acima com as obras de Pedro Américo e Brecheret. É a volta do argumento do “paulistocentrismo”, que se oporia ao nordeste, ao norte e até ao sul. Nas palavras de Lilia, essa história da independência é “sudestecentrica”. Uma falsificação, pois ela mesma admite que D Pedro I e D Pedro II, ambos tendo vivido a maior parte de suas vidas no Rio de Janeiro, eram grandes defensores do Sete de Setembro. E, segundo, uma tese de divisão do país, como se São Paulo, o estado mais desenvolvido da nação, portanto, exemplo para os demais, na verdade, fosse o pior, o mais reacionário e autoritário. Vale citar que a história dos bandeirantes, muito atacada, começou como um estudo do povo brasileiro, dado que eram, em geral, uma população marginalizada em relação ao nordeste, que na época era capital da colônia.

Lilia Schwarcz também levanta que a ditadura militar valorizava o Sete de Setembro e o transformou em um desfile militar. Um argumento muito fraco. Todos conhecem a demagogia nacionalista da ditadura, que surgiu de um golpe organizado diretamente de Washington. Os militares se aproveitaram de todo tipo de símbolos nacionais para sustentar o seu governo, inclusive o uso da Independência, uma data revolucionária, é importante para apagar esse seu caráter. Da mesma forma, os EUA tentam apagar suas origens revolucionárias nas comemorações oficias do 4 de julho, a sua data da independência.

Resta ainda a questão crucial do discurso de Lilia: a tese de que a independência foi, na verdade, uma contrarrevolução. Ela ignora que D Pedro I era um liberal inspirado por Napoleão, ou seja, pela Revolução Francesa que travou uma guerra de libertação nacional contra os portugueses e foi vitorioso. O primeiro imperador do Brasil, para ela, não tem nenhuma qualidade positiva. Sustenta que a elite escravocrata organizou a independência para manter a escravidão no país, a monarquia foi mantida, pois era reacionária e isso seria mais uma base para a escravidão. A tese desconsidera completamente a realidade. A luta principal entre o Brasil e Portugal é deixada de lado pelo problema da escravidão, que só viria a se tornar uma questão nacional décadas depois. Aqui entra o revisionismo histórico identitário, a questão racial é usada para apagar a história real. A burguesia de Portugal, que lutava para manter o Brasil sob o seu domínio, não era contra a escravidão. Portugal, na verdade, sustentou um regime análogo à escravidão em Angola e Moçambique por décadas a mais que o Brasil.

Por fim, a tese da contra revolução no Brasil se baseia na contraposição com a tese das revoluções na América Espanhola. É aqui que entra a tese mais imperialista de todas, um “movimento popular real” levaria à divisão do Brasil em várias nações. É essa ideologia que o imperialismo quer impor no Brasil: toda a história nacional seria composta apenas de atrocidades e fraudes, nem a independência é real, o Brasil não deveria sequer existir. Caso o país tivesse dado certo, seria fragmentado como o resto da América Latina. A realidade desmascara essa fraude, basta comparar o Brasil ao Paraguai e à Bolívia, por exemplo. A verdade é o oposto, o Brasil é o maior exemplo de sucesso latino-americano. A independência organizada pelo príncipe Pedro, apesar de parecer reacionária para os leigos, foi a mais progressista de todas por manter um gigantesco país unificado.

Lilia, como a esmagadora maioria da burguesia nacional, odeia o Brasil. E esse ódio se expressa em sua análise da história. Um dos mais grandiosos eventos da América Latina e do próprio século XIX é reduzido a uma fraude. E toda a argumentação tem uma feição esquerdista, ou seja, é voltada para enfraquecer os setores que seguem lutando pela libertação do Brasil. Basta ver como na Venezuela a história nacional é usada para fortalecer o movimento atual de luta dos trabalhadores contra o imperialismo. A Independência do Brasil deveria ser um evento inspirador para todos os que seguem lutando pela libertação do país. Portanto, invertendo o sinal, gera repulsa em toda a burguesia que quer manter o país nos grilhões das potências estrangeiras.

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