Nessa terça-feira (04), o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump compareceu ao Tribunal Criminal de Manhattan, na cidade de Nova York, para depor em um processo criminal em que é acusado de subornar a atriz pornô Stormy Daniels, que dizia ter um caso com ele. O caso teria se dado durante a campanha eleitoral de 2016, quando Trump foi eleito presidente dos EUA. Os dois teriam se relacionado em 2006, quando Trump já era casado com sua atual esposa, Melania.
Segundo a imprensa local, são mais de 30 acusações contra o republicano, todas relacionadas a um suposto pagamento de US$130 mil (cerca de R$ 660 mil) à atriz pornô. A quantia paga a Stormy Daniels não foi incluída nas contas de campanha de Trump, o que violaria as leis eleitorais estaduais, mas foi registrada como “honorários advocatícios” nas despesas de sua empresa, com sede em Nova York. Caso condenado, Trump poderá ser sentenciado a uma pena de até improváveis cem anos de prisão – contudo, não estaria impedido de concorrer à presidência da República em 2024.
Trump ficou no tribunal por aproximadamente duas horas. Em nenhum momento chegou a ser algemado. Centenas de pessoas, algumas a favor e outras contra Trump, se reuniram em um parque em frente ao tribunal. Não foram registrados grandes confrontos.
O ex-presidente norte-americano se declarou inocente de todas as acusações e, como não se tratava de um caso violento, o republicano não chegou a ser algemado e foi liberado após ter sido indiciado. Os próximos passos serão as audiências nas quais defesa e acusação apresentam provas e testemunhas. A próxima audiência do caso foi marcada pelo juiz para dezembro.
Essa é a primeira vez na história em que um ex-presidente norte-americano se torna réu criminal, o que merece um grande destaque. Ao contrário do regime político brasileiro, por exemplo, o regime norte-americano é bastante estável. O país teve uma única Constituição até os dias de hoje e ainda resguarda uma série de direitos democráticos, apesar da decadência econômica cada vez maior. O indiciamento de Trump, assim, não é mero acaso, mas um importante sinal de deterioração do regime político.
Essa não seria, nem de longe, a primeira vez que os Estados Unidos tiveram um ex-presidente criminoso. George W. Bush, o filho, além de ser acusado de fraude eleitoral em sua reeleição, foi também responsável por uma das maiores atrocidades das últimas décadas, que foi a guerra do Iraque. O motivo pelo qual Trump corre sério risco de ser preso é puramente político: tudo indica que, se as eleições presidenciais ocorressem hoje, o republicano venceria. Trata-se, portanto, de um caso muito semelhante ao das eleições brasileiras de 2018, quando Lula teve seus direitos políticos cassados.
Trump não é uma figura do movimento operário, como Lula, mas um político de extrema-direita. No entanto, é apoiado por amplos setores da classe média, de setores médios da burguesia norte-americana e até por uma parcela da classe operária. Na ausência de uma esquerda com um programa bem definido, Trump é visto por milhões de pessoas como um oponente à impopular política neoliberal, a política de dominação do imperialismo norte-americano. É daí, portanto, que vem o seu apoio: como o imperialismo mergulha cada vez mais em uma política contestada pelo povo, matando sua própria população de fome para sustentar guerras do outro lado do mundo, a figura de Trump se fortalece. O próprio ex-presidente declarou recentemente que acabaria com a guerra da Ucrânia, uma política que tem apoio crescente em todo o planeta.
Em menos de quinze dias, quando a possibilidade de ser preso se tornou bastante real, Trump recebeu mais de oito milhões de dólares em doações. Esse dado, por si só, mostra o grande apoio que o republicano tem, bem como o fato de que a perseguição do regime à sua figura tende a radicalizar ainda mais a sua base.
A prisão de Trump é parte de uma necessidade do regime, trata-se de uma ofensiva para impedir não apenas legalmente, mas, principalmente, politicamente que o republicano seja eleito em 2024. Ao que tudo indica, contudo, a prisão só não aconteceu nessa segunda-feira porque o próprio ex-presidente denunciou que seria preso e, assim, mobilizou seus apoiadores, que saíram às ruas e demonstraram uma forte tendência à mobilização caso a perseguição a seu líder endureça. As condições para a prisão de Trump não pareciam ideais, no momento. Contudo, o imperialismo seguirá tentando tirá-lo da disputa.



