As três primeiras e maiores experiências de SAFs no Brasil, até o momento, Cruzeiro, Vasco e Botafogo, parecem não estar muito bem nesse inicio de temporada, em 2023. O clube de Minas Gerais não conseguiu sequer a classificação para a final do Mineirão, sendo eliminado pelo time do América, o que ocasionou na saída do técnico uruguaio Paulo Pezzolano, que agora será substituído por um outro estrangeiro, o português Pepa. Nas equipes cariocas, o Vasco foi eliminado no Campeonato Carioca para o seu arquirrival, o Flamengo em disputa nas semi-finais, mas antes havia tido uma eliminação humilhante perante o ABC, pela Copa do Brasil (torneio que também quase eliminou a SAF do Botafogo aliás) , enquanto que o Botafogo nem nas semifinais chegou, e hoje se vê impelido a levar a Taça Rio, para então poder ter o direito de acesso a disputar a Copa do Brasil em 2024. São três dos maiores times brasileiros, amargando situações vexatórias e que perigam novas quedas no Campeonato Brasileiro deste ano, bem como a própria falência das equipes, situação muito difícil de ocorrer para clubes grandes, tais como esses.
Com o advento da Lei 14.193/21 (lei essa que gerou a possibilidade das equipes virarem SAFs – Sociedade Anônima de Futebol) a recuperação judicial passou a ser usada pelas organizações para se livrarem de dividas, geralmente quando estas se encontram muito endividadas, buscando assim melhores formas de negociarem seus débitos com os credores. Ela é muito recorrente a empresas que estão quase quebradas, mas que possuem alguma relevância social e econômica, e portanto, precisam achar um meio para reestruturar suas dívidas.
No Brasil, esse sistema está previsto por meio da Lei 11.101, do ano de 2005. Segundo a mesma matéria, por mais que os clubes (as organizações, etc) vejam tai recuperação judicial como um fôlego para suas finanças, para sua reestruturação econômica, etc… é necessário ter precaução e cautela perante a esse acesso financeiro por meio desta ação. Se trata de um mecanismo que tem como protagonista o plano de recuperação judicial que, se não for aprovado pela assembleia geral de credores ou se não for cumprido, resultará em falência, determinada pela Lei de Recuperação de Empresas e Falência.
Logo, clubes que não conseguirem resultado positivo em relação à Recuperação Judicial, correm sérios riscos de irem à falência. “Sim, os clubes podem falir com a recuperação judicial. Nesses casos, a tendência é de que alguém acabe adquirindo seus direitos de imagem e coisas relacionadas. Acabar e falir um clube de futebol não me parece algo tão palpável no mundo real, mas no mundo jurídico sim”, afirma Daniel Báril, advogado e diretor na área de insolvência e reestruturação. No mundo empresarial, a falência é um caminho sem volta e como é recente a utilização do mecanismo da recuperação judicial pelos clubes, ainda não temos as estatísticas de quantos são levadas à falência, ou seja, quantos processos de recuperação judicial não atingem o seu objetivo de efetivamente reestruturar a pessoa jurídica devedora e terminam com a falência em si.
Além disso, levantamento feito pelo Observatório de Insolvência da PUC/SP, divulgado antes da vigência da Lei das SAFs, e que chegou ao seguinte resultado com os pedidos do Rio de Janeiro feitos no Estado de São Paulo entre 2010 e 2018: 18,2% obtiveram sucesso de reestruturação da empresa, enquanto que 24,8% tiveram a sua falência decretada e se esses números se repetirem no futebol, em breve veremos clubes tradicionais do futebol brasileiro que iniciaram o processo de recuperação judicial terem a sua falência decretada. Sendo assim hoje, um dos maiores inimigos do Futebol brasileiro são justamente as SAFs, bem como a campanha propagandística em torno das mesmas.
Entre os 20 clubes que participarão da Série A do Campeonato Brasileiro em 2023, seis já se transformaram em SAF. Foi uma grande propaganda de engodo para o povo brasileiro se familiarizar com isso tudo. Em pouco tempo, infelizmente, e se nada mudar, poderemos ver sim os grandes clubes citados, entre outros, abrirem falência, e talvez até deixarem de existir como entidade, algo que ocorreu por exemplo com o time escocês dos Rangers, que também é chamado de Glasgow Rangers, faliu em 2012, tendo contraído uma divida de 26 milhões de euros. O clube mudou seu nome de Rangers Football Club para The Rangers Football Club, e, só depois de 10 anos voltou a disputar para ganhar alguma coisa relevante (conquistou respectivamente a quarta, terceira e segunda divisões), tendo ido parar na quarta divisão do seu país, um clube que tem mais de 100 anos e que junto ao Celtics, dominava o país em relação às conquistas.
O futebol precisaria ser gerido de uma outra forma, uma forma que acabe de vez com as SAFs, com dirigentes muito ricos que querem lucro e mais lucro ainda mais, com o profundo sucateamento que a maioria dos grandes times sofrem (e que impulsionam a adoção cada vez maior desse sistema SAF). SAF aliás que é um nome que cai bem para tudo isso que vivenciamos no nosso Futebol brasileiro, algo bem SAFado!