OPEP E O IMPERIAISMO: CONFLITOS E CISÕES NA ATUAL FASE DAS DISPUTAS GEOPOLÍTICAS ESTRATÉGICAS
A maior crise do imperialismo envolvendo o cartel da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) ocorreu entre 1973 e 1979, na transição do regime anterior “keynesiano” para a fase do neoliberalismo. Entendemos “keynesiano” como o modelo econômico inspirado nas ideias do economista britânico John Maynard Keynes, que enfatizava a necessidade de que o Estado, ou as nações, investissem parte importante da sua arrecadação ou receita, na geração de emprego e renda por meio de políticas sociais e de infraestrutura, principalmente após o colapso do liberalismo econômico entre o final da década de 1920 englobando a Segunda Guerra Mundial (1939-45).
Foi inclusive no período pós-segunda guerra, que os Estados Unidos se consolidaram enquanto primeira potência mundial, e colocou sob o guarda-chuva de influência geopolítica estratégica as combalidas economias europeias em torno do Plano Marshal de recuperação econômica, a criação do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e os demais bancos multilaterais, assim como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a ratificação do Acordo de Bretton Woods (1944) que definia o dólar como a moeda universal de valor lastreada ouro. Com o advento da crise de acumulação do capital do final da década de 1960, também chamada de “esgotamento do padrão fordista de produção”, os principais países produtores de petróleo do mundo exigiram uma fatia maior nessa repartição dos ganhos do capital em grande escala. A redução estratégica da produção petrolífera ratificada pelo cartel da OPEP em 1973 e depois em 1979 fez explodir os preços do produto no mercado internacional e a crise do capitalismo se intensificou.
A saída para a crise naquele momento passa pelo arrocho dos salários reais nos EUA e demais países desenvolvidos e principalmente o impulsionamento de medidas fiscais restritivas aos países atrasados, um “pacote-bomba” de superexploração do trabalho nesses países, assim como um plano amplo de privatizações e redução da manutenção dos serviços públicos, mesmo que essenciais à população. A “era do neoliberalismo” começa com muito ímpeto na década de 1980 e irá ser ainda mais impulsionada com as exigências impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), na década de 1990, com a globalização econômica financeira neoliberal.
Com a crise de 2008, um novo “divisor de águas”, ou cenário, se abre a partir da falência do imperialismo na “era das finanças globais”, onde China e Rússia se fortalecem enquanto os Estados Unidos e seus consortes europeus se fragilizam de maneira bastante rápida. Nesse momento pós-pandemia e diante da guerra da Ucrânia, a crise do imperialismo tornou-se ainda mais aguda. Alguns países historicamente aliados dos Estados Unidos já “desafiam” o chefe “supremo” do mundo com políticas nacionalistas e de cunho externo arrojado. Uma das mais importantes e recentes foi adotada pela Arábia Saudita, quando decidiu por uma aproximação com um dos principais desafetos dos EUA: o Irã.
Neste domingo (2 de abril de 2023) a Arábia Saudita e demais membros da OPEP decidiram pela redução da produção de petróleo mundial, irritando ainda mais os EUA. Segundo o portal “Seu Dinheiro”, “Após sucessivos aumentos na produção no ano passado, a Arábia Saudita e outros países produtores de petróleo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+) informaram, neste domingo (2), cortes voluntários na produção do óleo.
O cartel deve reduzir cerca de 1,15 milhão de barril por dia (bdp) até o final de maio. Contudo, o corte é menor que as expectativa, de 2 milhões de bpd”.
“Esse corte voluntário é adicional à redução na produção acordada na 33ª Reunião Ministerial da Opep e não Opep em 5 de outubro de 2022”, diz o comunicado do Ministério de Minas e Energia da Arábia Saudita. “O responsável do Ministério da Energia enfatiza que se trata de uma medida de precaução destinada a apoiar a estabilidade do mercado petrolífero.”
Essas decisões econômicas também são políticas à medida que demonstram uma posição de relativa “autonomia” em relação às necessidades ou ditames do imperialismo em pleno conflito com o consórcio sino-russo. Países africanos recentemente adotaram práticas nacionalistas com retóricas em defesa da soberania e não mais subserviência ao imperialismo americano e seus aliados europeus. Quanto a uma série de indisposições demonstradas por diversos países, a Arábia Saudita chama mais a atenção pela sua relação histórica estreita com os Estados Unidos. O mesmo portal segue a matéria incluindo aspectos da guerra da Ucrânia e também sobre a insatisfação dos EUA quanto à política de redução da produção de petróleo.
“A fim de reduzir os impactos na oferta de petróleo com a guerra na Ucrânia, a Opep+ aumentou gradativamente a produção do óleo entre julho e setembro do ano passado.
Mas, em outubro de 2022, a Opep+ retomou os cortes na produção de petróleo na ordem de 2 milhões de barris diários em novembro até o final do ano passado — o que não agradou aos EUA.
O país governado por Joe Biden é um dos que mais pressionam pelo aumento da oferta da Opep+ para conter a disparada de preços, sobretudo, de energia com impacto na inflação americana.
Sendo assim, os EUA defendem preços mais baixos para apoiar o crescimento econômico e impedir que o presidente russo, Vladimir Putin, consiga mais capital para financiar a guerra na Ucrânia.
Por fim, os preços do barril do óleo caíram para mínimas de 15 meses no início deste mês em resposta à crise bancária com o colapso dos bancos regionais americanos: Silicon Valley Bank (SVB) e Signature Bank; além do banco suíço Credit Suisse pelo UBS BB.
O cenário que aponta a quebra de alguns bancos, dentre eles, um importante banco suíço, fez baixar o preço de muitos ativos financeiros, inclusive aqueles lastreados em commodities como o petróleo. Ao mesmo tempo, essa decisão de reduzir ainda mais a produção do petróleo fará com que o preço suba novamente e pressione para cima a inflação nos EUA. Isso terá impacto inclusive para o Brasil, que ainda adota o PPI (preço por paridade de importação) como instrumento que “regula” o preço dos combustíveis. Mas, um forte impacto de preços nos EUA que possa ainda favorecer a Rússia é tudo que Biden mais detestaria neste momento. Se em pleno confronto aberto com a Rússia os estadunidenses não podem contar com o seu “principal parceiro” no Oriente Médio – Arábia Saudita, o que mais restará de adesão por parte dos países periféricos da África e principalmente Ásia nessa região de acirrada disputa no Oriente Médio? Muito nitidamente o imperialismo passa pela pior crise da sua história pós-segunda grande guerra.