Durante visita a uma fábrica de semicondutores na cidade de Durham, Carolina do Norte, Joe Biden reconheceu nesta terça-feira (28), em entrevista a órgãos da impressa norte-americana, que a crise bancária pela qual passa os Estados Unidos da America ainda não foi controlada.
Questionado se novas ações seriam tomadas pelo governo para controlar a crise, sua resposta foi “Oh, não, ainda não acabou. Estamos observando de perto”.
Biden também declarou que o governo estava buscando implementar medidas legislativas em resposta à crise. Contudo, isto pode se mostrar difícil dada à divisão interna dentro do congresso norte-americano. Segue a declaração:
“Não estou certo se teremos mudanças legislativas. Mas estamos correndo atrás delas também”.
Relembrando, a crise iniciou em meados de março com o colapso de bancos norte-americanos de médio porte. Ocorreu primeiramente com o Banco do Vale do Silício (SVB). Esse banco tinha grande parte dos depósitos de seus clientes investidos em títulos de renda fixa do tesouro norte-americano, com juros baixos pré-fixados. Por um bom tempo, o governo dos EUA vinha mantendo com o FED (Federal Reserve System, o Banco Central norte-americano) uma política de juros baixos.
Contudo, com a pandemia, a crise econômica e política dela advinda, e as recentes crises políticas na qual o imperialismo se meteu, em especial a guerra na Ucrânia, os Estados Unidos passaram a enfrentar um cenário crescente de inflação. Assim, o governo precisou alterar a política de juros baixos para juros altos a fim de controlar a inflação.
Para não sair no prejuízo, o SVB começou a vender seus títulos de renda fixa e ir atrás de comprar novos títulos. No mesmo sentido, os credores do banco não queriam ver suas ações se desvalorizarem. Então, ao notarem a movimentação, correram a sacar seus depósitos, causando uma verdadeira corrida bancária.
A corrida bancária é uma das principais formas de levar um banco à falência. Pois quanto mais pessoas retiram depósitos, maior o medo dos demais clientes de que o banco não tenha ativos para pagá-los. Assim, mais pessoas correm para sacar gerando um efeito de bola de neve.
Os saques geraram um verdadeiro rombo no SVB, levando-o à falência. O banco foi fechado por agentes reguladores no dia 10 de março e um órgão governamental do estado da Califórnia assumiu o controle.
Apenas dois dias depois, o Signature Bank, do estado de Nova Iorque, também foi à falência, sendo fechado por agentes reguladores, tendo seu controle assumido pelo Departamento de Serviços Financeiros de Nova Iorque.
Contudo, a crise não fica contida dentro dos EUA, e acabou se espalhando para a Europa. Em 15 de março, as ações do Credit Suisse tiveram uma queda recorde, e o banco precisou ser socorrido com dinheiro público do governo suíço.
Na segunda quinzena de março, a crise bancária atingiu também a Alemanha, e as ações do Deustche Bank despencaram, caindo mais de 10%. Autoridades do Banco Central da Inglaterra, por sua vez, anunciaram nessa terça-feira (28), que estão em estado de alerta diante da crise pela qual passa o sistema bancário nos países imperialistas.
É preciso frisar que esta crise econômica não é algo isolado, mas uma consequência das crises políticas pela qual o imperialismo vem passando, especialmente a enrascada em que se meteu ao utilizar a Ucrânia como bucha de canhão contra a Rússia.
Desde que operação militar especial Russa foi deflagrada, buscando barrar a ofensiva imperialista, o imperialismo tentou sancionar o gigante do leste europeu de todas as formas, na esperança de subjugá-lo. Contudo, o tiro saiu pela culatra, e os embargos impostos à Rússia geraram uma grave crise econômica no coração do imperialismo (Europa e Estados Unidos) com alta escalada inflacionária.
Foi justamente essa escalada o principal causador da recente crise bancária. Em outras palavras, a crise política do imperialismo, decorrente de sua aventura malsucedida contra a Rússia, acabou por ocasionar essa nova crise, que pode muito bem levar a uma crise do sistema financeiro mundial.
Vale recordar que a operação militar especial Russa foi facilitada pela derrota catastrófica sofrida pelos EUA no Afeganistão em 2021, a qual expôs grande debilidade do imperialismo, dando sinal verde para os russos agirem com mais segurança, digamos assim.
No Oriente Médio, o imperialismo perde cada vez mais o controle sobre a região. Há poucas semanas, a Arábia Saudita, histórico preposto dos EUA na região, se reaproximou do Irã (inimigo do tio Sam desde 78), em reunião diplomática mediada pela China.
Sentindo que diminui seu controle sobre os sauditas, o imperialismo decide voltar suas forças para manter sua principal ponta de lança no Oriente Médio: Israel. Assim, desde janeiro, vem colocando em prática uma ‘revolução colorida’ contra o governo de Benjamin Netanyahu, que vem ensaiando certa independência que não cabe na conta dos EUA.
Enquanto isso, Xi Jinping esteve em Moscou entre 20 e 22 de março, a convite de Putin. A visita consolidou uma aliança histórica entre China e Rússia, fortalecendo as relações dos dois principais países na mira do imperialismo.
Na esteira dessa aliança, o presidente Lula remarcou sua ida à China para meados de abril, aguardando apenas confirmação de Pequim. Contudo, o presidente desafia o dólar, e o Brasil vai negociar com o principal parceiro comercial em real e yuan.
Toda essa espiral de crise mostra uma progressiva decadência e enfraquecimento do imperialismo.
Não por coincidência, a classe operária europeia já entrou em ação. Desde janeiro de 2023, a França se encontra convulsionada por protestos contra a crise econômica que assola o país, protestos estes catalisados pela reforma da previdência proposta pelo governo Macron. Os protestos, convocados pelas mais importantes centras sindicais francesas, adquiriram maior radicalização em março e já colocaram na ordem do dia a questão do poder político, a saída de Emmanuel Macron do governo.
A movimentação da classe operária francesa pode contagiar o restante da Europa, agravando a crise do imperialismo em escala mundial. Tanto é assim que nesta segunda-feira (27) houve uma greve geral de um dia no setor dos transportes na Alemanha, uma das maiores em anos.
Por diversos países da Europa, a classe operária se movimenta novamente fazendo greves, lutando contra seus respectivos governos representantes dos banqueiros, do imperialismo.
A derrota no Afeganistão, o revés na Ucrânia, a aliança entre China e Rússia, as perdas do controle sobre Oriente Médio e o Brasil, a aliança entre os países oprimidos, a recente crise bancária, a movimentação da classe operária europeia; todos esses fatos apontam para uma crise generalizada do imperialismo. Uma crise mundial, a qual se avizinha a grande velocidade. A própria burguesia mundial sabe disto. Daí a declaração de Biden.
No mesmo sentido, a declaração de Ken Griffin (fundador do fundo de investimentos Citadel) ao Financial Times: “O capitalismo está desmoronado perante nossos olhos”.
Bom, que desmorone! De seus escombros os trabalhadores construirão o socialismo!