A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) sempre teve como objetivo a instalação de bases militares o mais próximo possível do território russo, de modo a pressionar o país que, pelo seu porte, pode se tornar um grande obstáculo à ordem mundial. A OTAN começou com doze países-membro, mas, graças a seu plano de expansão, conseguiu, por “aproximações sucessivas”, chegar cada vez mais perto da Rússia. Hoje, a organização conta com 30 países.
É notório que o plano de expansão da OTAN, mais particularmente a incorporação da Ucrânia, foi o que causou a operação militar russa em seu país vizinho — operação essa que a imprensa imperialista faz questão de chamar de guerra. Com a Ucrânia no tratado, afinal, os russos viveriam sob a ameaça constante de serem atingidos por um míssil disparado a apenas cinco minutos de distância.
A expansão histórica da OTAN contou não apenas com a subserviência dos países do Leste Europeu ao imperialismo, mas também com a sabotagem interna na Rússia. Boris Iéltsin, um homem hoje odiado na terra da Revolução Bolchevique e responsável pela experiência mais profunda da Rússia com o neoliberalismo, teve um papel importante no plano, conforme seria revelado posteriormente.
O artigo abaixo, publicado pelo portal Voltaire.net e adaptado para o português brasileiro, apresenta os principais dados desse caso.
O jogo duplo de Iéltsin está na origem do conflito sobre a expansão da OTAN
Os arquivos britânicos atestam que, em 1993, o Presidente russo Boris Iéltsin indicou várias vezes aos seus interlocutores ocidentais que, a título pessoal, ele não se opunha à adesão da Polónia, República Checa e Hungria à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN); declarações que evidentemente chocaram as suas próprias equipes.
Boris Iéltsin hesitou em participar na Cimeira (Cúpula-br) da OTAN em Madrid. Nela, ele obteve a adoção do Ato Fundador que tinha como objetivo fixar as modalidades de cooperação entre a Aliança e a Federação da Rússia. Mas esse texto não tem valor vinculativo, foi apenas uma ferramenta de comunicação visando justificar uma aproximação das posições pública e privada do Presidente russo.
Durante esse período, o Primeiro-Ministro russo, Viktor Chernomyrdin, não parou de avisar os seus interlocutores ocidentais contra a posição privada do Presidente Boris Iéltsin e de sublinhar que a expansão da OTAN faria “explodir” o continente europeu.