Um dia antes da primeira rodada de negociações, Frank Werneke, presidente do sindicato alemão ver.di comunica que os trabalhadores não serão enganados com palavras amigáveis e resultados ruins nos reajustes salariais. Estes reajustes atingem mais de 2,5 milhões de trabalhadores do setor público federal e municipal. Segundo Frank Werneke, no domingo à noite mais de 325 mil trabalhadores do setor público participaram de uma enquete do ver.di em apoio às reivindicações concretas: 10,5% ou pelo menos 500 euros a mais por mês para todos.
As negociações se iniciariam no dia seguinte (24/1). A Federação das Associações de Empregadores Municipais (VKA) já havia expressado que não considerava as exigências acessíveis, e na segunda rodada, em fevereiro, as propostas apresentadas pela VKA foram rejeitadas por serem consideradas inaceitáveis pelo presidente do ver.di.
As manifestações vêm crescendo. Em 17 de fevereiro foram chamados os trabalhadores de sete aeroportos para que se juntassem à paralisação dos servidores públicos. Para o 1º de março foi a vez dos jovens aprendizes, estagiários e estudantes de cursos que combinam a graduação com a prática; e no dia 3, de norte a sul, em sete regiões do país, ônibus e trens do transporte público foram fortemente paralisados. No dia internacional de luta da mulher foram chamados trabalhadores do serviço social e educação. Trabalhadores da área da saúde foram chamados para paralisação nos dias 14 e 15 de maço. As chamadas seguiram e resultaram em grandes mobilizações nesta semana.
Foi assim, por exemplo, em Munique com a paralisação de 6.000 funcionários do serviço público, e no dia 22 de março, segundo o sindicato, 8,5 mil manifestantes em Nuremberg e 7 mil no Marktplatz de Bremen. A paralisação no aeroporto de Munique de 200 dos cerca de 250 a 300 trabalhadores no controle de segurança paralisaram.
No total, até agora, participaram das paralisações cerca de 400 mil trabalhadores. Nesta quinta-feira (23/3) o ver.di, junto com outros sindicatos (DGBe EVG), chamam para uma mega-paralisação para o dia 27 deste mês, quando começa a terceira rodada de negociações.
Na Alemanha, o crescimento das paralisações gerou reações direitistas aparentemente em defesa da sociedade. Para Gregor Thüsing, advogado trabalhista e diretor do Instituto de Direito do Trabalho e de Direito da Segurança Social da Universidade de Bonn, em entrevista para a revista alemã Wirtschaftswoche, os sindicatos não podem tornar o público como refém e questiona até quando as proporções das paralisações podem ser aceitáveis, já que o conflito nas negociações tendem a aumentar e os sindicatos a expandir as greves.
Já para centenas de milhares de trabalhadores trata-se do stress diário com milhares de vagas que não são preenchidas, aumentando as exigências sobre os trabalhadores – em Munique, por exemplo, 4000. Além disso, para a maioria da população, em especial os menos favorecidos, se somam as dificuldades com aumentos exorbitantes de preços dos alimentos, dos custos de energia e habitação – onde mais economizar?
O agravamento das tensões na Ucrânia e os custos da crise despejados sobre as costas dos trabalhadores aumentam a polarização que não é exclusividade da Alemanha. O governo francês está enfrentando enormes manifestações que, ao que tudo indica, tendem a radicalizar.