No dia 2 (dois) de março, os companheiros Caio Thulio e Thiago Pires, apresentaram o Tição – Programa de Preto. Tição é o programa do Coletivo de negros João Candido, onde se debatem os principais acontecimentos da questão negra sob a ótica da luta de classes.
Tição, Programa de Preto nº 179
Na pauta do programa, os principais pontos foram a questão do da forte presença de trabalho escravo no Brasil e a apreciação do STF acerca da legalidade das abordagens policiais motivadas por racismo.
Outro ponto importante no início do programa foi memorar a proximidade do aniversário de 70 anos da morte de Florence Beatrice Price. Florence foi uma importante compositora da música clássica norte-americana.
Florence teve uma produção diversificada e prolifera, resultando numa significativa obra, com sinfonias, concertos, peças musicais para solistas, entre outras. Ela foi a primeira negra a ser reconhecida como compositora sinfônica, tendo um arranjo executado por orquestra sinfônica.
Mesmo vindo de uma família com determinada posição social, Florence ainda acabou sofrendo com o preconceito e opressão, para escapar dessa violência chegou a seguir carreira no México. Embora a forma de sua obra fosse vernácula, Florence compunha no idioma natal, com temas da sua realidade, apresentando raízes do sul dos Estados Unidos.
Esquerda que se alinha apenas com a direita
A certa altura do programa, os companheiros explicam como a esquerda pequeno-burguesa, baseada em diversas confusões, acaba por alinhar-se com o imperialismo. No geral a esquerda parte de posições inconsequentes que não consideram a realidade, tendo como consequência objetiva apenas fortalece a política do imperialismo.
Foram dados como exemplos as críticas de setores da esquerda nacional e internacional sobre os eventos na Ucrânia e Peru.
Quase como regra, esses grupos de esquerda acabam não compreendendo o cenário político ou as ações do Lula. Tendem a desconsiderar a luta entre o Governo Lula e o imperialismo, parte da burguesia nacional, e o embate existente dentro do próprio governo.
Essa política contribui apenas para fortalecer os elementos golpistas. Em vez de atacar os elementos direitistas do governo e fortalecer as posições mais as esquerdas, se colocam ao lado dos inimigos de classe dos trabalhadores.
Liberdade para os presos ilegais já!
No programa os companheiros apresentaram a notícia sobre a apreciação do STF sobre o possível “perfilamento racial” como “fundada suspeita” na realização de busca pessoal. O caso apreciado é o habeas corpus de uma pessoa presa portando 1,5g de cocaína, que teve o “enquadro” realizado por racismo.
Ocorre que os próprios policiais ressaltaram ser a cor da pele do indivíduo um dos principais fatores de suspeita. Esses agentes da ditadura do Estado burguês admitiram o caráter de classe de sua atuação, esse não é caso que essa política vem a público, o próprio comando da PM reconhece que existem dois critérios de classe na abordagem, procuradores também mencionam o “faro policial”.
Na defesa da repressão, a Vice-PRG Lindôra Araújo, manifestou-se:“se entender que é racismo, vai ter que soltar todos presos de tráfico”. A consideração da necessidade de libertar todos os presos por uma questão de classe está certa.
A esmagadora maioria dos presos estão encarcerados por serem negros e pobres, estes são presos políticos, que demanda a necessidade da palavra de ordem Fim dos presídios. Os companheiros que apresentaram o programa, lembraram em bom momento que a política identitária não tem qualquer benefício objetivo para essa população, se esses grupos se colocam como defensores dos negros, já passou do ponto de atuarem efetivamente.
Escravidão literal no capitalismo
Outro ponto colocado pelos companheiros Caio e Thiago, foi a significativa quantidade de denúncias e resgates de trabalhadores em situação análoga à escravidão nos últimos dias.
Um detalhe importante é que dos resgatados em situação análoga à escrava (escravidão) no Rio Grande do Sul, 74% se autodeclaram negros ou pardos, 9% indígenas, 37% estavam na faixa de 18 a 24 anos e 55% eram oriundos do Nordeste.
Negros, Nordestinos, jovens, indígenas, os setores mais vulneráveis de nossa sociedade e mais oprimidos pelo Estado. Essa é a questão levantada pelos companheiros, essa exploração é permitida pelo Estado, o discurso do vereador de Caxias do Sul demonstra isso.
O Estado, além de responder a uma classe, é composto em sua imensa maioria pelos elementos da classe a qual responde, no caso a burguesia e pequena burguesia. Os números são a maior prova dessa realidade, apenas no ano de 2022, 60 mil pessoas foram retiradas do trabalho escravo, dessas 84% eram negros.
No caso do RS, só diferenciou as armas, os capitães do mato no Brasil colônia não tinha teaser. Os trabalhadores eram mantidos em verdadeiras senzalas, torturados, forçados a comprar mantimentos no barracão do patrão, adquirido o insuficiente para mal sobreviver, no final do mês, com a conta no barracão em vez de receber salário, alguns acabavam com dívidas.
Os companheiros corretamente avaliaram se esse um fenômeno de degradação do capitalismo atrasado, que em crise regressa a formas pré-capitalistas. Nas palavras do companheiro Caio “ele nunca deixou de existir”, mas “ele regressa com maior força”.