A polêmica do momento envolvendo o novo governo Lula gira mais uma vez em torno da economia. Dessa vez, Fernando Haddad, escolhido por Lula para ser ministro da Fazenda do governo eleito, entrou no centro de uma discussão que vem promovendo uma divisão no interior do próprio Partido dos Trabalhadores.
Após dois meses no cargo de ministro, Fernando Haddad já se envolveu em polêmicas que chamaram a atenção. Muito mais moderado que Lula e visivelmente pressionado pela burguesia, o ministro tratou o enfrentamento do governo com o Banco Central como algo banal e, agora, decidiu, por fora da orientação oficial de Lula, retomar a volta da cobrança de tributos federais sobre a gasolina e o etanol, logo após adiar a revisão das metas de inflação.
A ação gerou duras críticas de integrantes do próprio Partido dos Trabalhadores. Na mesma semana, Gleisi Hoffmann, presidenta do PT, afirmou que uma mudança nos preços dos combustíveis só poderá ser acompanhada por uma mudança na política de preços da Petrobrás. Algo que Haddad, vem passando por cima.
“Antes de falar em retomar tributos sem combustíveis, é preciso definir uma nova política de preços para a Petrobrás. Isso será possível a partir de abril, quando o Conselho de Administração for renovado, com pessoas comprometidas com a reconstrução da empresa e de seu papel para o país”, afirmou a presidenta do PT.
Além de Gleisi, Roberto Requião, que foi candidato ao governo do estado do Paraná pelo PT, afirmou publicamente em sua conta oficial no Twitter que as posições de Fernando Haddad são uma “decepção”.
Em contrapartida a esta pressão realizada por setores do Partido dos Trabalhadores, a imprensa burguesa impulsiona Fernando Haddad para uma política neoliberal. Segundo editorial do jornal O Estado de S.Paulo, “Fernando Haddad, tem defendido posições sensatas na área econômica”. Além disso, um dos principais jornais da burguesia golpista brasileira considerou uma “vitória de Haddad” a retomada da cobrança de tributos federais sobre os combustíveis, e afirmou, de forma cínica, que, “se Lula tiver passado a escutar com mais atenção quem escolheu para chefiar a equipe econômica, será uma ótima notícia para o País”.
O jornal rebate as posições de Gleisi e do próprio Lula, que se demonstraram contra a volta dos tributos sem mexer com a política de preços da Petrobrás, e busca impulsionar o principal ministro de Lula para uma política alinhada aos interesses da burguesia.
Além disso, o Estadão busca afirmar que Haddad tem uma mentalidade superior à Lula, colocando inclusive uma oposição de programas entre o presidente da República e seu principal ministro, afirmando que Haddad se opôs ao aumento do salário-mínimo de Lula e seus ataques ao Banco Central, política de Haddad essa, elogiada pelo Estadão.
“Se o ministro da Fazenda continuar a seguir o caminho da razão e contar com o apoio do presidente, a economia brasileira só terá a ganhar”, afirmou Eliane Cantanhêde em sua coluna no Estadão.
A articulista da burguesia vai além e afirma “quando olham para combustíveis, mercado, economistas, investidores, produtores e especialistas veem Haddad, que lhes dá segurança e não pode, nem deve, ser arranhado”. Na busca de colocar Haddad como uma figura que possa servir aos interesses da burguesia contra a política econômica de Lula, a imprensa burguesa busca fazer o máximo de propaganda possível para o ministro da Fazenda, tentando dar mais liberdade para suas ações que vão em desencontro com os interesses do governo.
Fato é que Fernando Haddad está “criando asas” e Lula e o Partido dos Trabalhadores precisam voltar a tomar as rédeas da situação. O principal ministro do governo, justamente o ligado à economia, não pode andar em descompasso com a política de Lula. Os aumentos nos combustíveis e o problema do BC servem apenas para impedir que a política de Lula, de desenvolvimento nacional, possa ser estruturada.
Fernando Haddad tem papel fundamental na política do governo, e a burguesia sabe disso. Por isso, busca impulsionar o ministro para uma política neoliberal, uma continuação em dada medida daquilo que já era feito pelo regime golpista. É preciso dar um basta nisso, a política econômica que os trabalhadores votaram é a de Lula, de desenvolvimento nacional e em franca oposição à burguesia golpista e neoliberal.