Faleceu nessa quarta-feira, 22 de fevereiro, um dos mais antigos e autênticos representantes do samba paulistano: Germano Mathias.
Quem já teve o prazer de assistir a um show de Germano pôde sentir a energia e a musicalidade desse paulistano que nasceu no bairro do Pari, no centro da cidade de São Paulo. Seu batuque na tampa de uma lata de graxa era impressionante, bem como sua capacidade de imitar perfeitamente com a voz o som de uma cuíca.
Germano Mathias frequentava o samba dos engraxates, na Praça da Sé, lá pelos idos de 1950. Seu convívio com a malandragem, seu trabalho de camelô, ou de marreteiro, vendendo pomada e sabonete contra coceira, faz dele um desses personagens que facilmente encontraríamos em algum conto de João Antônio. Uma coisa é ler as páginas de Malagueta, Perus e Bacanaço; outra, bem diferente, é ter diante de si alguém que é a própria representação daquela antiga São Paulo.
Carreira
Em uma entrevista, Germano disse que um amigo das rodas de samba falou para ele que em ‘em vez de ficar fazendo isso de graça pros outros (cantar sambas) deveria procurar ganhar algum dinheiro. Foi assim que se apresentou em um programa de calouros, em 26 de outubro de 1955. O programa, da extinta Rádio Tupi, se chamava À procura de um astro, e Germano foi o vencedor concorrendo com mais de trezentos calouros.
Apesar de seu brilhantismo, seu samba no pé e irreverência, Germano ficou durante décadas no ostracismo, algo muito comum na música brasileira, especialmente entre aqueles que vivem do samba, essa expressão popular.
Seu samba sincopado, sua tampinha de lata, felizmente, foram recuperados e esse sambista é marca que não se apaga da história do samba.
Ouvir a interpretação de, por exemplo, No Morro da Casa Verde, de Adoniram Barbosa, na voz de Germano era uma grata sensação porque se estava diante de alguém que viveu aquela realidade, havia nele a verdade.
Silêncio, é madrugada
No Morro da Casa Verde, a raça dorme em paz
E lá embaixo, meus colegas de maloca
Quando começa a sambar não para mais
Silêncio
Silêncio, é madrugada
No Morro da Casa Verde, a raça dorme em paz
E lá embaixo, meus colegas de maloca
Quando começa a sambar não para mais
Valdir, vai buscar o tambor
Laércio, traz o agogô
Que o samba na Casa Verde enfezou
Que o samba na Casa Verde enfezou
Silêncio.