Neste 24 de fevereiro, quinta-feira, completa um ano da operação militar especial russa na Ucrânia. Como se comprovou, é uma guerra por procuração da OTAN contra a Rússia na qual os ucranianos estão servindo como bucha de canhão. Esse conflito colocou diversos países europeus em uma situação delicada. Um dos mais prejudicados é a Alemanha, a principal economia da União Europeia.
A pergunta mais lógica a ser feita é: se o conflito prejudica a economia europeia, por que não se trabalha em função de um cessar-fogo em vez de se mandar mais armas para a Ucrânia? A resposta é simples. O país mais forte do bloco imperialista, os Estados Unidos, estão obrigando os países secundários mandarem armas e recursos para alimentar a guerra.
O imperialismo é uma ditadura que os EUA governam com mão de ferro.
No primeiro momento, toda a atenção esteve focada na questão da Rússia, pois o país tem um território gigantesco e é o maior exportador mundial de gás natural. Um dos projetos das grandes potências é dividir o país em porções menores para poder controlar seus enormes recursos naturais. No entanto, aos poucos, ficou claro que um dos alvos da política externa americana é também a Alemanha, um forte concorrente e, podemos dizer, a Europa como um todo. Uma guerra que se generalize no continente o colocará de joelhos diante dos Estados Unidos.
No início do conflito, o imperialismo impôs uma série de sanções contra a Rússia, impedindo a venda de gás e petróleo para o continente europeu. A economia russa sofreu um impacto, viu o rublo despencar. Pouco tempo depois, conseguiu vender seu gás e petróleo para Índia, China e outros países africanos. A moeda russa voltou rapidamente a seu patamar anterior e até se valorizou. Os preços dessas commodities subiram ao ponto de a Rússia conseguir lucrar mais e produzindo menos.
Gás barato
A energia barata que países como Alemanha, Itália, dentre outros, compravam dos russos estava sendo um fator decisivo para manter a indústria competitiva e essa commodity se tornou vital para a Europa. O veto à compra de gás está trazendo enormes prejuízos para a Alemanha. Lembrando que o gás não é utilizado apenas para movimentar a indústria, como também para o aquecimento residencial. Vital para os europeus que costuma ter invernos rigorosos.
Segundo dados publicados no sítio da Sputinik, o presidente do Instituto Alemão de Pesquisa econômica, Marcel Fratzscher, teria declarado que “a guerra e a explosão nos custos de energia custaram à Alemanha quase 100 bilhões de euros”. O país já desembolsou US$ 106.7 bi e os gastos estão relacionados com o aumento no custo da eletricidade.
Segundo Fratzscher, “A guerra na Ucrânia e a explosão associada nos custos de energia custaram à Alemanha quase 2,5%, ou 100 bilhões de euros [R$ 551,57 bilhões] em produção econômica em 2022”. No entanto, a tendência dos preços e continuar aumentando, uma vez que os EUA e a UE continuam a fornecer armamentos para a Ucrânia e o conflito não parece ter um fim tão próximo.
A Alemanha baixou sua expectativa de crescimento para este e para o próximo ano, ´pois sua economia, assim como a da Itália, dependem muito do gás russo. O bloqueio do gás russo fez com que em 2023 se deva pagar 40% a mais do que se pagava em 2021.
Crise social
Os países europeus estão passando por sérios problemas devido às sanções que estão tomando contra a Rússia. A falta de combustíveis, com seu aumento correspondente, tem levado à diminuição de produção e aumento no custo de vida e da pobreza. Na França a classe trabalhadora está saindo às ruas para enfrentar o governo Macron. Na Alemanha existem inúmeros protestos. Podemos citar como efeito da crise europeia as quedas de dois governos no Reino Unido (Boris Johnson e Liz Truss) e também na Itália (Mario Drahgi), todos em 2022.
Olaf Scholz, chanceler alemão, em sua recente visita ao Brasil, solicitou o envio de munição para tanques para a Ucrânia, mas o governo Lula recusou, alegando que mandar munições seria o mesmo que entrar na guerra. A decisão repercutiu mal para o governo dos Estados Unidos, que está pressionando para que os países da América Latina ‘calcem os sapatos da Ucrânia’. Temos razão para pensar, no entanto, que, secretamente, Scholz tenha ficado feliz com a negativa do governo brasileiro.
Correndo por fora
A crise entre Rússia e Ucrânia pegou o imperialismo em um mau momento, pois este, há pouco, havia perdido a guerra no Afeganistão. As sanções também não surtiram o efeito esperado, podemos dizer que o tiro quase saiu pela culatra.
Enquanto isso, os BRICS estão se movimentando, Brasil e China pretendem montar um clube de países – excluindo EUA e UE – para negociar a paz, mais uma pressão contrária aos planos do imperialismo que pretende continuar a guerra. Prova disso são as declarações do ex-premiê israelense, Naftali Bennett, dando conta de que os Estados Unidos sabotaram todas as tentativas de um acordo de paz entre Ucrânia e Rússia.
O fortalecimento dos BRICS é outro problema para o imperialismo, o mais importante diplomata chinês, Wang Yi, está em viagem de visita na Rússia e diz ter um plano para a paz. Ao mesmo tempo, esses dois países anunciaram que farão, junto com a África do Sul, exercícios marítimos militares para, segundo eles, melhorar a segurança da navegação comercial. Seja como for, todos sabemos que exercícios militares são sempre demostração de força.
O Brasil já demonstrou sua prioridade em relação ao bloco, como demonstra a indicação de Dilma Rousseff para presidir o banco dos BRICS.
Classe trabalhadora se movimenta
O fator mais importante desse quadro político é a movimentação da classe trabalhadora na Europa. Em diversos países o número de greves e manifestações só faz aumentar. Existe uma clara percepção de que essa ‘guerra’ interessa apenas aos Estados Unidos. Os trabalhadores não querem pagar a crise, muito menos entrar em uma briga que não lhes diz respeito.
Caso a guerra se generalize no continente europeu, a classe trabalhadora pode entrar em um processo revolucionário. O que se vê, no momento, é um enorme descontentamento popular. Se, por um lado, a extrema-direita tem avançado, as contradições, cada vez mais agudas, têm levado esse setor, como na Itália, a posições de apoio ao imperialismo, o que pode fazer que também entrem em choque e não consigam conter os trabalhadores.