Parece um disco arranhado

Ortega não é ditador e nem aliado do imperialismo, já o PSTU…

Os morenistas tem a capacidade de defender fora Ortega em meio a investida do imperialismo contra a Nicarágua

Na América Latina apenas três países restiram a investida imperialista iniciada em 2009, com o golpe de Estado em Honduras: Cuba, a Venezuela e a Nicarágua. Estes forma uma espécie de eixo do mal latino americano, brutalmente atacado pelos EUA, a principal força do imperialismo no continente. Apesar do governo da Nicarágua travar uma luta contra o imperialismo, por meio do regime nacionalista de Daniel Ortega, o PSTU segue atacando o presidente por suas medidas que eles consideram ditatoriais. Foi o que expuseram em seu sítio no artigo: “Nicarágua: Libertação dos presos políticos foi uma vitória, mas exílio mostra o caráter deste governo. Ortega é quem deve sair!”

O gancho da matéria foi a medida tomada por Ortega de exilar 220 presos políticos, nas palavras dos morenistas: “A ditadura de Daniel Ortega exilou mais de 200 presos políticos na quinta-feira 9 de fevereiro. Sem receber maiores explicações, as pessoas, entre as quais ativistas independentes, estudantes, dirigentes campesinos, sindicalistas e jornalistas, foram retirados das prisões e embarcados em um avião para os Estados Unidos.” A justificativa do governo citada pelo PSTU foi: “por incitar contra a independência, a soberania e a autodeterminação do povo, por incitar a violência, o terrorismo e a desestabilização econômica”. A Nicarágua foi palco de uma intensa mobilização golpista ao estilo dos atos coxinhas brasileiros ou das guarimbas venezuelanas, atos organizados pelo governo dos EUA, por isso muitos “ativistas independentes” foram presos.

O partido filiado a LIT-QI então analisa: “É uma manobra consciente de Ortega e típica do estalinismo: negar seu status de cidadão de um país para negar-lhe qualquer direito político. Com isso, passam a engrossar as fileiras dos exilados nicaraguenses em todo o mundo. O imperialismo e o próprio regime pretendem limpar sua imagem com esta medida, mas para nós continua sendo uma ditadura capitalista contra o povo trabalhador.” Primeiramente é estranho analisar o governo Ortega como estalinista, visto que nunca houve revolução socialista, e portanto não é um Estado operário onde a burguesia foi expropriada. O próprio texto se contradiz afirmando que o governo é uma ditadura capitalista, o que levaria o PSTU possivelmente a considerar a URSS como uma ditadura capitalista, mas esse não é o tema de nosso artigo.

Mas grande erro aqui é que os morenistas consideram haver uma aliança de Ortega com o imperialismo, são incapazes de compreender que é um governo em luta com o imperialismo. Em suas palavras: “acreditamos que faz parte de um acordo entre o regime e o imperialismo gringo para maquiar a atuação do regime contra o povo trabalhador.” O PSTU aqui ignora que sendo o único regime nacionalista que resistiu constantemente nos últimos 15 anos na América Central, a Nicarágua é o melhor país para os trabalhadores. O seu vizinho, Honduras, após o golpe de Estado, foi onde surgiram as grandes caravanas de imigrantes de milhares a dezenas de milhares atravessando o continente até os EUA devido à miséria absoluta do país. Outro dado interessante é que a “ditadura nicaraguense” possuía menos de 300 presos políticos, já na “democracia” de Boric no Chile são cerca de 5mil.

O texto então atinge o seu ponto mais aburdo: “Destacamos também a atitude hipócrita do imperialismo estadunidense, que aproveitou para celebrar a medida e dizer que é um bom sinal de Ortega. Este discurso contrasta com a realidade porque tanto o governo Trump e agora Biden, nunca deixaram de fazer negócios com a ditadura e se negaram a implementar sanções contundentes.” Para os morenistas os países imperialistas deveriam aplicar sanções em países oprimidos que são considerados ditaduras. Aqui a sua posição é idêntica à posição oficial do imperialismo, uma política ultra reacionária. A Nicarágua, um país que já é pequeno e pobre, devido a décadas de domínio imperialista, ainda deveria sofrer sanções econômicas. O PSTU se coloca contra a “ditadura sanguinária” de Ortega mas defende a ditadura mil vezes pior do imperialismo.

Aqui também é preciso discorrer sobre a tese de que o governo Ortega é uma ditadura. No abstrato, todo governo é uma ditadura, o Estado enquanto não houver um grande desenvolvimento das forças produtivas, ao nível do socialismo, é um aparato de repressão de um classe sobre a outra. Contudo é preciso analisar de uma forma menos abstrata. Como pode um pequenino país da América Central ser atacado pelo imperialismo e não ter seu governo derrubado? Só um regime muito popular baseado na mobilização dos trabalhadores teria essa capacidade. E seria absurdo chamar um regime popular como esse de ditadura, exceto se o termo perca tanto o valor que se considere todos os governos como ditaduras.

Há uma grande diferença entre Nicarágua e Cuba no entanto. Em Cuba a burguesia foi expropriada e se formou um Estado operário, o que permitiu um desenvolvimento muito maior no país do que no caso da Nicarágua. Já no país centro americano o regime nacionalista fica limitado por se apoiar também na sua burguesia. Isso faz com que o governo seja mais instável, menos apoiado na classe trabalhadora e também de certa forma que seja mais autoritário em medidas como essa do exílio dos presos. Em um Estado operário, como em Cuba, as condições de vida da população são tão elevadas, dentro do possível para realidade material do país, que se torna muito mais difícil uma mobilização golpista como as que foram realizadas na Nicarágua em 2018.

Os morenistas com sua tese absurda chegam a mesma política que a CIA: “Para conquistar a verdadeira liberdade, Ortega tem que ir, não os presos políticos. Por isso, acreditamos que temos que lutar pela queda da ditadura. Os trabalhadores e o povo nicaraguense precisam travar uma batalha heroica como o fizeram em 2018.” Aqui está uma adesão aberta ao golpismo imperialista. Foi a mesma política do PSTU em 2016 no Brasil, apoiar os atos golpistas contra a presidenta Dilma dando uma feição de esquerda, ignorando que era o imperialismo atacando o governo. Ignorando a disputa dos governos nacionalistas contra o imperialismo, o PSTU sempre termina se colocando nas palavras a favor da insurreição dos trabalhadores e na prática a favor do golpe de Estado e da ditadura imperialista.

Gostou do artigo? Faça uma doação!