Nos meses que antecederam a Copa do Mundo do Catar, no final de 2022, a imprensa burguesa no Brasil foi inundada com manchetes espantadas com o que seria um salário exageradamente alto do treinador Tite. Agora, na atual etapa da campanha pela importação de um estrangeiro para o comando da Seleção Brasileira, temos que o queridinho dessa imprensa, o italiano Carlo Ancelotti, tem salário muito maior que Tite, além de uma multa rescisória milionária junto ao Real Madrid. A questão que fica é, altos salários são um problema em geral para essa imprensa ou para gringo pode?
Como de praxe, na temporada de ataques ao treinador brasileiro as manchetes da imprensa esportiva nacional foram bastante repetitivas. Um grande número delas destacava que Tite recebia o terceiro maior salário dentre as seleções na Copa, atrás dos treinadores de Alemanha e França, respectivamente o alemão Hansi Flick e o francês Didier Dechamps. Aliás, vale ressaltar que no ranking dos 10 treinadores mais bem pagos só Qatar e Arábia Saudita contavam com estrangeiros no comando de suas seleções, justamente pela pouca tradição desses países no futebol. No caso do Brasil não é nada menos do que um vexame, faltaria só importar jogadores como fazem as seleções europeias.
Tite recebia um salário de 3,9 milhões de euro por ano, cerca de R$ 19,7 milhões. Segundo informações divulgadas pela ESPN, o salário anual de Ancelotti gira em torno de 12 milhões de euros por ano, três vezes mais do que o ex-treinador da Seleção. Somando esses cerca de R$ 67,5 milhões aos R$ 66 milhões da multa rescisória prevista no contrato atual de Ancelotti, a CBF teria que arcar com mais de R$ 130 milhões só no primeiro ano de contrato. Pode ser até que o italiano venha a receber um valor ainda maior, mas mesmo que o salário atual seja rebaixado podemos ter certeza que será superior ao de Tite. E certamente não veremos a mesma campanha contra Ancelotti.
Agora, quem é Ancelotti na fila do pão? Primeiramente, nunca treinou uma seleção. Seus títulos mais importantes como treinador, na Liga dos Campeões da Uefa, foram com times muito ricos da Europa, Milan e Real Madrid. Sua escola de futebol, o futebol italiano, vai de mal a pior, com a seleção nacional fora das duas últimas Copas do Mundo. Como já questionado aqui neste Diário, Se o Ancelotti é tão bom, por que não é campeão pela Itália? Para sair do buraco em que se enfiou, por que seu próprio país não aposta suas fichas nesse treinador que é apresentado aqui como a solução dos problemas para o futebol pentacampeão do mundo?
Em meio ao processo de estrangeirização do nosso futebol, a importação de um técnico italiano para o comando da Seleção nacional se configura como a maior das humilhações. Com tantos treinadores talentosos no Brasil, na principal escola do futebol mundial, a mais admirada e copiada da história, a CBF se presta ao vexame de mendigar a contratação de um gringo que além de não representar nossa tradição no esporte, não conhece quase nada do futebol jogado aqui dentro. E vai pagar caro, em vários sentidos, para impor essa vergonha histórica ao nosso futebol.





